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Hermê: a policial que tem como função afastar as crianças das drogas e da violência



Hermê: a policial que tem como função afastar as crianças das drogas e da violência
Hermenegilda Pierrebon Succi, de 32 anos, entrou para a PM no dia 4 de novembro 1999 e não imaginava a oportunidade divina que lhe aguardava. Depois de dois anos trabalhando na polícia, teve contato com a campanha de divulgação do PROERD- Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência e descobriu que estavam solicitando voluntários para participar. Os voluntários deveriam se enquadrar nas normas de bom comportamento, não beber e nem fumar, pois estariam envolvidos em um projeto ligado à saúde e à prevenção de drogas. Foi quando ela se identificou com o programa e viu que se enquadrava nos requisitos exigidos. “Eu acreditei muito no programa quando eu vi a apresentação dele e achei que eu tinha que me inscrever, que eu podia melhorar a condição de vida das nossas crianças”, disse a policial.

O PROERD foi criado pela polícia de Los Angeles (USA), aplicado nas escolas norte-americanas e que obteve resultados muito positivos. Desta forma, os oficiais da Polícia Militar buscaram essa idéia e trouxeram para o Brasil, há 14 anos. Em Fernandópolis o programa já vem sendo aplicado desde o ano de 2000.

Hermê, como é popularmente conhecida pelos pais e alunos, desenvolve a função de policial militar como instrutora dentro da sala de aula orientando as crianças.”Durante o período escolar eu sou a policial Hermê, instrutora do PROERD, que vai às escolas trabalhar com os alunos das quartas séries, mas nos finais de semana, quando há escala extra, eu desempenho a função de militar normalmente, vou trabalhar nas ruas, abordar as pessoas, fazer autuações. Tem que ser profissional”, explicou.

“O PROERD, até o ano passado, tinha uma aplicação diferente da atual versão. Nós trabalhávamos com 17 lições e cada lição era passada em uma hora/aula durante a semana. Atualmente a grade de ensino foi alterada, o que pessoalmente acho que ficou muito melhor, porque agora as crianças é quem dão as respostas para nós, instrutores. Vamos para a sala de aula munidos com o livro do estudante, que é distribuído para todos os alunos, e este livro contém 10 lições, que falam de assuntos como alcoolismo, cigarro, auto-estima e valorização dos amigos. Com esses conteúdos, os próprios alunos vão dando as respostas e nós descobrimos o que eles pensam sobre os temas propostos. Então eles contam coisas da família deles, dos visinhos e tudo isso serve para discutirmos os temas dentro de sala de aula, para que dessa forma possamos conseguir aumentar o conhecimento deles sobre a realidade”, disse Hermê.

O PROERD é um programa educacional de prevenção às drogas e à violência que tem como intuito fazer com que as crianças tenham conhecimento dos efeitos prejudiciais à saúde que as drogas podem causar a elas. “Sempre deixamos bem claro que onde há drogas, há violência, porque não tem como existir droga e não ter violência. Em 98% dos casos onde tem violência também tem drogas. Essa droga pode ser o álcool, o cigarro, a maconha, enfim, todas as outras drogas ilícitas também”.

Hermê explica que em Fernandópolis eles são em dois instrutores, ela e o policial Bauabi. “Nós estamos capacitando este semestre, só em Fernandópolis, uma média de 1000 crianças. Já no primeiro semestre do ano, nós fizemos as cidades englobadas pelo 16º Batalhão da Polícia Militar, que foi desde Santo Antonio do Viradouro, até o Arabá. Então, neste ano, tivemos ao todo uma média de 2200 crianças capacitadas pelo PROERD. Dessas 2200 crianças que aplicamos o programa, se 10 não se envolverem com nenhum tipo de droga e tiverem uma vida saudável, pra nós já será super gratificante”.

Sempre tem fatos que emocionam muito os instrutores e em todas as salas de aulas tem histórias que chamam a atenção. “Um aluninho de uma escola da periferia está com o pai e a mãe presos (emoção) e ele mora com a avó. As coisas que ele conta, que a gente vai falando dentro da sala de aula, são todas relacionadas por ele com a sua família. E ele não tem vergonha nenhuma de falar que os pais estão presos. Ele falou que não quer ser como os seus pais porque ele quer ter filhos, casar, trabalhar e quer cortar cana para ganhar dinheiro para que possa comprar presente de Natal para os seus filhos, porque ele...”, conta Hermê muito emocionada, com lágrimas nos olhos.

O PROERD é um programa diferente e só o fato de ter um policial fardado dentro da sala de aula já chama a atenção dos alunos. Hermê diz que a presença de um policial não os inibe em nenhum momento. “Em todas as escolas, sejam elas estaduais, municipais ou particulares, o contato que nós temos com os alunos é o mesmo. Nós demonstramos bastante carinho, atenção e mostramos para eles que a polícia não serve só para quando acontecem coisas ruins. Mostramos que também somos amigos e que eles podem contar conosco, até mesmo porque em um momento de necessidade, será para nós que eles vão telefonar”.

Os alunos fazem festa, cantam, brincam e se por algum motivo os instrutores do PROERD não puderam comparecer ao treinamento, eles perguntam o por quê, ligam no quartel para saber porque não foram. Enfim, o convívio entre alunos e policiais é muito bom e o retorno que ambos têm é maravilhoso.

“Não é fácil trabalhar com crianças, até porque temos muitos alunos por sala de aula. Algumas delas chegam a ter 39 alunos. Quando deito na cama para dormir eu agradeço a Deus por todas as oportunidades que tive durante o dia e então eu durmo com a sensação do dever cumprido”. Assim é a vida de Hermê: conduzir as crianças para um mundo melhor e, mais do que isso, mostrar para elas o valor que a vida tem e o valor que temos perante a vida.