Geral

SERENO, HÉLIO MALDONADO AGUARDA O DIA 2



SERENO, HÉLIO MALDONADO AGUARDA O DIA 2
Hélio Maldonado, tem 74 anos, dos quais 64 vividos em Fernandópolis. Nasceu em Catiguá-SP e trabalhou no Banco Bandeirantes entre 1950 e 1977. Casado com Vilma Velo Maldonado, pai de 3 filhos (Helio Filho, Ralph e Simone), esse homem culto, autodidata, amante da leitura, sofreu o maior impacto de sua vida no ano de 2000, quando Simone, a filha caçula, foi morta pelo marido, o médico Luiz Henrique Semeghini. Desde então, Helio tenta organizar o seu elaborado pensamento para compreender, filosoficamente, esse estranho desígnio. Às vezes amargurado, por outras resignado, Hélio Maldonado convive com essa dura realidade há seis anos e diz não abrir mão da justiça, sem ódio, mas aspirando a uma punição justa.

Glenda Scandiuzi


CIDADÃO: Depois de mais de 6 anos, acontecerá o julgamento do Luiz Henrique, acusado da morte de Simone. Qual a sua expectativa?
MALDONADO: Pela violência e crueldade do crime e por se tratar de um crime confesso e hediondo, eu tenho fundada esperança que se faça uma justiça compatível.

CIDADÃO: O que seria para o senhor uma justiça compatível?
MALDONADO: O direito é uma ciência complexa da qual não tenho nenhum conhecimento, portanto não saberia especificar exatamente a pena, em anos, mas aguardo uma pena compatível com a brutalidade do crime cometido.

CIDADÃO: O senhor pretende assistir ao julgamento?
MALDONADO: Vou assistir, fui arrolado como testemunha, assim como meu filho Ralph.

CIDADÃO: A Simone era sua filha caçula. Qual o seu relacionamento de vocês dois?
MALDONADO: Extremamente amoroso, de muito afeto e muita confidência (emoção). De total liberdade, eu sempre fui um liberal por excelência, e minha conduta para com a criação dos meus filhos não foi diferente. Simone sempre foi uma filha muito querida, que nunca me causou problemas nem aborrecimentos. Foi sempre boa, amável, carinhosa e responsável, excelente aluna. Aliás, meus filhos, sempre me deram muito prazer e felicidade. Helinho, engenheiro formado na Politécnica (USP) e Ralph, médico. Simone cursava psicologia na FEF.

CIDADÃO: E com o seu genro?
MALDONADO: Nós nunca fomos de famílias muito ligadas, mas a Simone, óbvio, fez essa aproximação. Uma moça tem todo o direito de escolher um namorado, o homem com quem vai se casar. Ninguém poderia imaginar, nem com a maior das premonições, que uma tragédia como essa poderia acontecer. Não houve oposições para que o casamento acontecesse. Eles ficaram casados treze anos e tiveram três lindos filhos.

CIDADÃO: O que mudou depois da morte dela?
MALDONADO: Posso afirmar, seguramente, que tudo mudou. Nossa família se desestruturou. A tragédia foi muito grande. Sofremos todos e continuamos sofrendo. Acho que nossos sofrimentos só terminarão quando partirmos desta vida. Avó, tios, primos também tiveram suas vidas modificadas e bastante entristecidas com o bárbaro acontecimento. Nós, particularmente eu, minha mulher e meus dois filhos, perdemos grande parte da alegria de viver. Vilma vive reclusa em casa. O desencanto, desânimo, a tristeza e a frustração tomam conta de nossas vidas.

CIDADÃO: Hoje, os três filhos do casal vivem com o pai. Caso ele seja condenado, com quem ficarão?
MALDONADO: Não tenho condições de dar esta resposta. Quando aconteceu o crime, nós ficamos com a guarda das crianças que na época tinham 12, 11 e 3 anos. Procuramos dar a eles todo o amor, carinho, proteção e amparo. Fizemos todo o possível para dar-lhes, além de toda a assistência material, muito amor para suprir a carência afetiva e falta enorme que sentiam da mãe. Infelizmente as coisas tomaram rumos diferentes, alheios a nossa vontade. Com certeza a justiça decidirá o futuro desses jovens.

CIDADÃO: Para o senhor, qual a pena maior? A da justiça ou a da consciência?
MALDONADO: Preocupo-me apenas com a justiça dos homens. O problema do peso na consciência só ele poderá responder.

CIDADÃO: Já se foram seis anos e o Luiz Henrique terá que conviver com isso o resto da vida. O senhor acha que ele se arrependeu?
MALDONADO: Esta é outra pergunta que só ele poderá responder. Não consigo, de forma alguma, me colocar no lugar de uma pessoa capaz de cometer tão bárbaro e cruel crime, para então dizer como me sentiria.

CIDADÃO: O senhor não acha que seus netos seriam duplamente castigados com a condenação do pai?
MALDONADO: Você está me questionando um assunto tão doloroso, tão de foro intimo que não encontro palavras para me expressar. O que todos sabemos e que norteia o nosso procedimento, é que existe independente de nós, uma lei, um direito, um código penal que pune o crime. A vítima não foi só minha filha Simone, mas os seus 3 filhos e todos nós. Respondemos com uma pergunta: Por acaso a impunidade suaviza o sofrimento?

CIDADÃO: Vocês pretendem fazer algum tipo de manifestação antes ou até mesmo no dia do julgamento?
MALDONADO: Não.

CIDADÃO: Quem deu a noticia da morte da Simone para vocês?
MALDONADO: Os pais dele.

CIDADÃO: Naquele instante, o que o senhor pensou?
MALDONADO: O choque foi muito grande. Gostaria que aquele momento nunca tivesse existido. Gostaria de apagar tudo o que presenciei e vivi naquele dia. Gostaria que tudo tivesse sido um sonho, um sonho mau. Não existe dor maior do que a dor da perda de um filho.

CIDADÃO: Desde aquele dia, há seis anos, o senhor espera o dia 2 de março?
MALDONADO: Não. Eu fiz o que era preciso fazer e tentei continuar vivendo.

CIDADÃO: O senhor acredita que um dia vai reencontrar sua filha?
MALDONADO: Em verdade, nós jamais a desencontramos. Ela está constantemente presente em nossas vidas.

CIDADÃO: Se um dia vocês se reencontrassem, o que o senhor diria para ela?
MALDONADO: Eu a abraçaria com todo meu amor (muita emoção).