Saúde

Pesquisa de brasileiros sobre tratamento de AVC repercute no exterior



Pesquisa de brasileiros sobre tratamento de AVC repercute no exterior
Foto: Marcelo Casal / Agência Brasil

Um estudo feito por pesquisadores brasileiros para comprovar a segurança e eficácia da trombectomia mecânica no SUS - Sistema Único de Saúde - para tratamento de casos agudos de AVC - acidente vascular cerebral - isquêmico foi publicado pelo The New England Journal Of Medicine, uma das mais prestigiadas revistas na área da medicina. https://agenciabrasil.ebc.com.br/ebc.png?id=1309659&o=node

Resultado de uma parceria entre o Ministério da Saúde e a Rede Brasil AVC, o estudo Resilient sugere a adoção do tratamento na saúde pública do Brasil. O acidente vascular cerebral isquêmico é o tipo mais frequente de AVC e ocorre quando um vaso sanguíneo que irriga o cérebro é entupido por um coágulo ou trombo. Quando esse entupimento provoca a ruptura do vaso, o AVC se torna hemorrágico, o que ocorre em 15% dos casos.

“Esses resultados e essa publicação são muito importantes para o Brasil, porque colocam o país no cenário internacional, na revista médica mais importante do mundo", diz a fundadora da Rede Brasil AVC e vice-presidente da Organização Mundial do AVC, Sheila Martins, que coordenou o estudo. Segundo Sheila, a pesquisa mostra que o tratamento funciona no sistema público de um país em desenvolvimento. "Ele é efetivo, ele é factível de ser implementado e ele é custo-efetivo”, afirmou.

“O estudo mostrou para o mundo que outros países em desenvolvimento também podem implementar esse tratamento. O estudo teve uma grande repercussão internacional. Grandes universidades e nomes da neurologia vascular do mundo têm comentado o estudo e falado sobre a importância dele. Isso mostra a importância dessa pesquisa não só para o Brasil, mas também para outros países”, acrescentou a médica.

A trombectomia funciona como um cateterismo, em que um cateter é usado no AVC isquêmico para desobstruir um vaso sanguíneo no cérebro de forma mecânica, removendo o coágulo com o uso de um stent ou por sucção. O tratamento usado atualmente é a trombólise, em que se administra medicação na veia para dissolver o coágulo que interrompe a circulação cerebral. Os medicamentos são chamados de trombolíticos e são eficazes nos AVCs menores.

No entanto, no AVC isquêmico agudo, quando há obstrução de grandes vasos, o tratamento por trombólise intravenosa está associado a baixas taxas de eficácia. Nesses casos, a trombectomia mecânica representa uma alternativa terapêutica mais eficaz.

Os pesquisadores concluíram que, quando comparada aos tratamentos medicamentosos que estão no SUS, a trombectomia mecânica aumenta de 21% para 35% a independência funcional do paciente, além de diminuir em 16% a mortalidade ou o risco de dependência grave. As pessoas que receberam a trombectomia tiveram 2,6 vezes mais chances de ficar independentes, ou seja, sem precisar de outras pessoas para as atividades diárias, e tiveram 3,4 vezes mais chances de ficar sem sequela alguma na comparação com pacientes que fizeram apenas tratamento clínico.

Segundo a Rede Brasil AVC, o uso do cateter já ocorre em 68 hospitais privados do país e é uma realidade na rede pública de outros países, como o Canadá e o Chile. A adoção da trombectomia no SUS depende da aprovação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec). O estudo já foi submetido à Conitec e aguarda aprovação.

“A aplicação da trombectomia no SUS depende da aprovação da Conitec - Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologia no Sistema Único de Saúde. Tivemos uma reunião em março com o Ministério da Saúde, em um grande evento, no Rio de Janeiro, antes da pandemia e ficou acordado que nós submeteríamos, como pesquisadores apoiados por todas as nossas sociedades, a solicitação de incorporação [do procedimento]. Isso foi feito, na última semana, junto com a publicação no renomado The New England Journal Of Medicine, já encaminhando os resultados oficiais”, disse Sheila Martins.

 

(Com informações da Agência Brasil)