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O empresário que escolheu viver e investir na Brasilândia



O empresário que escolheu viver e investir na Brasilândia

O bairro da Brasilândia está comemorando 80 anos. Logo na entrada do bairro, vindo do Trevo já se avista a sede da Sgotti - Materiais para Construção, do empresário Olavo Sgotti. Aos 70 anos ele pode dizer que pelo menos 65 deles, passou na Brasilândia. Nascido em Ibirá, Olavo chegou a Fernandópolis em 1954 com seis anos de idade. Inicialmente a família foi morar em uma propriedade rural ao lado da estrada para Pedranópolis. Ali já começava a frequentar a Brasilândia, com suas ruas de terra e sem iluminação. Não demorou a vir morar no bairro e começar a estudar na Escola Carlos Barozzi. Já jovem foi a trabalhar no comércio, depois foi bancário, casou-se com Dona Laide, formou família e virou empresário, como ele diz, “por acaso”. Mas, nunca deixou a Brasilândia que aprendeu a amar. “Desde que criamos a Sgotti, sempre pensamos a loja aqui na Brasilândia. E deu certo”, diz o empresário nesta entrevista ao CIDADÃO. Ele conta que o primeiro prefeito que começou a investir na Brasilândia foi Percy Semeghini e não por acaso, o bairro virou seu reduto eleitoral. Hoje, quando a comunidade se une para celebrar 80 anos de fundação da Brasilândia, Sgotti diz que já foi cortejado, mas nunca aspirou ingressar na política partidária. Prefere atuar na comunidade como cidadão. Veja a entrevista:  

