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Óptica e a família, as paixões de Serginho Nicoleti



Óptica e a família, as paixões de Serginho Nicoleti
Aos 14 anos, Sérgio Nicoleti foi contratado para trabalhar como office boy na Ótica Moderna, do empresário José Pereira – mais conhecido com o “Zé da Ótica”. Movido pela curiosidade e paixão pela física, aprofundou-se no ramo óptico e, quando deu por si, estava diante do primeiro par de lentes fabricado com as próprias mãos. A arte de devolver a visão a quem, há tempos, não enxergava bem, fascinava o garoto, que por vezes recebia abraços e elogios de senhoras idosas que “recuperavam a visão”.

Buscando aprimorar-se, em 1970 – logo após a Copa do Mundo – mudou-se para São Paulo com sua família para fazer o curso de ótica no Senac. Sem apadrinhamento, passou três anos tentando ingressar no curso, até que um dia, um desconhecido o ajudou a conseguir uma vaga.

“Sempre consultava a lista dos inscritos, meu nome não constava. Até que um dia, um “anjo da guarda”, bateu nos meus ombros e disse: - eu vi você durante esses três anos consultando essas listas, você quer mesmo fazer o curso? Então eu disse: - quero, mas não tem jeito. Ele então anotou meu nome e disse que eu estaria na lista da próxima semana. E assim foi, não semana seguinte lá estava meu nome na lista. Novamente o desconhecido apareceu e eu pude perguntar a ele quem tinha sido o meu padrinho. Ele disse: José Papa Jr. Esse homem era o “rei das indústrias” em São Paulo, eu só o conhecia através dos jornais”, disse Nicoleti.

Para poder sustentar-se, Sérgio trabalhou em dois bancos – primeiro no banco de São Paulo e, em seguida, no Francês Italiano. Levantava às 5h30, às 7h entrava no trabalho, às 19h saia do banco, caminhava por meia hora até o Senac e, somente, por volta das 23h30 chegava em casa.

Ao concluir seus estudos, em 1974, não teve dúvidas: retornou para a carreira de óptico em Fernandópolis. Foi recebido de braços abertos pelo Zé da Ótica – que acabou virando seu sogro antes mesmo dele mudar-se para São Paulo. No ano seguinte, Sérgio se casou e dessa união nasceram três filhos: Camila, Jamile e Serginho. Mas, por força do destino, sua mulher veio a falecer - de enfarto fulminante - quando o caçula tinha ainda 12 anos. Seis meses depois, morreu o sogro, de embolia cerebral.

Mesmo sofrendo a dor das perdas, Sérgio procurou tocar a vida em frente, trabalhando na ótica - agora como sócio-proprietário - junto com o cunhado Manoel. Durante a caminhada, Nicoletti encontrou uma companheira, que também havia passado por uma história semelhante.

Arlete fora casada durante muitos anos, teve dois filhos, e seu marido morreu de câncer cerebral. A fatalidade ocorrida na vida de ambos fez com eles se aproximassem e compreendessem um ao outro.

“Eu não fico sem a Arlete, nem ela sem mim. Acho que tudo o que nós passamos serviu para valorizarmos um ao outro. Se eu digo vou pescar, ela diz vou junto, se eu digo vou ao cinema, mesmo que ela não goste do filme, vai de companhia. Acho que isso é ser um casal de verdade, não é só dizer eu te amo, é ser companheiro, é renunciar. Nós nos damos muito bem. E quando reunimos a família toda é um verdadeiro “balaio de gato”. Eu já sou até avô por tabela. Como a gente não teve tempo de curtir os filhos – pois estávamos trabalhando – agora paparicamos a neta Pietra. Dizem que os avós estragam os netos. Estragam mesmo”, concluiu Sérgio Nicoleti.