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Marcos Vilela, o “sonhador” que luta pelas crianças



Marcos Vilela, o “sonhador” que luta pelas crianças
Há 13 anos, diante da doença grave do filho recém-nascido – e da solidariedade que recebeu de amigos, vizinhos e até de desconhecidos – Marcos Vilela fez um juramento: iria se dedicar ao trabalho voluntário junto às crianças carentes de seu bairro, o Jardim Brasília. Anos depois, havia crianças de praticamente todos os bairros da cidade no seu projeto, que batizou de “Os sonhadores”. Ao lado de alguns companheiros, e com o apoio de autoridades como juízes e promotores da Comarca, ele viu seu intento realizado. Aos 42 anos, Marcos, que é casado com Isa e tem o filho Guilherme hoje completamente curado, teve seu trabalho reconhecido por uma feliz iniciativa do vereador Pedro Ribeiro de Toledo Filho, que lhe conferiu a “Medalha 22 de Maio”, a ser entregue na próxima quinta-feira, em sessão solene na Câmara. Uma justa homenagem a um homem humilde que ousou sonhar.

CIDADÃO: Como começou o projeto dos “Sonhadores”?
MARCOS: O projeto começou há sete anos. Meu filho Guilherme nasceu com uma atresia de esôfago. Com dois dias de vida, ele já fez a primeira cirurgia no Hospital de Base de São José do Rio Preto. Na época eu passei muitas dificuldades e descobri a importância de ser voluntário. Eu fiz um propósito no meu coração: “quando meu filho ficar bom, eu serei um voluntário, vou ajudar o próximo”. Isso porque eu estava chegando ao fundo do poço, e comecei a receber ajuda, apoio, cestas básicas de gente que espontaneamente se propunha a ajudar. Aquilo me comoveu e entendi a importância do trabalho social voluntário, ao ver a ação daquelas pessoas. Depois de 3 anos e 8 meses alimentando meu filho por sonda, ele começou a se alimentar por via oral. A partir daí comecei a levar algumas crianças do meu bairro, o Jardim Brasília, três, quatro crianças, ia até o Ginásio Beira Rio e lá dava o esporte, chegava em casa e fazia alguns lanchinhos para eles. De três crianças, fomos para 15, com o mesmo objetivo: tirar eles da rua através do esporte. E desses 15 pulamos para 20, nessa época eu já estava com 25 a 30. Além do esporte, acompanhava também na escola. Se o garoto não tivesse notas boas era suspenso do projeto por um ou dois dias. Nesse intervalo, há dois anos e meio, eu encontrei com o Dr. Evandro Pelarin para dar uma palestra sobre o caminho bom e caminho ruim. Ele me atendeu muito bem, humildemente, que através dessa palestra, conhecendo essas crianças, ele se apaixonou, posso dizer isso, que ali ele começou a ser um voluntário junto comigo. E até então, esse trabalho não sai na mídia, mas todo mundo prestava atenção nessas crianças no Beira Rio e passamos a ter mais voluntários.

CIDADÃO: Hoje vocês têm quantas pessoas que colaboram com o projeto? E quantos garotos?
MARCOS: Hoje estamos com 60 garotos. Ganhamos uma chácara de um voluntário, o Sr Devacir, que fica ali perto do aeroporto. Eu posso dizer a você que eu acendi a fogueira, e alguns gravetos chegaram junto ao projeto. Hoje posso dizer que o projeto tem o site que é www.oshonhadores.org.br, que os voluntários me doaram e também tem um cardiologista, um nutricionista, uma psicóloga, tem as frutas que eles se alimentam. Cada um coloca sua mão no bolso e ajuda a gente.

