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Maurílio assume “prova de fogo” na administração pública



Maurílio assume “prova de fogo” na administração pública
Houve quem – principalmente entre seus amigos – torcesse o nariz para o desafio que o advogado Maurílio Saves, 48, decidiu aceitar na semana passada. O ex-vereador será o substituto de José Poli no departamento jurídico da prefeitura. Na verdade, Maurílio será mesmo um articulador, uma espécie de chanceler de Ana Bim junto aos vereadores e à comunidade política e empresarial. O vereador Chico Albuquerque, ironicamente, lhe desejou boa sorte na última sessão da Câmara (Maurílio estava presente), mas vaticinou que o exercício da função poderá enterrar sua carreira política. Nesta entrevista, o advogado garante que não tem medo, que gosta de desafios e é possível reverter a grande pasmaceira que ronda Fernandópolis.

CIDADÃO: Se não estou enganado, você foi vereador durante 22 anos. Agora, você “estréia” no Poder Executivo. Qual é a sua expectativa?
MAURILIO: Gostaria de fazer um esclarecimento. Depois do pleito eleitoral, em que concorri a vice-prefeito na chapa de Armando Farinazzo, eu concluí meu mandato de vereador e decidi tirar férias da política. Esse período me fez muito bem, comecei a ver as coisas por outro ângulo. Fui um vereador combativo. Agora, a Ana Bim, minha amiga, confiou em mim e pediu que a ajudasse nas questões jurídicas e a enfrentar uma série de dificuldades que enfrenta em seu mandato, principalmente na questão da governabilidade. Há um inegável desencontro com a Câmara, e ela me chamou. Aceitei para servir a uma amiga e também porque é um novo desafio, porque, embora veterano na política, eu nunca estive no Executivo. Temos que ver a questão sobre o prisma de ajudar a cidade, e buscar a conciliação é buscar desenvolvimento. O lado pessoal tem que ser deixado de lado de lado, porque o interesse coletivo está acima do individual. Encontrei receptividade dos vereadores com quem conversei, também do presidente Ademir e do procurador jurídico da Câmara, que telefonou e me desejou boa sorte. Acho que tem tudo para dar certo. Espero que a prefeita também aceite o diálogo com os vereadores, e assim poderemos alavancar esse desenvolvimento. O comércio local tem sentido o ambiente negativo na política, muitas pessoas reclamam. Precisamos acabar com esse pessimismo. Claro que não será a minha simples presença na administração que vai mudar isso, mas vou fazer a minha parte. A prefeita é de boa índole é sensata. Creio que poderemos, com trabalho e seriedade, caminhar no rumo certo.

CIDADÃO: Na conversa com a prefeita, você sentiu vontade política de resgatar a harmonia interpoderes? Ela tem noção de que a governabilidade passa pela sintonia com o Legislativo?
MAURILIO: Ela praticamente só tem falado sobre isso. Ana quer retomar o diálogo, afinal ela é a chefe do Poder Executivo, e quer conversar com a imprensa, com os empresários, com todo mundo. Não adiante ficar cobrando do executivo, todo mundo tem que dar sua contribuição. Se cada um fizer sua parte, teremos uma cidade melhor. Estamos vivendo um momento ruim, e é exatamente agora que a prefeita precisa do apoio da comunidade, porque ninguém governa sozinho. Creia que a prefeita está imbuída desse propósito, e até pediu aos diretores que mantenham diálogo com a comunidade em todos os níveis.

CIDADÃO: No terceiro dia de trabalho, você já vai enfrentar uma situação complexa, que é a discussão da renovação do contrato com a Sabesp (a entrevista foi gravada na terça-feira, 5, minutos antes da reunião). O projeto de renovação foi arquivado na Câmara simplesmente porque a prefeitura não passou as informações solicitadas oficialmente pelo Legislativo. O que você acha disso?
MAURILIO: Naquele episódio, a Câmara agiu corretamente, a prefeita tem consciência disso. Não há reparos a fazer na medida da Câmara, que foi tecnicamente correta. Agora, a documentação está correta, a Sabesp mandou o organograma, vamos até passar isso para a imprensa. Na minha opinião, a renovação desse contrato é primordial, o município vai ganhar muito, especialmente por conta dos recursos para a reforma das avenidas Getulio Vargas e Raul Gonçalves Junior. Veja: se a prefeitura parar hoje por dez anos, e não fizer nenhuma obra, ainda assim ela não conseguirá fazer o serviço necessário nessas duas avenidas. Ou seja, a prefeitura não tem condições materiais de arcar com essa despesa, que a sabesp quer assumir caso o contrato seja renovado. Em outras cidades, já aconteceu esse tipo de parceria. Vejo com bons olhos esse projeto que a prefeita está encaminhando hoje, e que eu próprio entregarei, já que ela me fez o seu porta-voz.

CIDADÃO: Depois que entrou na política, ainda jovem, você jamais ficou de fora. Agora, durante essas recentes “férias”, você não sentiu saudades da Câmara, dos colegas, das brigas do legislativo, das negociações?
MAURILIO: Tive muitas saudades dos bons amigos que fiz na política, inclusive daqueles com quem tive alguma espécie de conflito de interesses em algum momento, como o Zé Horácio, o Dr. Francisco, a própria prefeita, com quem tive algumas divergências – hoje são todos meus amigos. A Ana me falou: “Maurílio, sei que você tem o gênio forte, como eu. Você foi convidado para trabalhar na prefeitura pelos seus méritos, mas sei também do seu temperamento”. Só que nesse tempo em que fiquei fora da política, pude refletir e amadurecer. Hoje, tomo mais cuidado com o que faço ou falo. E a Câmara, para mim, foi uma grande escola. Tem coisas que só na advocacia eu não aprenderia. Recebi ensinamentos dos prefeitos com quem trabalhei – Milton Leão, Farinazzo, Vilar, Camargo, Adilson. Mesmo quando estava na oposição, eu não fechava as portas ao diálogo, porque meu partido sempre foi Fernandópolis. Talvez seja por isso que eu tive tantas reeleições. Minha única derrota nas urnas foi nas eleições de 2004, quando era o vice na chapa do Armando. Ainda assim, tivemos uma boa resposta nas urnas, já que recebemos 11 mil votos, uma votação considerável, pois representa 25% do eleitorado do município. Sei que agora assumo uma grande responsabilidade, mas não tenho medo.

CIDADÃO: É possível retomar o desenvolvimento ainda nesta administração?
MAURILIO: Sei que não é fácil, mas não é impossível. Vamos trabalhar com seriedade, enfrentar os espinhos que sobraram, encargos terríveis que ficaram de outras administrações, casos trabalhistas, uma série de reivindicações que fazem em torno de gratificações, adicionais e outras coisas, que erroneamente se pagava no passado e que a lei não contempla. Reunimos os advogados da prefeitura para enfrentar problemas que representarão um grande desgaste político, mas vamos fazer o que é certo. Temos que respeitar o Tribunal de Contas. Veja o problema da merenda escolar: a prefeita está apenas cumprindo a lei, é doloroso, mas ela tem que agir dentro da legalidade. A Câmara cobra, exige, fiscaliza, e se ela cumpre a lei, é criticada e tem desgaste político. Só que é melhor do que agir ao arrepio da lei. Entre fazer demagogia e cumprir a lei, a prefeita Ana Bim preferiu cumprir a lei.