Entretenimento

“Quando estou na minha Caravan, me sinto o cara”



“Quando estou na minha Caravan,  me sinto o cara”

Visto como o segundo casamento, o carro antigo que desperta paixão, na maioria das vezes, é tido como um intruso insuportável no casamento. A afirmação é do casal Sérgio e Wendy, fundador do CAF – Carros Antigos de Fernandópolis – associação que nasceu em 2018 após alguns colecionadores migrarem do Clube do Opala de São Paulo e hoje formarem um grupo com mais de 70 associados.
Sorte do Sérgio Luís Garcia que no caso dele, a esposa Wendy, a filha Kembily e os filhos gêmeos João Lucas e João Luís de apenas cinco anos já são apaixonados por carros antigos. Mecânico de chave cheia, Sérgio é um dos fundadores e principais membros do CAF. É ele um dos seis mecânicos que dão vida aos carros cinquentões que desfilam nas ruas de Fernandópolis como se fossem jovens carros que acabaram de sair da garagem.
Segundo Sérgio, peças e lataria representam o maior desafio para o mecânico transformar aquele carro velho acabado numa unidade nova, cheia de cores e charme. Ele explica que o preço nas autopeças é mais fácil de negociar para carros novos do que para carros antigos mesmo em se tratando de modelos mais sofisticados como o GM Cruze do que para um Opala dos anos 70. 
“Quando a gente pede uma peça para um carro mais antigo, a primeira expressão que o atendente faz é de desânimo. Ele fala que não tem. E quando tem, os valores são bem salgados. E isso é para todos os carros antigos”, destacou. 
Sempre que precisam, Sérgio e os demais mecânicos procuram comprar na internet. Eles pedem para os clientes irem pesquisando uma peça aqui, outra ali, até completar o pedido. E por mais incrível que pareça, a parte de motor não é o mais difícil, mas sim, o acabamento que é geralmente mais complicado. 
“A parte de motor em si, se precisar, a gente fabrica. Mas a parte de lataria, acessório, para-choque, lanterna, é sempre bem complicado. A lataria para recuperar um carro é sempre complicada e mais difícil porque não fabricam mais peças. A parte de mecânica nem tanto”, explicou Sérgio. 
Por mais grave que aparentemente seja o dano, nada que os mecânicos não possam resolver. Quando uma determinada peça ou parte não presta mais, eles compram num desmanche ou levam num “lateiro” que vai rebater e repuxar a estrutura até deixá-la dentro dos padrões desejados. E assim, a lata velha sai brilhando da oficina para desfilar pelas ruas de Fernandópolis e região.

Paixão vem da infância

Paixão vem da infância

A paixão de Sérgio por carros antigos vem desde a infância. E com o passar do tempo, mesmo com tantos modelos luxuosos lançados todos os anos por dezenas de marcas, para Sérgio nada muda.
“O que faz mais parte de minha história de carros antigos é do 1979 para baixo que é um modelo redondo. Tenho três carros antigos, duas Caravan 78 e 79 sendo uma SS e outra Deluxe, além de um Opala Deluxe, 77”, revelou. 
Quando questionado sobre qual é o seu favorito, Sérgio não tem dúvida ao responder.
“Eu gosto mais de Caravan por causa do espaço, design e conforto. Você vai passear, não precisa nem pagar hotel. Basta deitar o banco lá atrás e pode dormir. Muitas vezes já fiz isso com a minha esposa, já fui acampar em prainha, passear e a gente dormiu dentro dela”, respondeu. 
E já que o papo aqui é sobre carros antigos, provavelmente a imagem que está passando na sua mente agora trata-se de uma lata velha enferrujada, quebrada no acostamento de uma estrada qualquer. Engano seu, se assim pensou.
“O meu carro nunca me deixou na mão. Mas toda vez que a gente sai, o carro de um amigo quebra. Na maioria das vezes é só falta de manutenção mesmo. O cara pega o carro, faz aquela manutenção básica, troca o óleo e já acha que vai andar pelo resto da vida. E não é assim. Acontece que ocorre desgaste de uma peça ou de outra, e na hora de sair, ele não ve um sistema de freio, a bomba de combustível, ele simplesmente coloca combustível, entra no carro e vai”, destacou. 
De acordo com Sérgio, o segredo está na manutenção. Se o proprietário não descuidar dessa parte que considera fundamental, muito provavelmente, não passará por tantos perrengues às margens das estradas em todas as viagens que decida fazer.
“Em todos os carros a manutenção é importante. Mas pela idade que já têm, os carros antigos requerem cuidados especiais”, explicou.

Se depois de tantos pontos positivos para os carros antigos compartilhados por esse mecânico apaixonado pelas suas caravans 1978 e 1979 e de seu Opala Deluxe 1977, você decidiu comprar um modelo, mas está com pouca grana para investir, nada que o Sérgio também não possa opinar. 
“Para que deseja entrar num clube de carros antigos, se não tiver dinheiro, comece pelo Fusca. A dica é comprar um pronto. “Agora, se a sua situação é inversa, você tem dinheiro e gosta de carros antigo, a dica é comprar um Opala pronto”, indicou. 
Mas, se a falta de dinheiro não é o seu caso e o seu bom gosto prepondera sobre suas escolhas, então pode enfiar a mão no bolso e escolher um modelo intermediário entre os clássicos pagando cerca de R$ 50 mil. E com ressalvas, segundo Sérgio.
“Um carro novo de R$ 45 mil, qualquer um pode comprar. Já um carro antigo, não. Primeiro porque o cara que tem, não vai vender. E segundo, porque para andar no cotidiano, não recomendo já que não tem seguro que cubra e, se tiver em estado de zero, corre o risco de alguém riscá-lo”, alertou.
Para Sérgio, o combustível que faz um carro antigo correr estrada afora é simplesmente a paixão. Se o proprietário gosta, não tem como não ir aonde desejar e cuidar faz parte desse processo.
“Se você gostar, o carro antigo te leva aonde você quiser. É igual a um carro novo. Não vai te levar com o mesmo conforto, só que quebrar, todos carros quebram”, enfatizou. 
A paixão correspondida e compartilhada pela família faz com que Sérgio seja enfático ao responder por quanto ele venderia a sua Caravan 1978 ou qualquer um dentre os demais modelos.
“Eu não vendo. Não tem preço. Não tem preço porque a minha filha gosta e meus dois filhos de cinco anos também gostam. Já faz 17 anos que eu tenho ela. Fiz ela do zero e hoje faz parte de minha família. Ela é a minha segunda filha”, enfatizou.
E já que a filha Kembily está de olho na Caravan do pai, quando questionado se ela vai acabar se apossando dela, bem-humorado, Sérgio brinca com a situação.
“Ela pode levar. Mas o genro não”, brincou.