Artigos

“Precisamos de líderes, empresários e políticos dotados de valores ilibados”



“Precisamos de líderes, empresários e políticos dotados de valores ilibados”

A frase, mais em forma de desejo e alerta, é de uma fernandopolense que há 74 anos acompanha e participa do desenvolvimento da cidade. Estamos falando da matriarca da Família Cáfaro, Aparecida Angelina Scarlatti Cáfaro, ou simplesmente, Cida Cáfaro, viúva do engenheiro Humberto Cáfaro, professora de muitas gerações e mãe de quatro filhos, Humberto, Maria Stella, Luciana e Zeca Cáfaro. Nesta entrevista ao CIDADÃO, à véspera da cidade comemorar 80 anos, Dona Cida Cáfaro, prestes a completar 81 anos, relembra aquele dezembro de 1945, quando a família Scarlatti, vinda de Guapiaçu, aportou em Fernandópolis para nunca sair. Foi uma viagem longa por uma estrada de terra batida cheia de buracos, que atravessava córregos e lamaçais, em meio à mata. “Tinha apenas sete anos e me impressionou ver minhas irmãs mais velhas chorando muito ao chegar na cidade, na verdade apenas um lugarejo com poucas casas”. Em todo esse tempo, uma característica marcou as famílias Cáfaro e Scarlatti: a de não se envolver com política partidária. E quando a cidade completa 80 anos, a caminho do seu centenário, ela tem um recado: “Espero que daqui 20 anos, quando Fernandópolis comemorar 100 anos, as lideranças municipais estejam unidas trabalhando pela nossa cidade em paz e harmonia”. Veja a entrevista:

 

Como foi a chegada de sua família a Fernandópolis? E qual foi a impressão ao chegar por aqui?
Cheguei em Fernandópolis em dezembro de 1945, veio toda a família num caminhão de mudança, foi uma longa viagem que levou o dia todo partindo de Guapiaçu. A estrada era de terra batida cheia de buracos, atravessava córregos e lamaçais, o tempo todo percorríamos à sombra da mata que ladeava a estrada, vez ou outra encontrávamos pequenos vilarejos que apoiavam os viajantes. Na época tinha apenas sete anos, e não me lembro de muita coisa, mas o que me impressionou foi ver minhas irmãs mais velhas chorando muito ao chegar na cidade, na verdade apenas um lugarejo com poucas casas, sem nenhuma infraestrutura, nem mesmo coleta de esgoto, para levar os moveis para dentro foi preciso colocar uma taboa pois havia um buraco enorme feito pela enxurrada, além disso a casa era menor e menos confortável comparada à que morávamos antes. A nossa primeira casa existe até hoje, fica na avenida 8 (Manoel Marques Rosa) ao lado da Imobiliária Tangará.

 Como foram os primeiros momentos na cidade?
Para mim foi bom, pois tinha apenas sete anos e na vizinhança tinha muitas crianças, como éramos recém chegados as pessoas se aproximavam sempre cordiais e receptivas, fiz muitas amizades, a noite brincávamos na rua até que o gerador desligasse, então com o breu da noite voltávamos para nossas casas. Também foi o ano que entrei na escola, alegria imensurável, mais crianças e mais amizades.
 E os tempos de juventude? O que fazia para se divertir?
A cidade tinha pouca coisa a oferecer, clube, cinema só depois de alguns anos, a maior diversão eram as atividades escolares e uma coisa que marcou muito minha infância e juventude foi ouvir músicas no alto-falante da praça, e as pessoas oferecendo músicas uma às outras, uma realidade incompreensível para o jovem de hoje que tem acesso a internet no próprio celular.
 As famílias Scarlatti e Cáfaro eram amigas e logo se uniram com o seu casamento com Humberto Cáfaro que viveu uma boa parte da sua vida na capital, estudando. Como foi esse encontro?
Realmente, as famílias se conheciam há muito tempo, meu pai em Guapiaçu morava numa chácara que pertencia ao senhor Afonso Cáfaro, Mas, o Humberto só vim conhecer em Fernandópolis, ele estudava em São Paulo cursava engenharia na Politécnica, nas férias vinha trabalhar na fazenda para ajudar o pai, mas só vim saber disso mais tarde. O que me chamou a atenção foi ao frequentar as missas de domingo no período de férias e ver minha professora com seu lindo namorado, um jovem de porte atlético, elegante e muito educado, mais tarde o destino tratou de encaminhar as coisas para o seu devido traçado e esse jovem veio a ser o meu marido Humberto. Os 10 anos de diferença entre nós, proporcionou esta situação engraçada, mas não fizeram diferença na hora de formar uma família unida e perfeita com a benção de Deus.
 Na biografia de Humberto Cáfaro, encontramos que antes do casamento ele revelou ser diabético e perguntou se ainda queria se casar com ele. Como foi esse momento?
Ouvi a notícia com serenidade pois tinha no coração a certeza que nada poderia me separar dele, e assim foi a vida toda. Enfrentamos a doença juntos com muito amor, foram 48 anos casados sem descuido. Vale a pena lembrar que toda a experiência que adquirimos nos cuidados da diabetes ele fazia questão de compartilhar e orientar todos que conhecia e sabia que sofriam do mesmo mal.
 Altruísta, ambientalista e empreendedor. Qual característica que mais admirava no marido?
Sem dúvida admirava todos este atributos mas o que mais admirava era o fato de ser um homem que vivia para a família, em primeiro lugar sempre, depois para o trabalho e para a comunidade, seja através da igreja, entidades de classe, ou iniciativas próprias que muitas vezes só ficamos sabendo após seu falecimento.
 O que resgataria do passado para o presente de Fernandópolis?
Na verdade se pudesse, gostaria de resgatar uma coisa muito pessoal, a época em que namorava com o Humberto, melhor época da minha vida,
Qual o paralelo que faz da mulher do seu tempo com os tempos de hoje, de suas netas, por exemplo?
Antigamente a gente se submetia a ordem dos pais, apesar do amor, havia também o temor. A liberdade era um tanto restrita e consenso não era uma coisa comum, comparando com minhas netas vejo que elas são muito mais independentes e na relação familiar prevalece o diálogo e o comum acordo.
As famílias Scarlatti e Cáfaro sempre foram muito envolvidas com a cidade. Ninguém quis se envolver com a política? Por que?
Concidentemente uma característica de ambas as famílias, que nunca gostaram de política partidária e sempre orientaram seus filhos para evitar o envolvimento político, em especial Humberto, que apesar de amigos políticos nunca se envolveu e fez questão de alertar aos filhos.
Daqui a 20 anos, Fernandópolis vai completar 100 anos. Como gostaria que a cidade chegasse a essa marca?
Houve um tempo, como dizia meu sogro; “Fernandópolis é tão prospera que cresce por si só”, mas essa realidade não existe mais, precisamos de líderes, empresários e políticos dotados de valores ilibados, honestos. Espero que daqui 20 anos ao comemorar 100 anos, as lideranças municipais estejam unidas trabalhando pela nossa cidade em paz e harmonia.