Fernandópolis se despede neste sábado, 3, do seu comerciante mais antigo, Manoel Marques Rosa. Ele morreu nesta sexta-feira, 2, aos 93 anos, completados no último dia 9 de julho. Ele se tornou um ícone do comércio por manter a Casa Portuguesa, na Avenida Paulo Saravalli, com a tradição das mercearias de antigamente.
O velório iniciou às 8 horas e o sepultamento ocorrerá às 17 horas.
Em maio de 2018, à véspera do aniversário de Fernandópolis, CIDADÃO esteve na Casa Portuguesa para contar a história da mercearia à moda antiga que preservava a tradição desde 1956. É a história viva da cidade preservada até os dias atuais. Veja abaixo:
Fernandópolis, 1956. Lá se vão 62 anos de uma história preservada nos mínimos detalhes. Para uma cidade que não cuida de preservar sua história, a Casa Portuguesa, no centro da cidade, é uma daquelas joias preciosas. A mercearia do senhor Manoel Marques Rosa, primo de Manoel Marques Rosa, já falecido e cujo nome denomina a avenida 8, no centro da cidade, mantém os traços originais. Um patrimônio histórico valioso que nos remete a uma Fernandópolis que não existe mais.
Um vídeo produzido pela Fecomércio – Federação do Comércio do Estado de São Paulo -, com comerciantes pioneiros de Fernandópolis, a Casa Portuguesa ganhou destaque já que o senhor Manoel, pode-se dizer, é um dos mais antigos comerciantes em atividade. A veiculação do vídeo na internet despertou a curiosidade de muitos fernandopolenses em conhecer um comércio que ficou no passado.
Ao lado de estilosa balança Filizola, de quando montou a mercearia, o senhor Manoel Marques Rosa, que vai completar 87 anos em 9 de julho, mais conhecido por “português da Casa Portuguesa” conversou com CIDADÃO, para contar sua história.
História que começou quando tinha 19 anos e resolveu deixar de Portugal. Saiu da região conhecida como Beira Baixa onde deixou a família. Veio empregado pela Dias Martins, empresa que atuava no ramo atacadista. Passou por São Paulo, Catanduva, Santa Fé do Sul até chegar em Fernandópolis para nunca mais sair.
Em 1956 montou a Casa Portuguesa que funcionou por dois anos no prédio em frente ao atual na Avenida Paulo Saravalli, a antiga avenida 5. Casou com dona Venir Verona Marques e teve duas filhas que hoje são professoras, Elizete e Eliza, que o ajudam a tocar a mercearia. Após o almoço chega um ajudante que faz entregas, utilizando uma antiga bicicleta cargueira.
Quem entra na mercearia, logo se depara com um cenário que se vê hoje apenas em novelas de época. Os moveis com verniz escuro, balcões e prateleiras com vidros que permitem visualizar os produtos, caprichosamente distribuídos. Ao fundo uma imensa prateleira na parede forma o cenário cheio de tradição.
De tudo tem um pouco. Lá é possível comprar um filtro de barro, uma panela de pressão, aviamentos, produtos alimentícios, bebidas, chapéus de palha, utensílios domésticos e muito mais. Como manda a tradição, uma casa de secos e molhados como ostenta ainda na fachada.
“Antigamente, quando a roça era forte a gente vendia muito. Hoje as vendas estão fracas”, comenta o senhor Manoel. A balança Filizzola ele garante que funciona. “Está aqui desde o início e nunca deu problema”.
Ele diz que a clientela é formada por pessoas que moram nas proximidades. Detalhe: a modernidade não chegou à mercearia. Não tem maquininha de cartão de crédito. É tudo no dinheiro. “Não dá para vender fiado”, diz o senhor Manoel.
“Logo que cheguei, gostei da cidade e aqui vou ficar até morrer”, diz. Nunca mais voltou para Portugal. Aos 86 anos, mostra lucidez para o negócio e não pretende parar de trabalhar tão cedo.
Por fim, um convite: Quer se sentir na Fernandópolis de 1956? Uma visita à Casa Portuguesa, uma mercearia à moda antiga, que resistiu ao tempo, à modernidade e aos supermercados impessoais, garante momentos fascinantes, histórico, que CIDADÃO registra com orgulho. (Reportagem publicada no dia 22 de maio de 2018, quando o "seo" Manoel tinha 87 anos)