CIDADÃO: E essa idéia do mutirão da reforma de uma casa? Ao que parece, a idéia “pegou” e vocês estão dando continuidade. Como nasceu o plano?
MARCOS: Há sete anos, ou seja, desde que o projeto teve início, a gente nota que cada um dos jovens tem um sonho: um quer ser bombeiro, outro quer ser agricultor, outro agrônomo – enfim, cada um tem um projeto de vida. E o sonho conjunto, digamos assim, era o de comprar um veículo para o nosso transporte, já que tínhamos que ir a pé para o Beira-Rio, e nós chegávamos cansados. O outro projeto era reformar a casa do Ivan, um dos integrantes do projeto “Os Sonhadores”. A casa dele estava numa situação que de uma hora para outra poderia desabar sobre ele. Alguns empresários, que nos dão apoio, nos acompanharam numa inspeção e constatamos que a reforma era urgente. Um empresário me disse: “Olha Marcos, eu dou o ‘começo’ da obra e vocês dão continuidade, arrumam gente pra fazer um mutirão, mais gente pra doar material e coisa e tal”. Ele propôs simplesmente desmanchar a casa do Ivan e refazer tudo, que era realmente o que precisava ser feito. Bem, como quem tem um sonho nunca esmorece, graças a Deus, no próximo dia 22 de maio, às 13h, nós vamos inaugurar a reforma dessa casa.

CIDADÃO: Você é uma pessoa religiosa?
MARCOS: Sim. Todos têm que ter Deus no coração. Sou da igreja “O Brasil para Cristo”. No projeto “Sonhadores”, adotamos um conceito que o Dr. Evandro Pelarin, que é um dos nossos conselheiros, disse um dia: “A gente não pode olhar para uma religião só, temos é que pregar o cristianismo, falar de Deus para essas crianças”. Se essa juventude não tiver conhecimentos sobre Deus, não sei o que será do futuro deste país.

CIDADÃO: Você nasceu em Fernandópolis?
MARCOS: Sim, nasci e fui criado aqui. Minha família é bem conhecida na cidade.
CIDADÃO: Na sua concepção, qual é o destaque negativo de Fernandópolis? E o destaque positivo?
MARCOS: Acho que o destaque negativo, sem dúvida, é a falta de união política, porque Fernandópolis tem gente capacitada para realizar excelentes obras em favor da cidade e do município. Se houvesse mais união, você iria ver a diferença. De positivo, e tomando por base inclusive o nosso trabalho nos “Sonhadores”, onde, mal ou bem, fazemos um trabalho que considero importante com 60 crianças, eu diria que é a solidariedade. É uma cidade que conta com um povo muito solidário, ninguém fica sem ajuda do próximo, seja o velho, a criança carente...Quero destacar o trabalho do Dr. Evandro Pelarin, em favor do menor. Um dia essa atuação vai ser contada na história de Fernandópolis.

CIDADÃO: Por iniciativa do vereador Pedro Ribeiro de Toledo Filho, você receberá no próximo aniversário da cidade a “Medalha 22 de Maio”, que é uma honraria concedida por lei às pessoas que prestaram relevantes serviços ao município de Fernandópolis. O que isso representa para você?
MARCOS: Essa Medalha 22 de Maio, que o sr. Waldomiro Renesto criou em 1975, se não me engano, já chegou às mãos de muita gente de valor. Como integrante do grupo “Os Sonhadores”, só posso dizer que ela é de imensa importância para nós que o vereador Pedro de Toledo tenha se lembrado da gente. Essa medalha não é só minha, e sim de todos os que participam do projeto. Nós a recebemos com grande alegria no coração, porque ela é uma injeção de ânimo para todos nós. Não é tão importante para mim quanto é para o projeto. Quanto a mim, só aumenta a minha responsabilidade. O reconhecimento da sociedade é fundamental. Aproveito para conclamar todos a fazer algum tipo de trabalho social, num canto ou no outro. É preciso tirar as crianças da rua.

CIDADÃO: Um homem simples como você, modesto funcionário estadual que dedica praticamente todas as horas livres ao desenvolvimento humano, deve se sentir muito bem consigo mesmo, não é? Quando você vai dormir, o que passa pela sua cabeça?
MARCOS: Eu me sinto muito feliz. Às vezes até perco o sono (Marcos fica emocionado) Às vezes não durmo porque fui obrigado a disciplinar algum aluno naquele dia, porque a diretora de uma escola me ligou para contar que este ou aquele garoto fez algo errado. Eu suspendo o garoto por dois ou três jogos, mas depois fico pensando: será que tomei a decisão certa? Enfim, a gente faz isso porque gosta deles, e no futuro com certeza esses meninos vão lembrar de mim, do Marcos, voluntário do projeto “Os sonhadores”, que provavelmente fez alguma coisa boa por eles.