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Para fazer rir e matar saudade



Para fazer rir e matar saudade

O humorista Clésio Tardelli, que completa 71 anos hoje, autor, diretor e ator do espetáculo “Zevaristo e convidados”, apresentado ontem em Fernandópolis, e que terá mais uma atração hoje, às 20h30, no Teatro Merciol Viscardi, além de fazer o público rir com causos nostálgicos vividos por seu avô, veio a Fernandópolis também com o desejo de rever familiares.

O artista nascido em Caconde/SP, possui duas tias que residem atualmente em Fernandópolis, Divelena e Gildelena que são filhas do velho Zevaristo, que motivou a criação da peça. Os familiares não se veem há 40 anos.

 Amante da música, Clésio cantou nas missas até os 16 anos quando se interessou pelo teatro. Mas se engana quem pensa que ele sempre viveu da arte. “O engraçado é que nunca pensei em ser artista, mas, sempre fui. Desde criança, porém, nunca deixei de trabalhar. Sou advogado, fui vendedor, gerente de vendas...”, diz.

 

 

 

  Em que se baseia a história de Zevaristo e convidados?

 José Evaristo Villas Boas, o popular Zevaristo era pai de minha mãe, Genny Villas Boas. Filho de portugueses começou sua vida na roça, precisamente na Fazenda do Quebra-Machado próxima à cidade de Caconde, onde nasci. Ali, ao lado do campo de futebol, Zevaristo montou sua vendinha. Uma pequena venda de beira de estrada, igualzinha a centenas de vendas de roça, mas, com uma interessante diferença: Zevaristo era um excelente violeiro. Sempre, após o jogo de futebol, a comemoração era na “Venda do Zevaristo”. Isso há 80/90 anos, quando nem existia rádio, tampouco eletricidade.

Há quanto tempo apresenta esta peça?

Há cerca de 22 anos.

Por quanto tempo você conviveu com o “Zevaristo” real?

Com o passar dos anos, Zevaristo foi para a cidade (Caconde) com sua esposa e cinco filhos, sendo minha mãe a mais velha. Em Caconde montou uma bela loja de secos e molhados “Loja Nova de José Evaristo Villas Boas”, tornando-se ali também, conhecidíssimo. Eu o conheci quando tinha uns 6 anos. Fui para São Paulo e por volta dos anos 70 minha mãe o levou para se tratar lá. Ficou em nossa casa até sua morte.

Como era o temperamento dele no dia a dia?

Alegre e bonachão. Brincava com todo mundo e estava sempre disposto a ajudar seus semelhantes. Com a morte de sua mulher, casou-se com sua cunhada tendo mais uma filha. Com a morte de sua segunda esposa casou-se com a irmã de meu pai (casado com sua filha mais velha, minha mãe Genny). Com essa sua terceira esposa, nasceram mais quatro filhos: Wilson Villas Boas, Raul José Villas Boas, Divelena Villas Boas e Gildelena Villas Boas, ambas residentes em Fernandópolis.

O senhor tem raízes em Fernandópolis. Quais seus parentes na cidade?

Divelena Villas Boas e Gildelena Villas Boas, minha queridas tias, irmãs do meu avô Zevaristo.Tias estas que não vejo há 40 anos.

 Sua esposa te acompanha nos palcos? Desde o primeiro show?

 Sempre. Porém, apenas ajudando. Depois de 14 anos juntos, o pessoal se dispersou e ela resolveu fazer comigo. Apenas ela e eu. Ficou bem mais leve, tranquilo e prático.

Com quantos e quais personagens a peça conta atualmente? Como o senhor vê a atuação de sua esposa Wilma: ela deu conta do recado em substituir os atores que saíram do elenco?

Quatro personagens. Dois cada um. A Wilma não só “deu conta”, como é mais humilde e competente.

Qual a ligação do show com o país de Portugal?

Sua origem é portuguesa, o dom musical é hereditário, daí minha homenagem com os fados.

 O senhor também é músico? Toca canções de sua autoria ou interpreta sucessos de outros artistas na peça?

Canto e me acompanho na primeira parte do show, apenas duas músicas encerrando com a última estrofe de Casa Portuguesa. 

 Dê uma dica sobre um dos famosos “causos” do querido Sr. José Evaristo.

Os “causos” acredito que não chegam a ser famosos, todavia, são muito bons e inéditos em sua maioria. Tenho o livro onde tudo começou que levarei para vocês.

 Considera sua apresentação como um stand up comedy (comédia em pé)?

 Acho meio chato falar na primeira pessoa. Participei de algumas apresentações stand up, saindo-me muito bem, todavia, prefiro meu show que é mais completo e redondo.

 A que se deve sua avidez em valorizar a cultura caipira?

Estou na sétima edição desse livro. A primeira vendeu 30 mil exemplares. Tive um contato  muito saudável com meu avô Zevaristo. Quando menino, era só eu chegar em sua loja em Caconde e ele já apanhava uma viola para cantarmos em dueto. Cantávamos todo o repertório de Cascatinha e Inhana. (Eu fazia a voz da Inhana) devido meu timbre, infantil, na época.

Qual a passagem marcante de sua vida?

Uma das coisas marcantes de minha vida além de cantar diariamente nas missas do colégio onde era interno, foi apresentar com enorme sucesso com a Equipe de João Rios “Presépio ao Vivo” durante alguns anos, na Praça da Sé, onde fazia com grande emoção e carinho, o Rei Mago Melchior. Com a morte de João Rios, grande mestre e incentivador, a direção passou para sua esposa Sandra Gaby.

 O que é preciso a um artista para sobreviver de cultura?

 Duas coisas: gostar do que faz e fazer o que sabe. O resto é consequência.

Qual o conselho daria aos jovens fernandopolenses que sonham em trabalhar com humor e/ou teatro de maneira geral?

O que posso dizer aos jovens: participar do que gosta. Se for música, entre em um conjunto. Continue sonhando, mas pratique o que gosta de fazer e defina o que quer. Pratique sempre! Em meu caso, cantei na noite em São Paulo, participei de conjuntos, fui crooner (é um epíteto dado a um cantor masculino de um certo estilo de canções populares, apelidado de pop tradicional) da Orquestra Anos Dourados por 10 anos. Fiz Teatro, voltei para Poços de Caldas e montei a boate “A Moreninha’, depois Boate Nacional com karaokê, escrevi quatro livros, sendo “A Venda do Zevaristo” meu xodó. Com o sucesso do livro montei a peça homônima e há oito anos mudei para “Zevaristo e Convidados”. O importante é a gente fazer o que gosta.

A motivação de se apresentar em Fernandópolis é maior?

Estou com 71 anos de idade e faz 40 anos que não vejo minhas queridas Divelena e Gildelena. Estou indo por elas e pelo pessoal de Fernandópolis. Gostei muito do Vic Renesto, sujeito bom, inteligente, capaz e humilde.