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Orquestra de Violeiros une gerações pela preservação da tradição caipira



Orquestra de Violeiros une gerações pela preservação da  tradição caipira

Figura de carisma notável e admirado por todos, Francisco Ferreira de Souza, ou simplesmente maestro Thito, coordena em Fernandópolis desde 2004 o projeto da Orquestra de Violeiros prestes a completar 15 anos. Ele é alma do projeto. Nesse momento está anunciando a abertura de inscrições para aulas de viola caipira e violão. O professor compartilha com seus alunos não apenas sua experiência artística como também os preceitos básicos da boa educação, o respeito, o cumprimento de regras e desenvolvimento social.A Orquestra de Violeiros é o projeto que abriu caminho para a formação do Centro de Tradições Caipiras de Fernandópolis. Nesta entrevista ao CIDADÃO, ele fala de um desejo que é divulgar e disseminar a cultura caipira. “A cultura caipira não é só música. Queremos também criar um grupo de catira, o Museu do Caipira para preservar a história dessa cultura que é muito rica”, diz. É com esse propósito que nasceu a Associação João de Barro – Centro de Tradições Caipiras. Veja a entrevista: 

A Orquestra de Violeiros de Fernandópolis está para completar 15 anos de existência. Conte um pouco dessa trajetória?

Começamos em 2004, então no começo de 2019 completaremos 15 anos. É um projeto onde já enfrentamos grandes dificuldades, mas de modo geral, foi muito prazeroso, gratificante, porque conseguimos formar um grupo coeso, de grandes amigos, de pessoas que amam a música caipira, a música sertaneja de raiz. Temos muito prazer em estar com essas pessoas, que apoiam, que levam os filhos. A orquestra possibilita a integração de várias gerações, de crianças, adolescentes, adultos e idosos, todos juntos por uma cultura que é a nossa identidade. E isso é fantástico.
O perfil da orquestra é de misturar gerações? Como é essa convivência?
É muito gratificante, porque a gente preserva o senso de humor para prevalecer um clima de cordialidade entre todos. E isso se dá de forma muito natural. Essa mistura de gerações é muito importante. Predomina hoje na orquestra o pessoal mais jovem, que passou a conhecer esse universo caipira e se apaixonou, gostam das músicas que falam da história e se identificam com isso, porque remete muito a nossa raiz, a uma busca de identidade, onde as pessoas se encontram.
A partir de que idade as crianças estão chegando para a Orquestra de Violeiros?
Estamos aceitando inscrições a partir dos oitos anos. Existem exceções, como o caso do Marcinho que chegou há 3 anos quando tinha sete anos. Achava muito novinho. A mãe dizia que ele gostava muito e acabou nos convencendo. Hoje o Marcinho está orquestra tocando com a gente, ele que vai completar 10 anos, faz solo na viola, canta muito bem. Então tem as exceções. 
O que te move lutar e sustentar um projeto como esse da orquestra?
Como eu morei no sul, em Curitiba, tive muito contato com a cultura gaúcha que passei a admirar. Mas, minha origem é caipira, sou de Aparecida do Tabuado (MS) e vim para Fernandópolis há 20 anos e aqui nasceu em mim esse desejo de fazer algo similar ao que fazem no sul. Lá existem os Centros de Tradições Gaúchas que resgatam e disseminam a cultura gaúcha.
Esse desejo deu origem ao Centro de Tradições Caipiras em Fernandópolis?
Exatamente. Nos espelhamos nos gaúchos, que exportam os centros até para Ásia. Você vai ao Japão e tem o Centro de Tradições Gaúchas, valorizando a música, a dança, a culinária, enfim, tudo que forma a cultura gaúcha. O nosso desejo não é apenas resgatar, porque resgatar é uma coisa que está perdida e, no caso, a cultura caipira existe e precisa ser divulgada, disseminada e cultivada.
E para isso a necessidade de apoio que nunca chegou na medida que se espera?
Lamentavelmente. Mas, a gente tem contado hoje com o apoio pessoal do prefeito André Pessuto, que tem nos ajudado. Ao longo desses anos tivemos algum apoio da prefeitura em todas as gestões, desde o Adilson Campos, quando começamos.
E para cuidar do Centro de Tradições Caipiras tem uma associação?
Sim, nós queremos diversificar isso. A cultura caipira não é só música. Queremos também criar um grupo de catira, o Museu do Caipira para preservar a história dessa cultura que é muito rica. Com esse objetivo nasceu a Associação João de Barro – Centro de Tradições Caipiras. A gente foca mais no CTC – Centro de Tradições Caipiras que é para direcionar mais no projeto.
Nesse momento o foco é o projeto da Orquestra de Violeiros?
