Geral

Pressa e injustiças



O desastre da aeronave da TAM inquieta. Problemas na pista? Culpa do piloto? Defeito no avião? Os militares da aeronáutica, desde o início, pedem calma nas conclusões. Nada de açodamentos. Aguardem-se as investigações. Qualquer sentença, agora, é prematura, com alto risco de injustiças.

Os militares têm razão. Nós todos desejamos resolver a questão, com imediatismo. Porém, sem conhecimento de causa. Lemos jornais, revistas, assistimos às reportagens da tevê e usamos pura intuição. Cremos que isso nos habilita a julgar uma tragédia dessa magnitude. E, assim, erramos.

O terrível acidente aéreo trouxe um lado pedagógico para todos. Ensina a ter cautela, prudência, diante dum fato complexo, altamente técnico e que exige profundas reflexões.

Vale lembrar que, logo após a tragédia, focou-se a pista do aeroporto de congonhas. Não havia ‘ranhuras’ (ou ‘grooving’) no asfalto. Isso parecia explicar tudo. E a culpa, nesses termos, do governo. Dias depois, contudo, o reverso ‘pinado’ da turbina do A320 passou ao centro das atenções. O dedo acusador mira, então, a empresa aérea, por falta de adequada manutenção. Mais alguns dias, o destaque jornalístico apontava para o comandante, que teria invertido as ‘manetes’ do airbus ao tocar o solo no pouso. Agora, os diálogos finais, gravados na caixa preta no avião, dão outro norte, e a fabricante do aparelho entra em cena, no banco dos réus.

Só mesmos os especialistas nos darão as respostas. No tempo e na hora devidos. Mesmo assim, desse triste episódio, o governo federal saiu atingido, até injustamente, em certa medida. A empresa, o piloto e a fabricante do avião também entraram na linha de tiro. De toda a afobação para culpar alguém, até o momento, ninguém é culpado, ou todos são culpados, ao mesmo tempo.

Acreditei piamente na pista, como causa fundamental do fatídico evento. Se mais extensa e com mais área de escape, talvez outra sorte àquelas pessoas, que não perderiam suas vidas. Mas, o desespero do piloto e do co-piloto, gravado na caixa preta, derruba esse raciocínio, que se apresentava lógico.

Mesmo para alguém que tem por profissão julgar, e faz isso há um terço da vida, sempre é valido o ditado popular: ‘não julgue sem conhecer a causa’. Tenha precaução, comedimento e evite sentenciar sobre o desconhecido. A injustiça é vizinha dos afobados.

Que fique, portanto, a lição para todos. Nada de acusar e julgar, sem saber do fato, entendê-lo. Os apressados, em seus julgamentos, podem ser tão ou mais perniciosos que os responsáveis pelo desastre. Isso porque um inocente, quem quer que seja, iniquamente culpado, significa outra tragédia.