Médico orienta jovens mulheres para que optem pela cirurgia somente em último caso
Nasceu na madrugada de segunda para terça-feira desta semana o bebê João Hélio. Saudável, a criança nasceu com 3,2 quilos e a mãe, Zélia Fernandes Alves, teve parto normal. João e Zélia seriam apenas mais um caso de nascimento na Santa Casa de Fernandópolis se não fosse por um detalhe: a mãe havia feito laqueadura há dez anos, quando tinha 26, e arrependeu-se. Com 36 anos, resolveu arriscar em uma cirurgia para religar as trompas e depois de um mês, João Hélio já crescia na barriga de Zélia.
Casos como o de Zélia vêm aumentando nos últimos tempos, como relatou o ginecologista e obstetra Antonio Carlos Souza Flumignan. Resolvemos chamar a atenção das mulheres por causa disso. Muitas procuram o hospital para fazer a laqueadura quando ainda são muito jovens - geralmente na faixa dos 24, 25 anos. Anos depois, acabam tendo outros relacionamentos e se arrependem. E nem sempre a cirurgia que reverte o processo de laqueadura é possível, explica o médico.
A laqueadura, ou salpingectomia, é uma cirurgia de esterilização feminina, onde as trompas são cortadas para que seja impedida a passagem do gameta até o útero. Uma pesquisa realizada em 2005 pela Universidade de Brasília indica que 61% das mulheres que decidem evitar a gravidez acabam optando pela laqueadura e que, dentre estas, 47% se submeteram à esterilização na faixa de 20 a 25 anos e 35% entre 26 e 30 anos, no auge da fertilidade.
O que chama muito a atenção dos profissionais da medicina é também o alto índice de arrependimento das mulheres que fizeram a laqueadura. A mesma pesquisa da UnB indica que pelo menos 44% das pacientes procuram ajuda anos depois para a reversão da laqueadura, chamada salpingoplastia.
E assim foi o caso de Zélia. A costureira, que mora em Meridiano, já tinha quatro filhos do primeiro casamento quando decidiu, aos 26 anos, que não queria mais filhos. Dez anos depois, o companheiro de Zélia no segundo casamento não tinha filhos e expressou sua vontade de ter um com a esposa. Procurei o Dr. Antonio e ele conseguiu reverter a laqueadura. E deu tudo certo. Mas eu corri um risco a mais, passando por outra cirurgia. Por isso, indico que as pessoas pensem muito bem antes de decidir passar por uma operação dessas, aconselha Zélia.
A legislação brasileira também trata do assunto. Somente podem passar por procedimentos de esterilização mulheres com no mínimo 25 anos e que já tenham pelo menos dois filhos. Mas ainda insistimos para que as jovens conheçam os outros métodos anticoncepcionais, como o DIU, as pílulas, injeções, implantes e a camisinha. A laqueadura é um procedimento cirúrgico, traz risco como qualquer cirurgia, e ainda, muitas vezes, não oferece a opção da reversão. Por isso essa decisão deve ser tomada com muito cuidado e orientação médica, completa Antonio Flumignan.