Geral

Pode me chamar de...



Pode me chamar de...
Quem nunca ficou naquela situação constrangedora de não conseguir escrever o nome de alguém, ou até mesmo pronunciá-lo?
Quem nunca inventou um apelido carinhoso para o amigo só porque ele tem um nome muito esquisito e você ficou com muita pena dele por isso?
Quem nunca se deparou com um nome, digamos, diferente (para não dizer horroroso)?
Há quem diga que isso é exagero. Mas quem não passou por algumas dessas situações?
Percorrendo a lista telefônica (pesquisando nome por nome), descobri que Fernandópolis é um celeiro de nomes diferentes ou que eu achava que jamais existiriam.
Dona Avelina Carolina Carmelo Ferro é uma mulher criativa quando se fala de nomes. Foi “costurando” ou “derivando” alguns nomes que registrou seus filhos: Faustodigonor, Danieber Clausner, Darbijoni e Raucilane.

Faustodigonor foi em homenagem ao seu marido Faustino. Misturando nomes que encontrou pela bíblia montou Danieber (Daniel – da cova dos leões com Eber – que viveu quatrocentos e sessenta e quatro anos) mais Clausner, nome lido em algum jornal.

Darbijoni é a mistura da cidade onde o apóstolo Paulo pregava com Jonas que foi engolido pelo peixe. Já Raucilane foi inspirado numa firma de balas e bolachas chamada Rauci.
“Todos eles se orgulham do nome. Darbijoni até deu a idéia para a esposa, de deixar que eu providenciasse uma lista de nomes para a minha neta. Mas a minha nora não gostou muito da idéia e colocaram o nome de Ana Vitória”, me disse Avelina.

E quem pensa que Walt Disney só tinha na Califórnia, se engana. Em Fernandópolis tinha o abrasileirado Valter Disney Torrecilha, mais conhecido como “Boi”, recentemente falecido.
Perambulando pelos postinhos de saúde pode-se achar muitos nomes diferentes como Mononylon. Não, não! Não é ao fio cirúrgico que me refiro. É de um menino!

Ah! Alguém consegue pronunciar algum desses nomes: Ellpanthitdyner, Ellpanthisyni ou Ellnanthilynnon? Pois é... Não é brincadeira! Criancinhas indefesas receberam esses nomes impronunciáveis. Alguns dizem que são nomes dados a substâncias de remédios. Mas não tem no Google. Se não tem no Google, não existe mesmo!

Essa realidade não está muito longe da minha casa. Minha amada mamãe chama-se Dulcília. É, D-U-L-C-I-L-I-A! E minha madrinha (irmã dela), Donília. Meu avô era um homem que gostava da letra D. Dejanira, Donília, Dulcília e Dinalda. Tudo bem, Dejanira e Dinalda até que é comum. Ao menos o restante da trupe se salvou: Aparecida, Joel e José Roberto.

Minha melhor amiga chama-se Priscinaira Perlei. Conversando com a mãe dela, a dona Ivanira, fiquei sabendo que por pouco ela não recebeu o nome de Patrícia. Agora pergunto: Que mal fez essa criatura para receber esse nome?

Pensando bem, as opções que tinha não eram das melhores: Priscikele, Priscinara e Priscilaine. Todas com Perlei na seqüência. Sempre foi um pouco irritante quando nos apresentávamos e ela dizia: “Priscinaira” e os outros respondiam “Como?”. E na chamada da escola alguma professora dizia: “Priscisnaira Per Lei” ou ainda “Pricascinara Per Lei”. Era medonho. Eu sempre participei de seu desespero nominal. Como amiga de verdade é aquela que ajuda na hora difícil, nunca falo o seu nome inteiro. Apenas Prika ou Naira. De qualquer forma, eu adoro essa menina, independente do nome seu nome “incomum”.

Achei interessante Deusdete, Deusmano e Deusvale. Será que são irmãos?
Ambrosina, Ceredônio, Aureliano, Audíniro, Deocleciano, Cizaltina, Hermelindo, Frausina, Salustiano, Marilzione, Laudevirces e Barulino! Todos fernandopolenses! Pode-se dizer que é a cidade do nome incomum.
Temos até um Hermenegildo! Aliás, um Hermenegildo e uma Hermenegilda!

Hermenegilda Pierrebon Succi é policial militar e trabalha no Programa Educacional de Resistência a Drogas e Violência e atualmente adora o nome por ser diferente e dificilmente achará outra pessoa com o mesmo nome. Na adolescência teve alguns problemas com ele, já que as pessoas riam por ser extenso. Chegou até a falar que iria mudá-lo quando completasse 18 anos. Mas quando chegou a idade, desistiu da idéia por já estar acostumada. Foi apenas uma crise da adolescência. Para ficar mais fácil, os amigos e as crianças do PROERD a chamam de Hermê. Fácil, não?

Não importa qual o seu nome. Ou melhor, importa sim, depende da situação. Se você estiver devendo para mim, ele me será muito útil.

Deixando as brincadeiras infames de lado, o importante é o carinho com que foi escolhido o seu nome e o que ele representa para você. Devemos nos preocupar mais com as nossas condutas do que com um nome. Seja ele diferente, ou não.

Enfim, como dizia Shakespeare: “Um nome? O que é um nome? Não é uma mão, nem um braço, nem um rosto. Nada do que compõe o corpo humano. Se outro nome tivesse a rosa, ao invés de rosa, deixaria, por isso, de ser bela e perfumosa?” (Ato II de Romeu e Julieta).


Por: Daniela Ortolan