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Quando o amor ao próximo fala mais alto



Quando o amor ao próximo fala mais alto

No dia 28 de julho, Fernandópolis e região estarão mobilizadas em mais um evento solidário, a realização do Almoço da AVCC – Associação de Voluntários no Combate ao Câncer – e o Leilão do Hospital de Amor de Barretos (o antigo Hospital de Câncer). Eventos como esses só acontecem porque existe um time de voluntários que arregaça as mangas e vai à luta. São eles, os voluntários, que mobilizam uma população inteira para que o objetivo final seja atingido. Entre esses voluntários está Humberto Zanin, 59 anos. Ele já perdeu as contas de quantos leilões ajudou a organizar. Começou desde pequeno, perto dos 10 anos, e calcula que já vai completar o cinquentenário nesse trabalho sempre tendo como inspiração Darci Bertoco (já falecido), que ele define como “homem simples e fantástico”. Quando se fala em leilão, seja para o Hospital de Amor, Santa Casa, Asilo ou da Igreja, Zanin está na comitiva de frente. E faz tudo isso por uma razão: “A gente tem amor ao próximo, não temos orgulho material e é por isso que fazemos esse trabalho ao lado de muitos amigos”, diz nesta entrevista ao CIDADÃO:

Quando começou seu envolvimento com os leilões beneficentes?
A gente começou a se envolver muito cedo. Somos filho de Fernandópolis, nascido e criado aqui e a gente acompanhava o pessoal da Igreja desde pequeno, quando fazia os eventos que tinha os leilões, começou na Chácara do Badeco, depois foi lá para o Cáfaro. Era muito novo e naquela época, era muito difícil fazer os leilões, então se ganhava uma prenda para fazer o almoço, o pessoal disputava essas prendas em leilões. Vendo aquilo e já participando, a gente foi pegando amor. A gente lembra de pessoas que hoje já não estão entre nós, mas eu cito como homenagem a todos eles, o seu Darci Bertoco. Eu me espelhei nele. Ele foi fantástico como ser humano. É o que a gente precisa fazer hoje, trazer o jovem para junto de nós, para não perder esse trabalho pensando no próximo. Então, quando digo que comecei cedo, isso pra mim foi um envolvimento muito educativo. Quando você faz um leilão beneficente, seja para a Igreja, para o Asilo, Santa Casa, AVCC ou Hospital de Amor, é para ajudar essas instituições que precisam dessa arrecadação complementar. Não podemos ficar esperando as coisas de mão beijada do governo para resolver o problema dessas entidades. E nesse tempo todo, não tem como não ter gratidão com todos que colaboram nestes eventos. Agora mesmo, estamos nessa luta pelo Hospital de Amor (o antigo Hospital de Câncer de Barretos). E trabalhar nessa causa é muito gratificante, principalmente em ver a assistência que se tem do hospital quando se precisa.
O senhor tem ideia de quantos leilões já participou?
Não dá para falar, nunca contei. Mas são muitos, perde até a conta. A gente está envolvido com todos, direta ou indiretamente. Apesar de todo esse envolvimento, se consegue conciliar o tempo entre participar desses leilões e a família. É muito gratificante.
Você contou que com dez anos já acompanhava o pessoal nos leilões. Significa que está nessa luta há quase 50 anos?
Estou pronto para completar o cinquentenário. Desde novinho a gente ficava ajudando o pessoal. Eu lembro de um caso, eu e o Darcio Buosi, fomos buscar um gado que tinha sido doado em São João das Duas Pontes. Estava num piquete e o dono falou que não tinha curral, nem embarcador, tem que pegar na unha. Chegamos lá de manhã e só voltamos de noite. A roupa podia jogar fora, estava toda rasgada, mas não ficou nada prá traz. São histórias verdadeiras, coisas lindas. Chegava à tarde, a gente estava morto de cansado, mas feliz com o resultado e de poder fazer algo para o próximo. 
E os doadores fazem questão sempre de participar, não?
Isso é muito importante. O leilão tem uma listagem dos doadores, aqueles que participam sempre. Tem muitas pessoas que veem o leilão chegando e ligam cobrando a visita e questionam porque você não foi lá ainda. E tem muitos que falam em tom de brincadeira, nossa hoje você passou óleo de peroba nessa cara de pau, você aqui de novo pedindo, mas eles estão te esperando e onde a gente bate, à porta se abre. Não importa a quantidade da doação, seja uma galinha, uma leitoa, um porco, um bezerro, não importa. A pessoa doa com amor. A gente tem o lema, doação não é esmola, é coração, é a ajuda que a pessoa está doando em prol da entidade que está sendo beneficiada. 
