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Mercado internacional do álcool trará redenção econômica, acredita Titosi



Mercado internacional do álcool trará redenção econômica, acredita Titosi
Definitivamente, o empresário Titosi Uehara não tem muito tempo disponível. Afinal de contas, o comando de várias empresas do Grupo Arakaki – inclusive a Alcoeste, da qual é presidente – o ocupa desde que o sol nasce. Além disso, ele participa de reuniões quinzenais em São Paulo na sede da SPA – Sociedade Corretora de Álcool -, onde atualiza as informações e amplia sua visão do mercado; é membro do conselho da Santa Casa de Fernandópolis, cuida de suas propriedades rurais, dedica atenção à família. Aos 67 anos, Titosi mantém o mesmo ritmo de 10 ou 20 anos atrás. Nesta entrevista, ele comenta as perspectivas de mercado para a fonte de energia renovável – o álcool – que o Brasil sabe produzir como ninguém, e diz o que almeja para a Fernandópolis do futuro.

CIDADÃO: A usina Ouroeste tem previsão de entrada em funcionamento em abril de 2008. Isso se cumprirá ou existe algum atraso no cronograma?
UEHARA: Vai se cumprir rigorosamente. As obras estão caminhando dentro do cronograma que foi estabelecido. Nós queremos iniciar os testes da usina em abril para começar a moer com todo vapor em maio.

CIDADÃO: A nova unidade de Ouroeste está licenciada para processar até 3 milhões de toneladas de cana. Qual será a produção inicial?
UEHARA: Realmente, a licença autoriza o processamento de até 3 milhões de toneladas por ano. Vamos iniciar com 1 milhão e trezentas toneladas, produzindo aproximadamente 85 milhões de litro de álcool e 60 mil toneladas de açúcar.

CIDADÃO: O sr. declarou certa vez que vê grandes perspectivas na produção de álcool, porque enquanto o consumo de açúcar é estável, o de álcool pode aumentar indefinidamente. Só que, diferentemente da Alcoeste, a usina de Ouroeste produzirá também açúcar. Qual é a explicação para isso?
UEHARA: Realmente o crescimento do açúcar é menor, mas temos que considerar que o álcool um produto que facilita um pouco a comercialização porque depende muito do mercado da produção mundial e há oscilações; por exemplo, para a próxima safra o açúcar apresenta boa cotação no mercado internacional; assim, nós optamos pela produção de açúcar e álcool, porque é possível fazer equilíbrio entre os dois. Por enquanto o preço do álcool não está muito bom, mas o açúcar está melhorando. Dá para fazer uma média. O álcool ainda depende de uma abertura internacional, da solução do problema logístico para poder deslanchar. Ainda deve levar de um a dois anos.

CIDADÃO O que seria mais interessante para a região, quanto à logística?
UEHARA: Para nós, acho que seria a Ferronorte. Principalmente o nosso produto, que já vai direto para Santos. Para nós fica difícil carregar na usina, levar para Iturama, descarregar lá, depois voltar até Barra Bonita, descarregar...Agora, a Ferronorte é uma opção excepcional, seria muito bom. Inclusive nós temos até planos de fazer um terminal de álcool às margens da ferrovia a partir do momento que melhorar o tráfego ferroviário, com as obras que são necessárias na ferrovia. Um alcoolduto seria excelente se passasse por Fernandópolis - seria a melhor opção. Seria não só um fator de progresso como facilitaria nossa concorrência no mercado internacional. Hoje em dia o frete fica muito caro e nós estamos ainda muito distantes da fonte consumidora e do porto de exportação. Inclusive vendemos nosso produto muito mais barato que o pessoal que produz na região de Piracicaba ou Ribeirão Preto. A ferrovia e o alcoolduto seriam soluções excelentes para nós.

