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“Sem a ajuda do povo, o Asilo já teria fechado”



“Sem a ajuda do povo, o Asilo já teria fechado”

Neste domingo, o Parque Residencial São Vicente de Paulo, o nosso Asilo, como é chamado, vai realizar mais uma promoção. É a segunda edição da Festa do Milho. O dinheiro que for arrecadado vai para manutenção dos 60 idosos assistidos pela entidade. O presidente Onivaldo Iselli, não tem dúvidas em apontar: não fosse a solidariedade do povo, a entidade já teria fechado. Por uma razão simples: o dinheiro que vem da aposentadoria dos idosos e dos governos federal, estadual e municipal, é insuficiente para manter a estrutura de atendimento. Por isso, o Asilo, e todas as entidades, tem que recorrer a promoções. Hoje (sábado) é a AVCC, amanhã (domingo) é o Asilo e no próximo final de semana será a Apadaf e ADVF. Nesta entrevista ao CIDADÃO, o presidente do Parque fala, com emoção, da luta travada todos os 

dias para dar dignidade aos nossos idosos. Veja: 


Como surgiu a ideia de realizar a festa do Milho realizada pela primeira vez no ano passado e que já é um grande sucesso?
Vimos que outras cidades esse evento vinha acontecendo com sucesso e nós, precisando de dinheiro, de recurso para tocar o nosso Parque Residencial que tem uma despesa grande, veio na cabeça a ideia no ano passado de realizar a primeira para ver se dava certo. E deu, foi um sucesso, digo até que passamos vergonha porque faltou tudo, acabou tudo bem antes do horário previsto. Foi muito bom o resultado e agora vamos partir para a segunda.
Nesta segunda, vocês estão se programando ampliar a oferta de produtos?
Tem produto que estamos fazendo que vai mais que dobrar, coisa de 150% a mais do que fizemos no ano passado.
Uma festa como essa é bastante trabalhosa porque exige mão de obra grande. Como o Asilo está se organizando para este domingo?
É complicado. Estou desde o início do ano com insônia por causa da festa. Acordo a noite e fico pensando em milho e o que fazer. É bastante trabalho. Temos gente, mas não é suficiente e nem especializada. Temos que treinar o pessoal, mas está indo bem. O milho, o produto em si, também é escasso na região. Tempos atrás tínhamos muitas lavouras de milho, hoje é cana. Então temos até dificuldade com a matéria prima, mas temos conseguido boas doações que tem nos ajudado e muito nesta festa.
Como presidente do Parque Residencial, acredita que esta é uma festa que vai fazer parte do calendário da entidade?
Eu creio que sim, que os que me sucederem vão tocar essa festa, porque ela dá resultado e a população gosta. É uma festa prá ficar.
Estamos falando de uma festa que o Asilo realiza para poder se manter. A situação da entidades está cada vez mais difícil?
Sem dúvida, todas as entidades estão passando por dificuldades. Se não tiver promoções, não dá. Pode ver que todo o final de semana tem alguma entidade fazendo alguma coisa. No nosso caso também. É promoção, é baile toda a sexta-feira, quermesse, rifa, participamos da festa de Natal na praça, onde tiramos liquido 10 mil reais. Foi maravilhoso. Então essas promoções ajudam porque não temos despesa com mão de obra. Os nossos voluntários ajudam muito. Os vicentinos pegam pra vale e isso é gratificante.
Como estão as contas do Asilo, fecham no final do mês?
Não, se não tiver promoção as contas não fecham. Todo mês vai ficar no vermelho. Mas, com as promoções a gente consegue equilibrar, principalmente com o leilão de gado que é o nosso evento forte. Com essa promoção conseguimos diluir durante o ano. Temos também várias doações de pessoas que ajudam muito. Não fosse isso, já podia ter passado a régua. Se for depender das esferas governamentais é complicado. 
Hoje o Asilo atende quantos idosos?
Internos são 52 e nas casas são mais oito. Então são sessenta pessoas que são assistidos no Parque Residencial.
Além das promoções citadas, tem também a ação nos supermercados. O que essa ação representa para a entidade?
É fundamental. Um sábado de cada mês a gente fica em cinco supermercados e conseguimos arrecadar alimentos, arroz, feijão, óleo, macarrão, leite, suficiente para a gente passar o mês, sem ter que gastar dinheiro com isso. O povo banca a alimentação dos nossos idosos. Só fica faltando a mistura.
Quanto custa manter um idoso no Parque?