Nesse próximo evento, dia 28 na Expo, que envolve o almoço da AVCC e o leilão em prol do Hospital de Amor, como a organização?
Ninguém faz nada se não tiver equipe. Leilão e almoço se faz com equipe, com trabalho e com coração. Hoje, a gente nota que a nossa região perdeu aquela característica de região pecuária. Está muito diversificado, chegaram outras culturas. Mas, o povo entende a necessidade de ajudar. Mesmo aquele que tem suas terras arrendadas, ainda faz suas doações em dinheiro e isso é muito importante. Não importa o valor, a gente vai juntando e depois faz a aquisição de animais e aumenta o poder do leilão. A pessoa não pode doar um bezerro, mas como se diz no meio, ele dá uma perna do bezerro, a parte em dinheiro, que a gente junta e compra o animal. Quanto a AVCC, o trabalho dessa entidade é invejável, digno e que precisa cada vez mais ser valorizado. É só ver o tanto de pessoas com câncer e carentes assistidos por essa entidade mantida por voluntários. É só ir lá e ver, são pessoas de idade, fazendo pão, fazendo farofa, fazendo doce e muito mais para ajudar esses pacientes. Eles se empenham de coração na causa. É isso que mantém a casa de pé. É um trabalho de tirar o chapéu e por isso rendo homenagens a Candinha (presidente e fundadora da entidade) e toda a diretoria e voluntários pelo trabalho. Trabalhar com esse pessoal e ver essa entidade como parceira do hospital é um prazer muito grande. O Hospital não anda sem a AVCC e a AVCC não anda sem o hospital. É um grupo que se juntou por amor ao próximo. Por isso eu digo: se você receber a visita desse pessoal, faça o que puder para ajudar essas entidades, porque a sua ajuda vai beneficiar o próximo que precisa. 
Qual o sentimento que sobressai ao final de mais um almoço e leilão como os do próximo dia 28?
É um momento de confraternização e muita emoção, onde a gente só tem a agradecer a Deus por nos permitir doar o nosso tempo para servir. A gente acredita nesse trabalho e por mais que se arrecade e envie para essas entidades, ainda é muito pouco diante do que precisam. O déficit do Hospital de Amor gira em torno de R$ 20 milhões mês. Esse hospital atende 1 milhão de pessoas por ano e é tudo gratuito. Gratuito para aquele que não teve o que doar, para aquele que doou uma galinha ou para aquele que doou R$ 1 milhão. É a igualdade justa no atendimento. Então a gente se sente realizado, mas ainda é pouco diante do que podemos fazer. Mas, é gratificante pelo amor com que gente faz.
O que move um cidadão, com sua família, a dispender seu tempo em favor de uma causa filantrópica?
Eu aprendi desde pequeno, que a gente precisa valorizar cada centavo que a gente ganha. Eu vim de uma família humilde, pobre, onde éramos em cinco irmãos homens e uma mulher. E até os dez anos, a gente dormia os cinco irmãos numa cama só. A gente viu como era difícil para realizar uma coisa. Eu tirei o diploma de quarto ano com o uniforme que entrei na primeira série, a calça batia na canela. A gente tem amor ao próximo, não temos orgulho material e é por isso que fazemos esse trabalho ao lado de muitos amigos.
Vocês sucederam uma turma que começou esse trabalho. Já estão preparando os sucessores para esse trabalho continuar?
A gente tem vários exemplos de jovens que estão nessa luta com a gente. Aprendi muito com o seu Darci que dizia para valorizar o que é pequeno para um dia ele ser grande. Temos vários jovens no nosso meio. Costumo brincar com o João Pedro, com o Gabriel, que estamos ficando velho e logo vão assumir essa empreitada. Cada jovem que você traz para esse trabalho, que você valoriza o seu esforço, ele está crescendo com a gente. São poucos jovens, mas uma turma de muita qualidade que vai seguir com esse trabalho lá na frente. 
Dedicar-se ao próximo é uma forma de gratidão?
É mais do que gratidão. Quem sofreu e enfrentou alguma fase difícil na vida, tem que ser grato a Deus. Eu sou muito grato. Sou devoto de São Sebastião, de São Judas Tadeu, de Nossa Senhora Aparecida, Santa Rita de Cássia. Fomos criados dentro da igreja e temos uma devoção grande. Não importa a religião, a pessoa tem que ter Cristo no coração. A religião, seja qual for, fortalece as pessoas. Seguir Jesus é a nossa maior gratidão.