Saúde

Pesquisa identifica polos que podem disseminar coronavírus em efeito cascata no interior



Pesquisa identifica polos que podem disseminar coronavírus em efeito cascata no interior

Apesar de a cidade de São Paulo ser o epicentro da Covid-19 no Estado e no Brasil, a preocupação do Governo João Dória (PSDB) vem recaindo nesta semana em cidades do interior, onde as medidas de isolamento social vêm sendo menos efetivas, com registros de maior circulação de pessoas do que na capital, segundo os dados de mobilidade analisados pela Unesp - Universidade Estadual Paulista.

De acordo com um estudo feito pela instituição, a Covid-19 vem chegando a centros regionais fora da capital paulista a partir dos principais eixos rodoviários e têm potencial para atingir localidades nos arredores em “efeito cascata”.

Os pesquisadores da Unesp, que integram o Centro de Contingenciamento do Coronavírus do Estado, se debruçaram sobre vários dados e estudos do IBGE para identificar os principais eixos rodoviários que ligam a capital paulista a outros polos regionais do Estado. “Na medida que o tráfego aéreo foi interrompido, essa difusão se dá pelo asfalto por esses eixos e num efeito cascata", explica o professor Raul Guimarães, do Laboratório de Geografia da Saúde na Unesp.

O levantamento identificou 13 municípios de médio porte que são o destino da Covid-19 entre eles Araçatuba, São José do Rio Preto e Votuporanga.

“Então, para além da metrópole, estão aparecendo casos nesses 13 principais centros e, em seguida, em municípios predominantemente urbanos que tem forte relação com esses centros”, acrescenta Guimarães.

De acordo com o professor Carlos Magno, epidemiologista da Faculdade de Medicina da Unesp (Botucatu), trata-se, em primeiro lugar, de um “modelo hierárquico”, em que coronavírus faz seus principais “saltos” da metrópole para outras cidades a partir desses eixos; e depois, “um modelo de contiguidade”, em que o vírus se espalha para as localidades vizinhas.

A boa notícia diz respeito à velocidade de expansão do coronavírus no Estado, explica Magno. Os indicadores de velocidade mostram que, se antes uma pessoa podia contagiar outros 4,5 indivíduos, essa taxa caiu para 2. “O isolamento social é até hoje a única medida conhecida para reduzir o número de mortes e de internação”, explica. A curva de crescimento no interior, porém, se encontra “duas ou três semanas” atrasada por conta do atraso na realização de exames.

Os dois casos positivos de coronavírus em Fernandópolis, ainda não aparecem no mapa estadual, porque os exames que testaram positivo foram realizados em laboratório privado e  aguardam a contraprova do Adolfo Lutz para aparecerem na estatística.

“Mas é uma questão de tempo. A partir do momento que espalhar, você entra naquela fase descontrolada [da epidemia]”, alerta Guimarães, para quem apenas as medidas de isolamento social poderiam frear a dispersão pelo interior.

Essa foi uma das motivações de Doria para estender a quarentena por mais 15 dias, até 22 de abril. De acordo com o professor Magno, a taxa de isolamento social na capital paulista gira em torno de 60%, mas cai para pouco mais de 40% em cidades do interior. A média do Estado ficou em 54%.

Nesta quarta-feira, o governador João Dória determinou força tarefa em Fernandópolis para reduzir o fluxo de pessoas no centro. O movimento de pessoas na área central, principalmente em filas de bancos e lotéricas fez aumentar a preocupação.

O professor Magno acredita que existe “falsa sensação de segurança” no interior, o que reduz “a eficácia da mensagem de isolamento”.