Pelo Conselho Estadual do Idoso, fica de R$ 1.500 a R$ 1.800 por idoso. Se for numa clínica particular, vai ficar em torno de R$ 2 mil. 
E quanto a entidade recebe para manter esse idoso?
De recurso garantido, são 700 reais, um pouco menos, porque são 70% da aposentadoria do idoso que hoje é de R$ 974 e mais 300 reais que é repassado pela prefeitura e o estado. Veja, que a conta não fecha. Então se não tiver os eventos, vamos ficar no vermelho. 
Para manter esses idosos, a entidade precisa manter uma infraestrutura mínima. Qual é esse custo?
Esse custo fica em torno de 80 mil por mês. 
E de onde sai esse dinheiro?
O que vem das esferas do governo, dá em torno de 23 mil, mais a aposentadoria que dá mais em torno de 40 mil. O restante temos que correr atrás com as promoções. 
Pode-se dizer que a solidariedade da população é que mantém as entidades abertas?
Se não for a população, nenhuma entidade ia sobreviver com verbas do governo. Posso dizer, repito, nenhuma delas estaria aberta. Não tem entidade com caixa bonito.
Por que o governo cada vez exige mais das entidades e ainda corta os recursos?
Corta e dificulta na hora de você fazer o pedido. É uma documentação, uma burocracia que não tem limite. Complica tudo. Tem mais um detalhe; além de complicar ele exige. Para você conseguir verba do governo precisa ter todo aquele pessoal técnico, enfermeiro, nutricionista, psicólogo, assistente social, coordenador, gerente administrativo. Em cada setor tem que ter um profissional e isso tem um custo, merecidamente porque são excelentes. Todo o nosso quadro de colaboradores são mais que isso, eles são também voluntários, porque vestem a camisa do Parque nas promoções. Eles não tem obrigação de ir lá ajudar na Festa do Milho, por exemplo, mas estão todos lá, com dedicação. Eles vestem e suam a camisa.
A entidade tem recebido verbas através de emendas de deputados?
Temos indicação de muitas emendas. Acho que temos uma meia dúzia de emendas, a maioria desse ano. Nem fizemos documentação ainda. Tudo prometido que tem boas verbas. Só tem uma, que é mais antiga que deve pintar a qualquer momento. Do tempo que estou no Asilo ainda não vi dinheiro nenhum, só conversa. De promessa, temos uns 300 mil reais. 
Esse dinheiro, se vir, qual será a destinação?
A maior parte vem com destino certo para comprar um equipamento e temos verba também para custeio, o que é interessante que dá para a gente jogar para manter a entidade durante o ano.
O recurso do Asilo é usado para manter o idoso. Como fica em relação a manutenção, por exemplo, reforma do prédio?
Acho que até cego vê que lá está precisando de uma reforma. Só que não tem verba para isso. Para compra de lençóis, rouparia em geral, a gente faz campanha e consegue porque o povo colabora muito. Tem verba prometida para reforma, mas ela só vem em 2019.
Como você define ser presidente de uma entidade hoje em dia?
É um desafio. A pessoa tem que ter amor. Se não tivesse amor pelos idosos eu não teria pego essa responsabilidade. É difícil (emociona-se). A gente sofre junto com eles, com funcionário que as vezes precisa de alguma coisa e não tem o que fazer. Por outro lado é gratificante, saber que estamos fazendo alguma coisa, que é um pouco daquilo que Deus espera da gente. Por isso estou lá.
Os jovens de hoje estão percebendo a necessidade de se engajarem no voluntariado, de ajudar as entidades?
Poucos, mas temos grandes exemplos de escolas que realizam um trabalho bonito de envolver os estudantes para arrecadar alimentos para o Asilo. Temos várias escolas, inclusive da região, que fazem esse trabalho em prol da nossa entidade. Isso é uma força grande que a gente tem, que nos dá entusiasmo para seguir em frente. Quando tem criança envolvida, tem esperança, são jovens que estão sendo educados para a solidariedade, fraternidade. São eles que vão assumir esse trabalho no futuro e que poderão mudar o mundo.
Como presidente do Parque Residencial São Vicente de Paulo, qual seria seu maior sonho?
Tem muita coisa para fazer. Se essas verbas prometidas vierem nós já temos projetado uma sala grande para inclusão digital dos idosos, uma brinquedoteca, com brinquedos em tamanho maior para eles se divertirem um pouco. Acho que nós precisaríamos ter lá para desenvolver uma boa atividade física uma piscina. Seria de grande valia para dar qualidade de vida para nossos idosos. Mais dignidade para eles. É um sonho que ainda pode acontecer, porque não?