Saúde

Movimento denuncia risco de câncer na água da rede pública



Movimento denuncia risco de câncer na água da rede pública
O coordenador do Movimento Popular Abaixo a Exploração da Sabesp, José Reginaldo Landin, fez grave denúncia na última quarta-feira, em entrevista exclusiva ao jornal CIDADÃO: o consumo da água captada através dos canos da rede pública, segundo ele, expõe a população de Fernandópolis ao risco de câncer no sistema gastrintestinal.
Landin alega que boa parte – quase 50%, calcula – dos tubos adutores da rede de água de Fernandópolis, cujos serviços, desde agosto de 1975, são de responsabilidade da Sabesp, são de cimento amianto, também conhecido como fibrocimento. O amianto, ou asbesto, é uma substância reconhecida mundialmente como altamente cancerígena.
De acordo com o coordenador, a água, ao passar quente e sob pressão no interior dos tubos, provocaria desgastes nas paredes, arrastando resíduos que seriam ingeridos pela população que costuma beber água da rede pública. Segundo Landin, mesmo o banho pode provocar dermatoses graves.
O amianto ou asbesto é uma fibra mineral natural sedosa que, por suas propriedades físico-químicas, era largamente utilizado na indústria. Entretanto, há tempos descobriu-se que essa fibra é cancerígena, o que levou os países desenvolvidos do continente americano – EUA e Canadá – a restringir significativamente seu uso.
Embora seja o segundo maior produtor de amianto do mundo, o Canadá absorve menos de 3% da produção, exportando o restante. Enquanto um americano se expõe a 100g/ano de asbesto, um canadense se expõe a 500g/ano e um brasileiro a 1200g/ano.
A ABREA – Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto – chama isso de double standard, ou seja, os países desenvolvidos buscam outras alternativas menos perigosas e proíbem a produção e comercialização do produto internamente, liberando-o, porém, para os países em desenvolvimento.
DOENÇAS
Entre as doenças relacionadas ao amianto estão a asbestose (doença crônica pulmonar de origem ocupacional), cânceres de pulmão e do trato gastrintestinal e o mesotelioma, tumor maligno raro e de prognóstico sombrio, que pode atingir tanto a pleura quanto o peritônio, e tem um período de latência em torno de 30 anos.
O governo do Estado de São Paulo sancionou em maio de 2001 a Lei 10.813, que proibiu a importação, extração, beneficiamento, comercialização e instalação de peças de amianto no estado a partir de 1º de janeiro de 2005. A lei, entretanto, não tem efeito retroativo.
AÇÃO
Landin garante que o Movimento Abaixo a Exploração vai procurar o Ministério Público e cogita a hipótese de propor ação de indenização contra a Sabesp. Essa eventual indenização, segundo ele, seria destinada à construção do hospital da AVCC.
O militante do Movimento acompanhou a reportagem até a praça Palma Mininel, no Conjunto Habitacional Emilio Mininel. Ali – numa praça pública, cuja manutenção acaba ficando mais por conta dos moradores que da municipalidade, segundo Landin – a prefeita Ana Bim cedeu boa parte do espaço para a Sabesp usar como depósito. Lá, encontram-se depositadas centenas de tubos, entre eles vários fabricados com cimento amianto.
Esses tubos, entretanto, são destinados apenas à reposição na rede de esgoto. É o que garante Antonio Carlos de Oliveira, gerente regional da Sabesp em Fernandópolis.
Oliveira discorda da afirmação de que quase 50% da rede municipal de água seria composta por tubos desse material. “Apenas no centro da cidade ainda existem algumas redes mais antigas, coisa mínima. As trocas são efetuadas aos poucos, quando apresentam algum vazamento. Nessa ocasião, substituímos por PVC, até mesmo porque não existem mais conexões de amianto, cuja fabricação está proibida”, disse.
O gerente comenta que a empresa não é obrigada a fazer a substituição, porque a lei não tem efeito retroativo. Porém, segundo ele, a troca paulatina leva à tendência de que os tubos de amianto desapareçam. “Não há motivo para alarme. Não há provas científicas de que se possa contrair câncer pela utilização em dutos desse material, utilizado no mundo todo. E a Sabesp faz controle de qualidade sério, a empresa se preocupa com a saúde pública”.
Para o médico oncologista Guilherme Oliveira Cucolicchio, responsável pelo ambulatório da Associação de Voluntários no Combate ao Câncer – AVCC – de Fernandópolis, efetivamente os estudos não comprovaram que se possa contrair câncer no trato digestivo pela ingestão de resíduos de amianto. “A literatura médica apenas comprova casos decorrentes da inalação, ou seja, pela via respiratória”, disse.
O médico lembra que a legislação exige que os trabalhadores utilizem máscaras e outros equipamentos de segurança para manipular o produto. “O acúmulo do pó de amianto nos pulmões cria maiores chances de desenvolvimento do câncer”, explica.