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O homem que mantém o Água Viva de portas abertas



O homem que mantém o Água Viva de portas abertas

Marcos Antonio Fontes, 64 anos, é o administrador judicial do Água Viva Thermas Clube desde 1º de abril de 2016. Vai completar dois anos à frente do clube. Entrou com missão de manter o clube funcionando, uma proposta ousada do gestor anterior Antonio Carlos Cantarela, nomeado logo após a decretação da falência do clube em 2015. “Se abandonar isso, vira sucata”, diz Fontes nesta entrevista ao CIDADÃO. Ele se recorda da situação que encontrou quando chegou no clube: não havia um centavo no caixa, funcionários desmotivados e o clube sujo. Foi então que decidiu fazer uma parceria com os funcionários. Dois anos depois, com ajuda de parceiros, se orgulha de ter conseguido manter a empresa aberta. “Falida, mas em funcionamento e com perspectivas”, lembra. Diz ainda que com mais um ano, deixa o clube em condições de vender para  um grupo que se interesse em investir no projeto. E sonha com o dia  que Fernandópolis tenha sua indústria sem chaminé, lançada em 1980,  sendo decisiva para elevar a cidade ao patamar de Estância Turística. Veja a entrevista:

O senhor vai completar neste domingo, 1º de abril, dois anos na gestão judicial do Água Viva Thermas Clube. Que balanço é possível fazer desse período? 

Logo que cheguei, percebi claramente que a empresa estava suja, os nossos funcionários não conversavam entre si. Fizemos uma reunião e decidimos limpar o Água Viva, mudar o visual do clube. Outra coisa, decidimos valorizar os funcionários, cumprimentar individualmente, dar a mão para cada um deles, perguntar como ele está, melhorar o ambiente. Com essa atitude, mostramos para os funcionários que éramos parceiro deles e que aquele patrimônio era deles e precisava ser cuidado. Eu estou aqui de passagem. Na massa falida é assim que funciona, primeiro crédito é o trabalhista, até 150 salários mínimos. Então procurei dizer aos funcionários, que todos eles, em primeiro lugar, são os proprietários disso aqui. Eu sou o gestor de passagem. Expliquei o meu objetivo que era dar sequência na massa falida, manter a empresa, o emprego para que isso seja vendido a alguém que possa tocar como aquático, porque quem assumir vai precisar desses funcionários. Agora, se for vendido para virar loteamento, não vai precisar de ninguém. Do dia 1º de abril de 2016 até hoje eu não tenho nenhuma retirada do clube como gestor judicial. Eu disse a eles: estou aqui pagando os meus pecados. A minha família diz isso, que os meus pecados estão no Água Viva. Porém, sempre digo a eles, preciso de todos. Sem os funcionários não se toca o Água Viva, porque eles conhecem o que precisa ser feito. Logo que cheguei eu disse para todos: eu conheço números. Então eu passo informação de números e vocês vão me ajudar na gestão. Por que, se falarem prá mim que deve jogar um balde de cloro na piscina num dia só, eu vou concordar, não conheço. Agora se falar que vai pegar o dinheiro da renda do dia e vai estourar pipoca com esse dinheiro, não vou deixar, porque sei manipular dinheiro. Então decidimos trocar as figurinhas constantemente. Era a única solução. 
Deu resultado essa estratégia?
