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Leal não abre mão de exercer a cidadania



Leal não abre mão de exercer a cidadania
Sozinho, ele vale por uma ONG. É fácil encontrá-lo nos corredores do Palácio 22 de Maio ou no Paço Municipal, sempre com sua pasta abarrotada de projetos e indicações aos poderes constituídos. Mas, a militância de cidadania de Antonio Leal da Silva, um oficial de Justiça nascido em Fernandópolis há 48 anos, casado com Silvia Raquel e pai de Rosiane e Simei, não fica por aí: é uma liderança respeitada em sua igreja, participa ativamente de movimentos populares, é filiado ao PTB, líder de classe. Leal está sempre sintonizado com os assuntos de relevante interesse para a cidade. Ainda nesta semana, ele protocolou na prefeitura uma proposta de criação da delegacia de polícia participativa, projeto experimental que tem apresentado bons resultados em algumas cidades paulistas. Na entrevista, ficará fácil perceber o entusiasmo de Leal com as coisas de Fernandópolis.

CIDADÃO: De alguns anos para cá, você tem se notabilizado por apresentar muitos projetos ao Executivo e ao Legislativo. Por que você tomou essa iniciativa? Sente falta de maior atuação dos vereadores, por exemplo?
LEAL: Sim, não só dos vereadores como do próprio Poder Executivo. Comecei a enviar esboços de projetos e indicações quando cursava Direito. Na ocasião, fiz uma reivindicação ao deputado Campos Machado, pedindo a instalação do Serviço de Anexos Fiscais em Fernandópolis, que havia sido criado em 1987, mas não fora instalado. Daí em diante, eu me senti na responsabilidade de continuar com esse trabalho de passar, digamos, informações ao Executivo e ao Legislativo, sobre alguns projetos e idéias de que tenho conhecimento e que eles, eventualmente, poderiam não conhecer.

CIDADÃO: Dê um exemplo dessas sugestões.
LEAL: Em 29 de abril de 2005, na gestão de Rui Okuma, pedi-lhe informações sobre se haveria interesse da administração no prolongamento da Avenida Raul Gonçalves Junior, bem como na recuperação da Getulio Vargas; ainda, sobre as 300 casas do CDHU autorizadas pelo governo do Estado; sobre a Cemei do Jardim Uirapuru e o asfaltamento das marginais da Euclides da Cunha. Meses depois, enviei a Okuma sugestões sobre o trânsito caótico da cidade, bem como a idéia da construção de uma ponte entre o Ipanema e o Uirapuru, onde, recentemente, morreu afogada uma criança de nove anos. Também indiquei transporte para o campus da Unicastelo. O prefeito respondeu o ofício, dizendo que encaminhara a sugestão à Empresa de ônibus Santa Rita, para que incluísse a Unicastelo no trajeto das circulares.

CIDADÃO: E o seu projeto para a Santa Casa de Misericórdia, sugerindo que cada vez que nascesse uma criança, os pais recebessem uma muda de árvore com a incumbência de plantá-la?
LEAL: Fiz esse projeto, que foi aprovado por unanimidade pela Mesa Diretora. Houve, por parte do Legislativo, uma Moção de Apoio, assinada pelos dez vereadores. Agora, o provedor da Santa Casa combinou comigo que iniciaremos esse projeto no Dia da Árvore, 21 de setembro.

CIDADÃO: Esta semana, você sugeriu a criação da Delegacia Participativa. O que vem a ser isso?
LEAL: Esse modelo já foi instalado em Bauru, e tem por objetivo humanizar o atendimento à população, oferecendo entradas diferenciadas às partes. Do jeito que é hoje, vítima e réu entram pela mesma porta, ficam no mesmo lugar, aguardando para serem ouvidos, numa situação constrangedora. Além disso, nessa situação também ficam as testemunhas, que podem ser ameaçadas e acabar alterando seu depoimento. Nesse modelo, haverá entradas diferenciadas, com salas de espera confortáveis, e ainda haverá acompanhamento social, psicológico e jurídico, já iniciado no pré-atendimento.

