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Sete anos reabilitando vidas



Sete anos reabilitando vidas

O Serviço de Reabilitação Lucy Montoro está comemorando sete anos de atendimento em Fernandópolis. Inaugurado em 2012, a unidade já atendeu mais de 170 mil pacientes de 52 cidades da região. Na comemoração, uma novidade que está melhorando a qualidade de vida dos pacientes atendidos: desde maio, foi iniciado o tratamento com a aplicação de toxina botulínica que reduz a dor e aumenta a amplitude de movimento dos pacientes. A unidade em Fernandópolis, que atende casos de lesões medulares, amputações e má-formação, lesões encefálicas do adulto, traumatismo craniano e acidente vascular encefálico, paralisia cerebral e dor incapacitante, também implantou o serviço de dispensação de órteses e cadeiras de rodas e se qualificou para a Residência Médica em Medicina Física e Reabilitação. Nesta entrevista para o CIDADÃO, o diretor técnico do Lucy Montoro em Fernandópolis, o médico fisiatra e professor, Dr. Flavio Benez, 40 anos, celebra essas conquistas com benefício direto para qualidade de vida dos pacientes atendidos. “Foi um grande avanço para a região. O Estado de São Paulo e Fernandópolis são privilegiados por contar com esse serviço. E temos que agradecer e fazer isso valer a pena”, diz, com a autoridade de quem conhece o Lucy Montoro como médico e paciente. Em 2014, Benez sofreu um acidente doméstico que o deixou tetraplégico. Veja a entrevista: 