CIDADÃO: Porque o governo “pisou no freio” quanto aos incentivos à produção de álcool?
UEHARA: O governo não pisou no freio – aliás, incentivo nunca houve, apenas no sentido de abrir perspectivas para a produção, mas não foi o governo, foi o próprio mercado internacional que deu uma “esfriada”, justamente por esse problema logístico. Além disso, nós ainda não temos para onde levar o álcool, no Japão por exemplo, nós não temos base lá e outra coisa: o Brasil produz um pouco mais de álcool mas não tem condições de exportar. O combustível você tem fornecer por 12 meses. Nós, do Brasil, produzimos 20 bilhões de litros e só deu para exportar 3,5 bilhões mais ou menos. Não se pode exportar mais do que isso, sob pena de faltar álcool no mercado local. A preocupação fundamental é abastecer o mercado interno, porque senão ficaremos desacreditados lá fora. Foi por isso que os produtores seguraram um pouco de álcool do Brasil, onde o consumo de álcool também aumentou muito - em torno de 40% - por causa do advento dos carros flex. O Japão não fez contato com o Brasil ainda por quê? Porque o Brasil não tem condições de exportar. A distribuição do álcool está muito centralizada. Há meia dúzia de distribuidoras aí que realmente castigam um pouco o produtor.

CIDADÃO: Como fica para o setor a questão ambiental? O setor sucoalcooleiro tem se preocupado com a questão ou há abusos?
UEHARA: O setor em si, em sua maioria, está seriamente preocupado porque se você não se preocupar com o problema ambiental e social você não vai exportar. Basta analisar as exigências européias. Então quem não se preocupar, quem não se enquadrar dentro das normas ambientais e sociais, não terá espaço na exportação. A queima da palha da cana, por exemplo, era para ser extinta em 2.030 e anteciparam para 2014. Temos um exemplo muito forte na levedura que produzimos aqui, que nós exportamos para Alemanha, França, você precisa ver as exigências deles. A levedura é para animal, mas a produção dela, o ambiente em que é produzido, é como um centro cirúrgico de um hospital, só se pode entrar com trajes adequados.

CIDADÃO: O grupo Arakaki e as empresas que gravitam em torno dele têm apoiado vários projetos sociais e destinado recurso a órgãos como o Conselho Tutelar de Fernandópolis. É uma estratégia de marketing ou filosofia das empresas?
UEHARA: Não é marketing não, nós às vezes fazemos certas divulgações, como no caso do Conselho Municipal do Direito da Criança e do Adolescente para mostra que quem paga imposto de renda pode perfeitamente usar esses recursos para canalizá-los para uma instituição benemerente. Isso pouca gente tem feito, e queremos mostrar que é possível fazer isso, assim o dinheiro não vai para o governo federal. Quando isso ocorre, você não sabe o fim que leva esse dinheiro, que dificilmente retorna à região. Enfim, fazemos algum marketing para mostrar aos outros empresários que devem fazer também. Quanto à questão ambiental nós fazemos também porque existem muitas críticas, mas as pessoas têm que ver que nós também estamos fazendo alguma coisa pela ecologia, estamos preocupados com o meio ambiente, estamos legalizando toda nossa safra também e nós vamos antecipar não para 2014, mas para antes disso, a eliminação da queima da palha da cana, e por livre iniciativa.

CIDADÃO: Faz tempo que o senhor se afastou da política, que, segundo dizem, só tem a porta de entrada. Como conseguiu fazer isso?
UEHARA: Eu não posso falar mal da política, é uma grande escola, mas não era o melhor caminho para mim. Preferi dar lugar para os outros. Além disso, tenho muitos afazeres e não posso deixar minhas atividades empresariais por causa da política, mas procuro na medida do possível contribuir para o município, embora não participando diretamente na política.

CIDADÃO: Quando pensa na Fernandópolis de daqui a 10 anos, o que o senhor vê?
UEHARA: Eu sonho com uma Fernandópolis bem mais dinâmica, um povo bem mais motivado. Nós estamos desmotivados e só vemos críticas, então espero que as forças vivas - não da comunidade, mas também dos poderes constituídos - se unam em torno do desenvolvimento de Fernandópolis para que tenhamos a cidade do nosso sonho. Desenvolvimento e empregos para os que procuram.