O jovem 37 anos Marcos Antonio Mazeti é uma metralhadora giratória quando começa a falar de seus temas mais familiares: o campo, a pecuária, o Sindicato Rural do qual é presidente. Engenheiro agrônomo formado em Paraguaçu Paulista, técnico agrícola pela escola de Monte Aprazível, Mazeti vem de família que sempre atuou no ramo de hortaliças. Casado com Graziela, pai de Gabriel e Manuela, esse fernandopolense luta agora pela causa dos pecuaristas que venderam gado ao Frigorífico Mozaquatro e não receberam a questão fará aniversário no próximo dia 3. Com a palavra, o presidente do Sindicato.
CIDADÃO: No próximo 3 de abril se completará um ano sem que os pecuaristas de Fernandópolis e região recebam o pagamento pelo gado que venderam ao Frigorífico Mozaquatro. Você tem acompanhado o caso de perto, na qualidade de presidente do Sindicato Rural. Em que pé está a situação?
MAZETI: O problema começou na época da Operação Grandes Lagos, onde o Frigorífico Mozaquatro já tinha seu proprietário Alfeu detido e no dia 3 foi dito aos pecuaristas que os pecuaristas credores não receberiam a partir daquela data. Durante esse período os produtores iam lá e não tinham resposta. Procuraram o sindicato, o sindicato, que é representante da região Fernandópolis, com sua extensão de base que abrange Pedranópolis, Meridiano e Macedônia. Nós estivemos conversando com o gerente da época lá do Mozaquatro e vimos que realmente os pecuaristas não iriam receber. O Mozaquatro estava com seus bens bloqueados. O Mozaquatro tem aí um total através da Policia Federal de bloqueio em valor de R$ 80 milhões. Nesse período nós iniciamos o contato com a família Mozaquatro e também um contato com a Justiça. O juiz Evandro Pelarin é que era responsável pelo processo. Nesse período tivemos audiência pública com o Ministério Público com parte dos pecuaristas presentes, o sindicato, trabalhadores presentes, a família Mozaquatro, tentando buscar caminhos para o pecuarista receber. Porque foi feito um acordo trabalhista onde os pecuaristas conseguiram através do parcelamento receber o valor devido. Houve sucessão, o espaço físico passou para o IFC, que arrendou, adiantou um valor em dinheiro que ficou depositado numa conta que é administrada pela Justiça e esse valor de dinheiro que foi adiantado já seria parte da recuperação inicial que foi colocada num período onde está sendo arrendado o frigorífico e também a graxaria, além do curtume em Monte Aprazível - desse arrendamento entraria dinheiro para pagar os débitos trabalhistas. Pagar o pecuarista não pode porque de acordo com a lei entram primeiro a União, o Estado, os bancos, depois os pecuaristas. Chegamos a obter do doutor Evandro a liberação de um bem, uma fazenda avaliada em 5 milhões para ser vendida e pagar diretamente os pecuaristas.
CIDADÃO: Qual é o valor dessa dívida com os pecuaristas?
MAZETI: Quase 7 milhões. Esta fazenda já acertaria 80% da dívida. A Justiça Federal enviou para a Justiça local, posição contrária a essa liberação da Justiça Estadual. Não seria da competência dela liberar porque tem uma dívida com a União. O segundo processo, o doutor Evandro com a liberação dessa fazenda, assumiu depois o doutor Heitor, tanto um como outro sempre acompanhou o processo envolvendo os pecuaristas para buscar esse caminho. Porque na visão deles, como é na nossa, para fazer funcionar essa planta frigorífica e manter o cumprido, fornecer, pegar matéria prima dos pecuaristas, precisava que os pecuaristas fossem pagos para o produtor voltar a dar crédito para essa estrutura. O IFC, como a Justiça Federal não liberou a venda da fazenda, começou a encontrar dificuldade para administrar a planta. Ele não conseguia pegar a matéria-prima, que é o boi, somente à vista e começou a buscar boi fora. Isso aumenta o custo de frete e depois de quase um ano o IFC também criou um grande numero de pecuaristas credores. Então nós temos os credores do Mozaquatro e agora credores do IFC. Foram pagos em torno de 40 pecuaristas quem tinha a receber até R$ 30 mil mais ou menos, eles pagaram, numa audiência pública que nós solicitamos e eles acertaram esse valor e ficaram de acertar até o dia 25, que já passou. O problema dos pecuaristas do Mozaquatro está dependendo da liberação da Justiça Federal. Estivemos na Corregedoria do Tribunal de Justiça de São Paulo, porque chegou em Nhandeara o processo, porque a fazenda fica no município, e o juiz e o cartório não liberam a escritura porque tem um bloqueio da Justiça Federal. Ao mesmo tempo em que a Justiça Estadual libera a fazenda para vender. Levamos em mãos esse documento, estivemos em contato com o doutor Fábio Meirelles, que marcou essa audiência na Corregedoria. Uma comissão falou com o corregedor explicando o que vem ocorrendo em Fernandópolis, porque nossa preocupação é que Fernandópolis precisa de uma planta do frigorífico que tenha credibilidade para os pecuaristas poderem fornecer os animais. A planta do frigorífico é a estrutura toda do frigorífico, o abate. Porque esse frigorífico tem autorização para exportação, o que é muito difícil de conseguir, e se não recebem não dão crédito ao frigorífico, que tem dificuldades para encontrar os animais e isso tudo cria problema para o giro da própria estrutura, afetando também os trabalhadores e vai afetar todo mundo. O que nós pedimos é apenas uma fazenda dentro de 10 de 80 milhões. Uma fazenda de 6 milhões vai resolver toda essa questão social do pecuarista, são produtores que estão pagando juros altos, fizeram compromissos e não conseguiram cumprir, tirando filho de faculdade, outro entrou em dificuldade e teve depressão, são vários casos, eles estão procurando outra atividade, você fica todo período, dois anos engordando seu boi, dá muito trabalho, quando você vai buscar um reembolso do que faz encontra esse problema de inadimplência...Na corregedoria ficamos em cima do processo, a federação acompanhou todo processo, que voltou agora para o doutor Heitor. Vamos ver se é possível liberar essa fazenda para pagamento desses pecuaristas.