É o projeto que está em andamento, já existe, mas na nossa cabeça temos uma série de projetos para colocar em prática.
Na Orquestra de Violeiros a gente vê a presença das meninas, também se interessando pela música raiz...
É verdade. Nós temos ai no cenário nacional a Bruna Viola que é um fenômeno da viola caipira, a Adriana Faria que apresenta o programa “Viola Minha Viola” na TV Cultura e que pertencia ao grupo musical Barra da Saia e ela é uma grande violeira. Isso incentiva. E na Orquestra nós temos várias meninas, tocando viola e cantando junto com a gente.
E como está o projeto de formação de novos violeiros?
É neste sentido que o Centro de Tradições Caipiras vem colocar o projeto da formação de novos violeiros para a orquestra. Quem quiser aprender, começar do zero, ou aperfeiçoar, estamos com a formação de novas turmas a partir de agosto. É uma oportunidade para compartilhar conhecimentos. Ensinar é meio complicado. Galileu Galilei já dizia que ‘não se pode ensinar alguma coisa a alguém, pode-se apenas auxiliar a descobrir por si mesmo’. Então, gosto muito dessa frase, quando a pessoa deseja está dentro do coração e é só colocar em prática. A gente é apenas o instrumento para que a pessoa externe isso.
Como a pessoa interessada chega até a Orquestra de Violeiro?
Estamos com os cursos de viola caipira e violão para iniciar em agosto em diversos horários a partir das 16 até as 20 horas sempre as segundas-feiras a partir de 6 de agosto. Nós trabalhamos com iniciante, intermediário e o nível avançado que é formado pelos que estão na orquestra. O nosso contato é: (17) 99752- 2229 (WhatsApp). Estamos com boa procura. Hoje na Orquestra temos de 25 a 30 pessoas na orquestra efetivamente e temos bastante gente inscrita para começar esse curso agora.
A Orquestra de Violeiros, cada vez que sobe ao palco, provoca emoções porque remete as pessoas à sua origem...
É a nossa identidade cultural que está ali. Aquilo que te faz arrepiar é genuíno, é verdadeiro no seu coração. A pessoa que escuta uma música que faz ela sentir arrepios é porque aquele sentimento é muito forte. A música caipira e a música sertaneja de raiz tem esse poder. Isso é muito forte na nossa região. No último dia 16, a gente fez o espetáculo no Teatro Municipal dentro do programa Férias com Arte, com casa cheia, graças a Deus, e teve muita gente que se emocionou, vieram falar comigo no final, publicaram nas redes sociais. E toda vez que fazemos uma apresentação, procuramos fazer uma coisa diferente dentro desse universo. Temos um repertório bastante extenso e procuramos diversificar ao máximo respeito as tradições caipira.
Qual o seu maior sonho nesse projeto?
O sonho é disseminar cada vez mais essa cultura, levando principalmente aos jovens esse respeito às nossas tradições, nossa história, levando valores para a formação dos nossos jovens, como caráter, disciplina. Esse é nosso sonho. Que o jovem venha compartilhar com a gente essa cultura.
O projeto da Orquestra de Violeiros, nesses 15 anos, ficou aquém ou foi além do que imaginava?
Eu acho que foi além. Quando começamos esse projeto, foi num repente. Na época, em 2004, o André Pessuto era da Diretoria da Cultura e ele fazia aula de viola comigo, aliás ele foi o meu primeiro aluno de viola. E na época ele até usou a expressão que queria formar um coral de violas (risos). E de supino saímos nas rádios divulgando e aos poucos fomos recebendo o pessoal e fazendo a peneira. Uns permaneceram, outros se afastaram, mas o projeto andou. Hoje praticamente todos que estão na orquestra foram formados nesse projeto e isso é muito gratificante. 
E a orquestra consegue reunir uma gama de violeiros que vai dos 9 aos 75 anos?
Exatamente. Temos lá o Marcinho com 9 anos e José Carlos Olivati com 75 anos. O que é importante ressaltar, além dessa questão da diversidade na faixa etária, temos também uma diversidade de instrumentos. Temos na orquestra a viola, o violão, temos instrumentos de percussão, temos o acordeão (sanfona). Isso cria uma riqueza de timbres sem desvirtuar a música caipira. Temos recebido vários convites para apresentação na região. Já nos apresentamos no Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e várias cidades da região.
O que faz o som da viola ser tão marcante e jamais perder o valor?
Eu creio que a viola é a representante máxima da nossa identidade cultural. Por mais que a pessoa diversifique seus conhecimentos e saberes, se afastando de suas raízes, aqueles sons e sabores que estão em sua origem falam mais alto. E o caboclo quando ouve um som de viola se arrepia e não tem jeito, está no sangue, é atávico.