Deu resultado. A decisão sempre esteve nas mãos dos funcionários. Eu sou simplesmente um matemático. Tenho uma relação de custos, uma relação de receita e mostro constantemente para a todos. Nisso tudo eu tenho tirado resultados, como por exemplo a ideia trazida pelo funcionário de mais de 10 anos do Água Viva, Rodrigo Caires, que propôs o direito de usar o Termal por 30 reais para a família. É pouco? Não, não é pouco, porque essa pessoa só vai no final de semana. Enquanto outros aquáticos são mais caros, o nosso é mais em conta. Com isso conseguimos fazer o clube funcionar, o bar funcionar e estamos sendo visto diariamente por esses valores. Outra coisa que fizemos foi abrir o clube para as instituições que têm crianças, abrindo a oportunidade para que eles possam ir ao Água Viva. Exigimos das entidades, que a cada 10 crianças, tenha um monitor. Isso tem dado resultado, porque as crianças propagam a experiência no âmbito da família e isso vai espalhando para os outros que passam a saber que por 30 reais eles podem ir lá no final da semana. Atualmente criamos uma parceria com as empresas. Já fechamos essa parceria com a Santa Casa, Sindicato dos Servidores Municipais, Frigoestrela, Supermercado Pessoto da Cida, com as prefeituras de Pedranópolis, Estrela, d´Oeste, Mira Estrela e Ouroeste, entre outras. Isso tem criado visibilidade para o clube, porém, o mais prazeroso de tudo isso é dizer que estamos com o 13º em dia, com a folha de pagamento, o nosso vale, em dia. E mais, o que queremos ainda, sempre com a Graça de Deus, é melhorar o clube. Nós compramos as telhas para reformar a Boate. Essa antiga boate vai ser reativada para ser locada para casamentos, festas, aniversários e essa receita ajudar pagar nossas contas em dia. Por que hoje ainda não temos crédito no mercado para comprar. Outra coisa boa que conseguimos no Água Viva. Com a ajuda do engenheiro, Davi Talarico, foi possível verificar a área escritural que é igual a 14,44 alqueires. Na constatação deu 15,65, ou seja, ganhamos 1,2 alqueire. Quanto custa isso? Ai tem que valer no mínimo 200 mil reais o alqueire, acredito. Então, hoje, qual é o propósito meu e dos funcionários? Manter o clube em perfeito funcionamento e já estamos também criando uma equipe de venda porta a porta para oferecer o DayUse. Segundo, regularizar a situação no Bombeiro; terceiro, reformar os tobogãs, azul e amarelo, o salão de jogos, as quadras poliesportivas com o apoio do Ireno Bim para reformar aquilo. Lá como é zona rural não passa fibra ótica para que possamos ter uma melhor internet. Mas, vamos melhorar a internet, porque sem internet ninguém quer ficar lá. Queremos criar também dentro do clube, mais pontos de vendas. Temos três piscinas no conjunto aquático. A pessoa tinha que se deslocar até o único bar. Já criamos um bar em cima. O de baixo chama Tangerina, o de cima Arara. Vamos criar um terceiro ponto de venda que é o quiosque da Kibon. Temos feito parceria com terceiros, com por exemplo, com o pessoal que comercializa água de coco natural. São coisas que precisamos implementar, criar facilidade para quem vai ao clube e estamos lutando para isso.
E o Hotel como está?
Tudo está funcionando. Não temos aquele lençol novinho, aquele colchão novinho, mas tudo que está lá, está limpo e conservado. Temos investido muito na manutenção preventiva. 
Por que o leilão do Água Viva não ocorreu até hoje?
Por que não existe um comprador efetivo. O que existe é especulação. Quando falou-se em relação aos chineses, da ZPE, nada daquilo vingou. Nós ficamos com o pessoal da ZPE lá e nem proposta houve, e sim tivemos um prejuízo de R$ 4,3 mil com a locação deles. Queremos elevar, melhorar as condições do clube, fazer tudo funcionar, para uma valorização e aí sim propor para alguém de fora comprar esse patrimônio, ou para alguém que toque o Água Viva como aquático. Vender aquilo como loteamento, eu como cidadão fernandopolense, não gostaria que ocorresse isso. 
Qual a dívida do Água Viva?