CIDADÃO: No primeiro aniversário da inadimplência, o que vocês pretendem fazer?
MAZETI: Os produtores já procuraram o sindicato rural e está marcada uma manifestação para o dia 3 de abril, às 10h, em frente ao frigorífico. Vamos reunir os pecuaristas e a imprensa, passando a indignação que os pecuaristas têm com essa situação. Uma outra ação que estamos trabalhando junto à câmara setorial da agropecuária da mesa diretora da Faesp, nós já estamos levando ao conhecimento do doutor Fabio da mesa diretora a necessidade de mudança dessa lei, um novo modelo de commodities. O fornecedor da matéria-prima que gera todos os impostos, é o responsável pela geração de empregos e fica lá por último na fila. É algo que não é fácil, precisará de um número muito grande de assinaturas. O descontentamento hoje dos produtores rurais é em relação à questão de fazer um ano e estão sem correção sem nada, não sabem de que forma vão receber e o processo todo vai acontecendo, vão arrendando o frigorífico, vai todo mundo resolvendo a situação e o produtor fica sem rumo, sem condições de resolver sua situação. O que pedimos e colocamos aí nesse movimento do dia 3 é para mostrar essa indignação com a Justiça, a demora dos processos. Falo muito que o produtor é responsável pela economia, que precisa ter o homem do campo fortalecido. Você vê os políticos falando isso, mas na prática a gente vê o contrário. Hoje para manter uma atividade rural está muito difícil.O produtor tem que lidar o tempo todo com a inadimplência, se não houver apoio dos políticos, da liderança de buscar uma saída um caminho, o homem do campo corre sério risco de ir pra cidade e abandonar a área rural.
CIDADÃO: Nos últimos anos, além de ser presidente do sindicato você assumiu o cargo de diretor municipal de agricultura, do qual saiu recentemente. Nesses sete anos de administração pública o que foi possível fazer de positivo para Fernandópolis e região?
MAZETI: O produtor rural consegue produzir, encontra assistência técnica, a grande dificuldade do produtor, tirando a atual política agrícola é obter a infra-estrutura para se manter no campo. Estrada bem conservada para ele poder escoar a produção, ele também precisa de máquinas. Como a maioria das propriedades é pequena, ele precisa de assistência em cima de maquinário, precisa de trator, mutilador, ensilhadeira, terraçador. Com uma propriedade de 10, 15 alqueires é difícil manter um trator de 150, 200 mil reais. Quando nós assumimos, tínhamos um trator 275 que ficava na escola agrícola e nós tínhamos um trator só e não ficava nos cavaletes do paço municipal. Foram prefeitos Newton Camargo, Adilson Campos, o Ruy, que foi buscar investimentos nessa área de máquinas. Conseguimos colocar uma pá carregadeira e um caminhão, um trabalho junto com o conselho municipal rural e na administração do Adilson, uma pá e um caminhão que nós conseguimos colocar para atender somente dentro de propriedades rurais. Hoje nós temos três tratores traçados.
CIDADÃO: O que não foi possível fazer nesses sete anos?
MAZETI: O ponto de comercialização dos produtos agrícolas. Tivemos a central do agronegócio, conseguimos investir na feira dos produtores rurais. Antes, tínhamos a feira só aos domingos. Agora, há a feira perto da Santa Casa e a feira na avenida da Brasilândia, são novos locais para o produtor poder comercializar. Nossa grande vontade era, e isso era projeto do Ruy, fazer o mini Ceasa. Temos aí vários contatos e vamos cobrar, estamos entrando em ano político e o sindicato rural vai fazer um trabalho de cobranças de projetos e um dos projetos é esse. O sonho não morreu.