Como surgiu sua história com o bairro da Brasilândia?
Eu nasci em 1948 na cidade de Ibirá, região de Rio Preto. Vim para Fernandópolis em 1954, com seis anos de idade. Inicialmente, a gente foi morar na zona rural, próximo da Brasilândia. Meus pais eram proprietários de uma propriedade rural com plantação de café. Pouco depois mudei para o bairro da Brasilândia, e fui estudar na Escola Carlos Barozzi. E nunca mais sai da Brasilândia. 
A Sgotti Materiais de Construções nasceu aqui no bairro?
Sim, e nasceu por acaso. Logo que me formei fui trabalhar no comércio, na loja Sano Presentes e dali fui trabalhar no Banco Comind (Banco do Comércio e Indústria). Em 1980 o banco sofreu intervenção. Foi quando deixei o banco e começamos a empresa com pré-fabricados como placas, lajotas. E como o pré-fabricado tem ligação com material de construção, começamos, por acaso, vender cimento, tinta. Aos poucos foi se formando uma loja, que depois se transformou na Sgotti Materiais para Construção. 
Hoje é uma loja que virou uma marca do bairro. Nunca pensou em colocar sua loja em outro ponto da cidade?
Não, nunca pensei. Desde que cheguei aqui no bairro, minha residência sempre foi na Brasilândia. Me casei, formei minha família aqui, e continuo morando aqui. Desde que criamos a Sgotti, sempre pensamos a loja na Brasilândia. E deu certo. Como trabalhamos no banco, os que eram clientes lá, tornaram-se clientes da loja. Instalamos aqui onde estamos até hoje e virou uma marca do bairro. 
O que representa hoje essa empresa para o bairro da Brasilândia?
É um marco que movimenta a cidade, movimenta o bairro. Temos mais de 130 funcionários, são famílias que trabalham aqui e moram em diversos bairros da cidade e esse movimento converge para a Brasilândia. Isso traz o movimento para o bairro, mais os clientes que vêm aqui fazer suas compras, não só os de Fernandópolis, mas de todas as cidades da região e até de outros estados. Então, a Sgotti puxa movimento para a Brasilândia. 
O que o prendeu aqui na Brasilândia?
Quando viemos para Fernandópolis fomos morar na zona rural aqui perto. Então, a nossa chegada à cidade era pela Brasilândia. Depois, meu pai comprou uma casa e mudamos para a Brasilândia e aqui eu cresci, estudei e isso foi criando uma raiz profunda. Se bem que, quando montamos a loja, as pessoas questionavam porque a gente não ia para o centro. Mas, eu sentia que meu negócio era aqui. Foi o bairro que me acolheu, onde cresci, vivi minha juventude e todos conhecem o Sgotti na Brasilândia.
Você chegou aqui ainda menino. Como era a Brasilândia da época?
Relembrar essa época, 1954, 1956, o que posso dizer que eram poucas ruas. Onde estamos aqui, era cafezal do seu Martins. A última rua era a Rua Goiás e depois era zona rural. Não tinha asfalto, não tinha energia. Lembro-me, ainda criança, quando começaram a colocar os primeiros postes na avenida, o dia da inauguração da energia elétrica, marcado por um episódio triste, um acidente com o eletricista que foi eletrocutado. A hora que ligou a energia ele estava no poste. Foi uma história triste que marcou o início do bairro. As coisas aconteceram aqui devagar, mas o que podemos dizer é que Fernandópolis começou pela Brasilândia, então ela tem esse histórico e as pessoas que moram aqui amam este bairro, assim como aprendi a amar. Eu amo a Brasilândia.
Qual foi o prefeito que mais olhou para a Brasilândia?
Teve vários. Me lembro que a praça era bem antiga, aquele arvoredo antigo. O primeiro que começou a se envolver foi o Dr. Percy Waldir Semeghini. Ele que construiu a praça Carlos Barozzi, onde está a Igreja. Ele era muito querido no bairro. Os outros prefeitos que foram passando sempre tiveram um carinho pela Brasilândia, que também sempre elegeu vereadores como o José Akira Massuda, Ademir de Almeida, o Alípio (Felipe de Castro) e hoje o Zarolla do Sgotti e outros, que foram vereadores morando na Brasilândia e sempre traziam algum benefício para o bairro. 
E a rivalidade que existia no passado entre Brasilândia e o centro da cidade?
Me lembro, ainda adolescente entrando na juventude, que tinha essa rivalidade de bairros. Quando tinha festa na Brasilândia, eventos, vinha pessoas de outras cidades, de outros bairros e não se entendiam. Havia essa rivalidade. Chegaram a dizer que a Brasilândia era terra de índio. Isso lá em 57, 58. Tinha uma divisão, porque a Brasilândia no início era separada de Fernandópolis. Havia a avenida e no meio tinha um espaço que não era cidade. Com o tempo passando, o espaço foi sendo ocupado e hoje virou uma cidade só. Graças a Deus acabou essa rivalidade, somos uma cidade só, Fernandópolis.
Hoje, quando se começa a fazer um trabalho para resgatar a história do bairro da Brasilândia é uma forma de fazer justiça, de se dar o devido valor à Brasilândia, de Carlos Barozzi, na história de Fernandópolis?
Sem dúvida. Veja que a comunidade se uniu para celebrar esses 80 anos, contando com o apoio da Secretaria de Cultura, de Turismo. Esse trabalho traz a memória do bairro onde começou uma grande cidade. Temos que valorizar nossa história e isso passa pelo resgate da história de Brasilândia, de Carlos Barozzi e da Vila Pereira, de Joaquim Antonio Pereira, cuja união deu origem a Fernandópolis, com a vinda do governador da época Fernando Costa. Na comemoração dos 80 da Brasilândia, toda a cidade está participando porque a Brasilândia é Fernandópolis.
O senhor sempre foi um homem de comunidade e muitas vezes seu nome chegou a ser cogitado para ser candidato a prefeito. Essa história ficou no passado ou ainda tem chance de acontecer?
Sempre nos envolvemos com a comunidade, com entidades, participando de associações, tudo pensando no bem da cidade. Fui convidado várias vezes para entrar na política partidária, desde o tempo do Armando Farinazzo que me convidou para ser seu vice-prefeito, o Vilar e outros, para que fosse vereador, mas nunca tive essa intenção político partidária. Prefiro trabalhar com a comunidade, mas sem envolver com partidos políticos. Não me envolvi quando era mais novo e hoje sigo não tendo essa pretensão, por mim, pela minha família e pelo meu comércio. Prefiro a condição de cidadão fernandopolense. 
A Brasilândia deu-lhe todas as oportunidades para chegar onde chegou?
Sim, tudo partiu daqui, da amizade que formamos aqui e em toda a cidade. Começamos aqui, minha família mora aqui, meus filhos moram na Brasilândia. Aprendi a amar a Brasilândia, parte importante de Fernandópolis.
O senhor que vive aqui na Brasilândia por mais de seis décadas, sabe do símbolo que era o relógio da Igreja da Brasilândia e suas badaladas que eram ouvidas por quase toda a cidade. Não faz falta essa marca que era do bairro?
Realmente, isso marcou muito o bairro. Foi o primeiro relógio de torre de igreja desde os primórdios. Eu me envolvi muito com esse relógio que é bem antigo, instalado no tempo do Massuda. O relógio funcionou bem por muitos anos e depois começou a dar problemas. Buscamos técnicos em outras cidades, São Paulo, Paraná, para tentar consertar. Não dava certo, funcionava um tempo e parava. Hoje está parado. Era, de fato, uma marca da Brasilândia. Podia se ouvir de vários pontos da cidade as badaladas do relógio da torre da Igreja da Brasilândia. Tenho saudade e muitas recordações desse relógio. 
O que o senhor desejaria para a Brasilândia quando ela comemora 80 anos?
Temos muitas necessidades aqui na Brasilândia. Há muita coisa para ser realizada. Hoje estamos envolvido com a Praça, que passou por uma reforma há alguns anos e precisamos manter essa praça viva, atuando com a prefeitura e com a comunidade. Todos estão envolvidos no projeto de manter a praça bonita. Temos o Museu que é de Fernandópolis, sediado aqui na Brasilândia, foi a casa de Carlos Barozzi, que tem promessas para que volte a funcionar, disponibilizando o acervo para visitação. A entrada principal da Brasilândia, tem o prefeito envolvido em fazer dela uma avenida bonita, bem cuidada. Tem também a necessidade de mais comércio, indústria para que dê emprego para nossa população. O pessoal precisa trabalhar, porque tendo renda, tudo caminha. A Brasilândia precisa desse apoio do Poder Público.
Que mensagem deixaria para os 80 anos da Brasilândia? 
Esses 80 anos tem um ponto que merece ser destacado. Toda a comunidade está envolvida na festa, cada um colocando seu dom a serviço do evento. Então, a população é a marca principal da Brasilândia, um bairro pujante. Queremos toda a população de Fernandópolis unida com a Brasilândia nessa festa que celebraremos neste sábado, dia 10, com uma grande quermesse na praça para comemorar os 80 anos do bairro onde começou Fernandópolis. Estamos resgatando a história não apenas da Brasilândia, mas de Fernandópolis. Que todos continuem com os bons olhos para nosso bairro que acolhe e abraça a todos.