CIDADÃO: Nos últimos anos, tem sido possível constatar que vários segmentos da sociedade acabam por se manifestar, seja na política, seja junto aos poderes, para reivindicar certas ações, talvez porque a cidade esteja carente nesses setores. Há muita gente pessimista em relação ao futuro da cidade. Você vê perspectivas de mudanças no quadro político de Fernandópolis, a partir das próximas eleições?
LEAL: Eu acredito, sim, até porque tenho o pensamento de que é preciso renovar o quadro político do município. Além do mais, o povo pede isso, o povo pede o novo – tanto no Executivo quanto no Legislativo. Precisamos de renovação, inclusive de mentalidade. Acho que o eleitor vai analisar essa questão profundamente – e não só o nome do candidato a prefeito quanto o do vice, já que por duas vezes consecutivas, o vice acabou assumindo na cidade. Ou seja, é preciso analisar também a competência do candidato a vice, para não passar o que estamos passando. Enfim, há condições de mudar essa situação de inoperância dos poderes. Poderemos recuperar o tempo perdido, mas isso tem que vir através de renovação.

CIDADÃO: Evidentemente, essa renovação passa pela Câmara, e esta tem a possibilidade de voltar a ter 17 vereadores, ou mesmo 15. Se aumentar o número de vereadores, será bom ou ruim?
LEAL: Acho ruim. Além do aumento de gastos, tem a questão do coeficiente partidário. Os partidos de Fernandópolis têm tido muita dificuldade para apresentar uma chapa de candidatos, o que acaba provocando coligações muito menos por afinidades político-ideológicas do que por interesses burocrático-eleitorais. Acho que dez está bom.

CIDADÃO: Você é filiado ao PTB? Qual é a sua ligação com o presidente estadual do partido, o deputado Campos Machado?
LEAL: Sim, sou filiado. Minha ligação com o deputado sempre foi boa, inclusive também fiz várias reivindicações e indicações por Fernandópolis através do Campos Machado. Pedi, por exemplo, a instalação da Casa do Adolescente, que não é para menores infratores, e sim um organismo ligado à Secretaria da Saúde, que abriga adolescentes, dando assistência médico-odontológica e ministrando cursos como música e artesanato. Foram muitos pedidos, todos encaminhados pelo deputado. No dia 15 de março, apresentei ao deputado um esboço de projeto de Lei para a criação de uma Fatec em Fernandópolis, a assessora jurídica da liderança do PTB, Dra. Mônica, fez as adequações necessárias para que ele possa dar entrada. Recentemente, o professor Armando Farinazzo e o deputado federal Júlio Semeghini encaminharam requerimento ao governador Serra postulando uma Fatec (Faculdade de Tecnologia) para Fernandópolis. Foi válido, é uma tentativa política, mas o caminho certo é a apresentação de um projeto de Lei e a aprovação pela Assembléia Legislativa.

CIDADÃO: Sabe-se que você tem ligações com movimentos populares e ONGs de Fernandópolis, especialmente os que têm lutado em várias frentes de batalha. Você também tem militância religiosa. Dito isso, pergunto: você acha que será dessa espécie de “frente de camadas médias” que sairão as novas lideranças encarregadas de fazer a renovação que a população aguarda?
LEAL: Acredito que sim, porque nas camadas mais humildes, além da honestidade, há muita capacidade e inteligência política, há muita criatividade. Aí está a solução: gente criativa, ousada, corajosa. Veja o que a elite tem feito com a população carente: cobra preços altíssimos pelo asfalto, quando o cidadão mal consegue pôr comida na mesa. Isso, quando se sabe que há mil maneiras de se obter verbas para asfaltamento a fundo perdido, basta ter competência. No ano passado, foram usados apenas 50% das verbas a fundo perdido. É preciso ir lá, pedir, insistir, apresentar projetos. O asfalto poderia ser de graça. As pessoas que estão no poder não têm sensibilidade para com os interesses populares. Membros do nosso grupo, sem qualquer vínculo ou contato com o poder público municipal, já conseguiram verbas através de parlamentares para que fossem feitas melhorias nos seus bairros, proporcionando melhores condições de vida para a comunidade. Um prefeito tem que fazer um governo de coalizão, criando o conselho municipal de administração constituído pelas lideranças municipais, já que temos grandes nomes; deve formar também um conselho de administração dos bairros, ligando-os à administração, e viabilizar o progresso dando suporte às grandes causas, como, por exemplo, o Porto Intermodal, que se dependesse da administração atual estaria parado ou nem existiria. Ele só caminha pelo trabalho de gente denodada como o Carlos Lima, uma pessoa que tem grandes e importantes projetos para a cidade. Respondendo à pergunta, vejo boas perspectivas para 2009, dependerá da consciência da comunidade na hora da definição.