No dia 18 de fevereiro, a Santa Casa de Fernandópolis completará um ano sob intervenção judicial, gerenciada neste período pelo provedor Marcus Chaer, nomeado administrador judicial com a “árdua missão de organizar a estrutura operacional do hospital, barrar a sangria de recursos financeiros, humanizar o processo de atendimento ao paciente e extinguir a cultura da corrupção instalada na unidade”.
Em quase 12 meses de auditorias, diversas irregularidades foram descobertas e encaminhadas ao Ministério Público. Além disso, a Santa Casa ainda responde por diversos processos acumulados no decorrer de gestões anteriores.
Para agravar ainda mais a situação, mesmo com a adoção da política de redução de custo em todos os setores operacionais, a entrada de recursos ainda é insuficiente, o que tem resultado mensalmente em déficit e mantido a dívida, que acumulada, está em torno de R$ 60 milhões.
As informações foram fornecidas pelo provedor/interventor da Santa Casa, Marcus Chaer, durante entrevista coletiva realizada na manhã desta sexta-feira, 12, na qual, além das finanças e políticas que estão sendo adotadas, foi apresentada também todas alterações e ampliações na estrutura física e operacional do hospital.
Sobre o histórico ruim da Santa Casa de Fernandópolis, Chaer destaca a sua relevância para a população, reconhece as melhorias, mas considera o passado recente como “uma herança maldita”.
Chaer citou ainda na entrevista que a Santa Casa enfrenta problemas de prestação de contas de emendas parlamentares do passado, que geram inclusive processos. “Num desses valores, temos que devolver R$ 600 mil porque não conseguimos provar para onde foi esse dinheiro. A questão é: se a gente não devolve, eles cortam os outros repasses”, explica o provedor Marcus Chaer.
“Temos recebido bastante verbas e todas elas estão no Portal da Transparência da Santa Casa aprovadas pelo Tribunal de Contas da União. Na nossa gestão, todas as emendas [verbas] que vieram, já foram prestadas as contas”, destaca, lembrando que sem essas emendas a situação seria ainda mais grave do ponto de vista financeiro.
Com os salários e 13º salário dos profissionais em dia, Chaer ressalta a importância desse quesito como umas das mudanças visíveis já que até pouco tempo, esse era um problema rotineiro na unidade. “Conseguimos liquidar salários atrasados de outros anos e pagar o nosso em dia”, frisa.
O provedor e gestor judicial destaca ainda que mesmo sob pressão do sindicato por negociação salarial, essa é uma questão que está fora de cogitação quando levado em consideração o cenário de crise econômica e escassez de recursos para a área da saúde. Ele cita como exemplo, o corte de 12% da verba destinada às Santas Casas do estado feito pelo governador João Doria no início do ano. A verba citada foi retirada de dois programas de auxílio: Pró-Santa Casa e Programa Sustentável. A resolução que foi publicada no Diário Oficial da quarta-feira, 6 de janeiro de 2021, atingiu 180 unidades hospitalares de São Paulo.
Desde o início do trabalho do provedor/interventor, Chaer tem direcionado os esforços na redução de custo e na humanização do atendimento. Para tanto, tem investido na qualificação dos profissionais, otimizado processos de atendimento, reaproveitado a estrutura ociosa e ampliado as opções de serviços.
“Mudamos a estrutura organizacional para mudarmos a imagem. Não há como uma pessoa chegar aqui [na Santa Casa] com um problema e sair sem ser ouvida”, disse.
Em 2020, foram 290 elogios e 20 reclamações recebidas pela ouvidoria. Segundo Chaer, no caso das reclamações, “tem que resolver o problema. E se não for possível, pelo menos dar uma justificativa para o reclamante”.
“Desde meu começo aqui, tem duas coisas que eu disse que jamais iria aceitar: a falta de respeito com o colaborador e o paciente e corrupção”, ressaltou.
Apesar do avanço, Marcus Chaer sabe que o cronograma ainda não está concluído e que a continuidade das mudanças propostas depende diretamente da futura mesa diretora que deve ser definida a partir da criação de um estatuto e eleição dos membros que ocuparão os cargos que serão criados.
Para a mesa, ele defende a ideia de que as cadeiras devem ser ocupadas por representantes da Prefeitura, da Câmara, do Hospital e da Imprensa. De acordo com Chaer, “não há ninguém melhor para fiscalizar o trabalho da Santa Casa do que a imprensa” e que, por isso, deve ocupar umas das cadeiras da mesa diretora.