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O homem que encontrou na farda sua liberdade



O homem que encontrou na farda sua liberdade
“Se eu tivesse o dom de voltar no tempo e viver tudo novamente, eu tomaria as mesmas atitudes, escolheria os mesmos caminhos e seria feliz duas vezes”.

Aos 63 anos de vida, Heleno Pinheiro Anadias, aposentado há 15 anos como técnico de segurança empresarial, vive numa linda casa com uma vista panorâmica para todo o Jardim Rio Grande, junto com sua esposa Aparecida Joana, a dona “Cidinha”, a forma carinhosa como prefere ser chamada.

Esse lar comum do interior paulista guarda histórias incríveis do passado aventureiro de Heleno. Mostrando seus álbuns de fotografias, revistas e cadernos, ele conta sua história, que em nada se assemelha à mansidão da casa, do bairro, da cidade.

No ano de 1963, fez seu alistamento obrigatório no Exército Brasileiro e depois se engajou, permanecendo por dois anos. Em 66 submeteu-se a nove exames médicos da ONU e assinou um termo de responsabilidade, assumindo permanecer no mínimo um ano fora do Brasil, tudo para servir junto com o 18º Batalhão Suez na Faixa de Gaza no Oriente Médio.

Em 6 de abril de 1966 ele e 280 companheiros de farda embarcaram em três aviões Hércules C130 da Força Aérea Brasileira no aeroporto de Guararapes (Recife) com destino ao Oriente Médio. Fizeram escalas no Senegal, na Argélia e chegaram à Faixa de Gaza, na Palestina, onde Heleno permaneceu por um ano e dois meses.
Seu trabalho e de seus companheiros consistia nos plantões feitos nos postos de observações próximos da Faixa de Gaza, onde era permitida a passagem apenas de representantes da ONU. “Era surpreendente como duas terras tão próximas eram tão diferentes. Enquanto uma parecia um oásis, a outra era puro deserto”, definiu o pracinha.

Solteiro e aventureiro, aproveitava todos os instantes em terras estrangeiras e os benefícios por ser soldado das Nações Unidas. Mesmo assim, passou por dificuldades com a língua árabe.
Conheceu o trajeto de Jerusalém a Belém, o Muro da Lamentação, Palácio de Herodes, Pilatos, o Santo Sepulcro, Mar Vermelho, o museu de Jerusalém e a Manjedoura.

Em 31 de outubro de 1966, foi para Beirute no Líbano e depois para o Monte Líbano, onde pôde conhecer o segundo maior cassino do mundo daquela época. Depois foi para Damasco, na Síria, onde conheceu a igreja em que João Batista foi decapitado e as ruínas dos deuses de Baal.

O brasileiro completou 22 anos de idade a 280 km do batalhão de Suez, quando atravessou o canal até o Porto de Said que separa o Mar Vermelho do Mar Mediterrâneo.

Na quarta-feira da semana Santa de 1967, às nove horas da manhã, o 18º Batalhão da Suez deu adeus à Faixa de Gaza e retornou ao Brasil fazendo escalas em Beirute, Roma, Lisboa, Ilha do Sal e finalmente Recife.
O 18º Batalhão foi substituído pelo 19º e dois meses após o retorno de Heleno, estourou a Guerra dos Seis Dias, onde o 19º Batalhão Suez lutou pela ONU.

O soldado recebeu a Menção Honrosa que diz:
“Ao sr. Heleno Pinheiro Anadias é conferida a presente Menção Honrosa por sua exemplar conduta e marcante honestidade profissional, revelados durante o seu tempo de serviço à Pátria e a Humanidade, nas fileiras desta unidade, no Oriente Médio.

Ratâly – Egito, 15 de março de 1967.

O comandante do batalhão, Cid de Oliveira Ferreira“
Ao voltar à sua terra natal, na cidade de Belo Jardim, em Pernambuco, Heleno casou-se e enviuvou duas vezes tornando-se o único responsável pelos três filhos. Casou-se pela terceira vez, mudou-se na década de 80 para Fernandópolis e sua felicidade permaneceu até hoje. Há 23 anos está casado com dona Cidinha e cultiva uma linda família, com os filhos e um neto.