A família de Luiz Vicente Giachetto esperou mais de duas décadas para ver o homem que matou o chefe da família sentado no banco dos réus. Na próxima quarta-feira, dia 16, às 9h30, Mauro Marçal Borges, acusado de matar Nenê, como era conhecido, com cinco tiros e ainda passar com o carro sobre seu corpo, vai se sentar no banco dos réus da sala do júri da Comarca de Fernandópolis.
A história começou algum tempo antes daquele fatídico 24 de maio de 1987. O comprador de bois Mauro Marçal Borges havia contraído uma dívida de Cz$ 1.500.000,00 (calculada hoje em R$ 260 mil), representada por títulos de crédito, que assinou em favor de Giachetto.
Segundo consta, após o vencimento da dívida e de várias tentativas de recebimento, Borges teria chamado Nenê até a Fazenda Santo Antonio, onde, segundo disse, iria finalmente saldar o débito.
Lá, Nenê teria exigido que Borges fizesse o pagamento imediatamente em dinheiro ou em bovinos. A discussão azedou, os dois teriam entrado em luta corporal e Borges disparado contra o produtor rural.
O SOL POR TESTEMUNHA
O crime não teve qualquer testemunha. Só Borges sabe o que realmente aconteceu aquele dia na Fazenda Santo Antonio. Há poucas semanas, ele e seu advogado, o criminalista Ricardo Franco de Almeida, fizeram valer seu direito de não comparecer à reconstituição do crime, que por isso foi cancelada.
Uma bolsa de propriedade de Nenê, contendo os títulos de crédito, desapareceu. O advogado assistente de acusação, Aparecido Carlos Santana, enfatiza que a bolsa foi levada por Borges e jogada em um lago com profundidade de 20 metros. A intenção era destruir as provas do crime. Essa bolsa acabou sendo encontrada por pescadores sob as águas da Ponte do Ribeirão Marinheiro, que fica no itinerário percorrido por Borges na fuga em direção à cidade de Palestina.
No momento em que foi preso, em setembro passado - em cumprimento de mandado de prisão expedido em 3 de maio de 2007 pelo juiz Heitor Katsumi Miúra, da 2ª Vara Criminal de Fernandópolis - Mauro Marçal Borges, que residia em Coronel Sapucaia, no Mato Grosso do Sul, não esboçou reação. Ao ser abordado pela polícia, alegou que o crime já havia prescrito em 24 de maio daquele ano - 2007.
Borges estava enganado: os vinte anos da prescrição do jus puniendi só se completariam em 2013, já que a decisão judicial de pronúncia do pecuarista no artigo 121, parágrafo 2º, inciso I do Código Penal foi publicada no dia 6 de janeiro de 1993. Dessa forma, a contagem do prazo ocorre a partir da pronúncia, e não da data do crime.
O segundo filho de Nenê, Silvio, hoje com 32 anos, reflete o pensamento da família. Não queremos vingança, mas queremos que seja feita Justiça, ou seja, que ele (Borges) pague o sofrimento que causou a todos nós e pelas dificuldades que criou para nossa mãe, que manteve nossos estudos com muito suor e lágrimas, disse.
Mauro Marçal Borges pode pegar até 30 anos de prisão. A sessão do Tribunal do Júri será presidida pelo juiz Vinicius Castrequini. Aparecido Carlos Santana será o assistente de acusação. Ricardo Franco de Almeida, o advogado de defesa.