Isso me perguntam todos os dias. Olha, o passivo total do clube era R$ 14,4 milhões em abril de 2016. Hoje, não sei, porque entraram novas ações trabalhistas, mas mesmo que seja um valor de R$ 20 milhões, isso na massa falida não representa nada, porque quem comprar esse patrimônio assume o clube limpo, livre do passivo, independentemente do valor que seja adquirido. Eu é que vou administrar a venda e pagar os credores na ordem cronológica, primeiro o passivo trabalhista, depois a União, Estado, Município e por último os demais credores. O clube está avaliado em R$ 13 milhões. Vende por R$ 13 milhões hoje? Eu acho que não vende, mas o valor que for vendido será bem justo, porque é um leilão judicial. Isso tudo não me preocupa. O que me preocupa é dar sequência ao clube. Porque isso representa uma coisa que escuto há anos e entendo que está correto. O Água Viva é nossa indústria sem chaminé, como diz o jornalista Alencar Cesar Scandiuzi, da Rádio Difusora e jornal Cidadão. Olha o que Olímpia fez, o que Santa Clara fez. Aliás, o pessoal de Santa Casa tem me falado com insistência para investir na criança e no idoso, porque junto com eles vêm muito mais pessoas, famílias. É o que estamos fazendo, é o nosso objetivo, para que isso venha transformar a cidade realmente em uma Estância Turística que tanto o nosso prefeito André Pessuto deseja. Imagina o que pode ser feito naquela área, no entorno, com o aeroporto ao lado. Há muito potencial a ser explorado. 
Tem perspectiva de quando passará o bastão para alguém ou algum grupo que adquira aquele patrimônio?
Eu tinha comigo que isso fosse demorar mais do que dois anos. Eu cheguei lá sem um centavo no caixa e com aquele patrimônio em decomposição. Quando fui visitar cada fornecedor, eles diziam que era uma fria. Até em casa, o pessoal dizia que iria colocar em risco a nossa segurança. Sou cobrado por causa do Água Viva, mas tenho comigo que vou transformar aquilo num belo de um clube, vou vender para alguém que vai tocar como termal. Então, na minha concepção, mais um ano o Água Viva estará em condições de ser vendido. Tenho andado e visto o que esse pessoal tem feito. O grande exemplo prá mim está em Santa Clara d´Oeste. Nós temos 15 alqueires de área e eles têm apenas dois, mas é uma coisa linda. Só não temos um rio. 
Sempre que um patrimônio é declarado como massa falida é fechado e acaba abandonado exposto a toda sorte de depredação. Por que o Água Viva foi mantido funcionando?
Isso tem relação com o primeiro gestor, Carlinhos Cantarella. Ele foi audacioso para pedir ao juiz que permanecesse aberto, funcionando. Lastimavelmente ele não teve saúde para tocar. E Graças a Deus eu consegui dar sequência nessa ideia dele. Foi tudo muito trabalhoso, mas é prazeroso olhar depois de dois anos e ver aquele patrimônio limpo, acontecendo. Até o atendimento hoje é diferente ao cliente. Estou ali para não deixar o Água Viva acabar. Se fechar as portas, vira sucata e sucata não tem valor, ai será apenas o preço da terra. Se manter, como estamos mantendo, com a ajuda de todos, com a participação do Judiciário, do Ministério Público, da Polícia Militar que nos dá apoio, Corpo de Bombeiro, Polícia Ambiental, Poder Público Municipal, a tendência é melhorar.
O fato de termos o Thermas dos Laranjais em Olímpia e o Grandes Lagos em Santa Clara, há espaço para o Água Viva virar um empreendimento turístico de grande porte?
Acredito que sim. Hoje estamos a 150 km de Araçatuba onde tem um termal, a 200 de Olímpia e a 85 de Santa Clara. Nesse raio, se nós atendermos bem a região, vamos atrair muita gente para o clube. Temos recebido pessoas de Araçatuba, de Frutal, de Votuporanga e de muitas outras cidades. 
Como administrador judicial, acredita que o Água Viva ainda vai ser o orgulho da cidade?
Eu luto para que Fernandópolis tenha sua indústria sem chaminé. Isso é vontade dos fernandopolenses desde 1980. Vamos mudar essa cara de Fernandópolis, oferecer isso para a nossa população. Tenho convicção que isso é possível fazer. Estou lutando arduamente e peço a Deus em minhas orações para que isso aconteça.