O fenômeno gripal coronavírus mudou radicalmente a rotina do comércio e da vida das pessoas em Fernandópolis. Se antes, elas tinham a liberdade de ir e vir, se reunir com amigos ou familiares e trabalhar sem nenhuma restrição, agora têm que se adaptarem aos novos tempos.
O isolamento social adotado como medida de contenção do coronavírus, por exemplo, provocou uma corrida aos supermercados e farmácias. Por precaução, as pessoas estão estocando alimentos e medicamentos em suas residências, tanto em virtude de uma possível escassez como pela alta constante em alguns produtos.
Para a aposentada Ana Maria de Andrade, 64, “é desanimador chegar no supermercado e não ver quase nada com o mesmo preço de antes. Na semana passada comprei maçã por R$ 8,98 e hoje está por R$ 9,98 o quilo”. De fato, a alta é generalizada e muitos produtos tiveram os preços reajustados algumas vezes nos últimos 60 dias. O ovo de galinha caipira na cartela com 30 unidades, por exemplo, era comercializado num dos maiores supermercados de Fernandópolis por R$ 9,89 até o final de janeiro. A mesma cartela não sai hoje por menos de R$ 13,74 com as mesmas 30 unidades.
“Primeiro foi a carne. Agora é o ovo, o frango e quase todos os alimentos estão com esse preço absurdo. Meu salário não aumentou. Só o preço dos produtos e as minhas despesas agora que estamos isolados em casa”, disse a cozinheira Célia Regina da Silva, 37 anos. “Pelo visto, vamos morrer de fome. Mas não é por falta do produto, e sim, por falta de dinheiro mesmo”, concluiu.
Segundo a FGV – Fundação Getúlio Vargas – essa demanda elevou o preço dos produtos alimentícios no mês de março. A cesta básica subiu 1,65% na semana passada. Essa alta é percebida em dezenas de produtos essenciais na alimentação das pessoas, como os ovos de galinha que registraram aumento de 9,04% na última semana. Outros produtos como feijão e carne tiveram uma alta de 2,24% e 2,31% respectivamente.
De acordo com o economista André Braz, “além do aumento da demanda por alimentos, pois as refeições estão sendo feitas nas residências, houve aumento da estocagem de alimentos por receio de que o vírus se propague mais e expanda o período de confinamento”.
Para atender a grande demanda registrada nos últimos dias, algumas empresas estão enfrentando dificuldades para manter os preços nas gôndolas sem fazer nenhum acréscimo em virtude dos reajustes dos valores feitos pelos produtores, fabricantes e distribuidores. Para manter o preço igual ou aproximado ao que era vendido antes da grande demanda, alguns produtos estão sendo comercializados a preço de custo para que o consumidor não pague mais caro do que o preço habitual ou atribua essa alta apenas aos supermercados, vindo a interpretar como prática abusiva em tempos difíceis como esses vividos na crescente pandemia coronavírus, disse a dona de um supermercado que não quis se identificar na reportagem.
“Não quero nem pensar como estará daqui a seis meses se esse vírus não acabar. Se agora já está assim, imagine quando a gente chegar lá”, disse o trabalhador rural, Francisco Domingos da Silva, enquanto segurava o filho em uma mão e uma sacola de compras na outra.