O Serviço de Reabilitação Lucy Montoro em Fernandópolis está anunciando a novidade do tratamento com aplicação da toxina botulínica. O que significa esse tratamento?
É um grande avanço para nossa cidade, para a região e nossa instituição, graças aos esforços da nossa gerente administrativa Crisângela Resende Cantarella que através da Secretaria da Saúde conseguiu trazer essa novidade que coincidiu com os sete anos de instalação do Lucy Montoro em Fernandópolis (inaugurado em 2012). A toxina botulínica é utilizada atualmente para tratamento da espasticidade, que nada mais é que a contratura da musculatura que geralmente acontece em sequelas de paralisia cerebral, lesões encefálicas como AVC, traumatismos cranianos e lesão medular. Quando aplicada diretamente na musculatura, ela causa um relaxamento dessa musculatura evitando deformidades, reduzindo a dor, melhorando a mobilidade do paciente e consequentemente a funcionalidade do paciente. Foi um grande avanço que beneficia toda a região, porque o Lucy Montoro atende 52 municípios onde moram 450 mil habitantes. 
Nem todos pacientes atendidos no Lucy Montoro tem indicação para a toxina botulínica?
Existem critérios de eleição para que possa ser indicado a aplicação da toxina botulínica. E isso é feito pela equipe técnica, tanto pelo médico fisiatra, acompanhado dos demais terapeutas. Quando aplicada corretamente, traz benefícios significativos para a grande maioria dos pacientes. No entanto, existem os critérios onde o paciente precisa se enquadrar.
Quantos pacientes já recebem esse tratamento?
Começamos esse tratamento em maio e estamos fazendo em torno de 10 a 15 aplicações mensais. A toxina botulínica é aplicada na dose correta na musculatura escolhida e tem uma durabilidade em média de 4 a 6 meses. Posteriormente, o paciente é reavaliado e, se for o caso, faz-se nova aplicação.
Isso melhora qualidade de vida do paciente?
Não tenha dúvida, melhora a qualidade de vida, a higienização, a prevenção de úlceras, escaras, de lesões por pressão, a mobilidade, a função dos pacientes. Isso melhora também a qualidade de vida dos cuidadores. 
O Lucy Montoro recebe pacientes com diferentes tipos de sequelas. Quais são os casos para o tratamento com a toxina?
Recebemos pacientes com lesões encefálicas, lesão medular, paralisia cerebral e algumas outras patologias. No entanto, os que mais se beneficiam dessa aplicação são aqueles que apresentam essa contratura, essa espasticidade, que geralmente ocorre nesses casos. 
Outro benefício implantado no Lucy Montoro de Fernandópolis é oferecimento de órteses, próteses e meios auxiliares de locomoção para pacientes. Desde quando esse serviço é prestado?
Desde o ano passado. Essa foi uma parceria da administração com o Instituto de Reabilitação Lucy Montoro de São José do Rio Preto, que tem a Dra. Regina Chueire como diretora técnica, que conseguiu trazer para Fernandópolis a distribuição de órteses, próteses, de meios auxiliares de locomoção (cadeiras de roda, cadeira de banho, bengala), tudo que for necessário para que a gente possa melhorar a qualidade de vida dos nossos pacientes. Isso tem beneficiado muito os pacientes da nossa região, que antes precisavam ir a São José do Rio Preto para ter o atendimento. Agora, ele recebe aqui em Fernandópolis, graças a essa parceria.
Quando foi inaugurada em 2012, o Lucy Montoro em Fernandópolis era Unidade de Reabilitação, hoje é Serviço de Reabilitação, mas existem ainda os Centros e os Institutos. Qual é a diferença?
Antigamente tinha essa nomenclatura e abrangia determinado número de patologias e pacientes. Agora como Serviço, é outra graduação com outros tipos de benefícios. O Lucy Montoro de Fernandópolis atualmente é um Serviço, mas praticamente funciona como um Centro, pois temos a aplicação da toxina botulínica, a dispensação de equipamentos auxiliares e também a residência médica em Medicina Física e Reabilitação que foi outro ganho para a nossa unidade. Atualmente estamos com dois residentes. É uma residência reconhecida pelo MEC e recentemente reconhecida e credenciada pela Associação Brasileira de Medicina Física e Reabilitação, ou seja, nós estamos formando e capacitando profissionais médicos para se tornarem fisiatras que possam atuar na especialidade. Foi um grande ganho para nossa cidade, em parceria com a Universidade Brasil e sua Comissão de Residência Médica. Já, quando falamos em Instituto, ele está em grandes centros como São Paulo, São José do Rio Preto, onde existem as internações de pacientes para fazer o tratamento de reabilitação. Mas, aqui em Fernandópolis estamos praticamente no mesmo nível de Centros de Reabilitação, porque dispomos de toda a capacitação dos nossos profissionais. 
Em média quando pacientes passam mensalmente pelo Lucy Montoro? 
Desde a inauguração já atendemos mais de 170 mil pacientes. Em 2018 atendemos mais de 30 mil pacientes e este ano, já ultrapassamos 15 mil atendimentos. Atendemos em média 115 pacientes/dia.
Como médico fisiatra, o senhor assumiu a direção técnica do Lucy Montoro em 2012 e em 2014 sofreu um acidente doméstico que o colocou também como paciente. Como foi vivenciar essa complexa experiência?
Realmente, eu já trabalhava no Lucy Montoro quando ocorreu o acidente, essa tragédia, mas aqui no Lucy Montoro a gente escuta diariamente histórias como a minha e até, muito piores que a minha. Eu tenho que agradecer, porque sou uma pessoa privilegiada de ter a oportunidade de, além de trabalhar com pessoas com deficiência que é o que faço e gosto, eu trabalho em ambiente agradável e acolhedor. Lógico que, com certas limitações, mas continuo fazendo todas as minhas funções que desempenhava anteriormente. A relação médico-paciente ficou muito mais flexível. O paciente parece ter maior confiabilidade, consegue se expor mais, porque enxerga em mim, uma pessoa que passa pelos mesmos problemas que ele. Então, posso dizer que é um feedback muito bom o que garante um bom relacionamento entre médico e paciente. 
Sete anos de Lucy Montoro com todos esses ganhos, dá para imaginar Fernandópolis e região sem esse serviço?
Nem passa pela minha cabeça imaginar essa situação, estaríamos muito atrasados nesse tipo de atendimento. Se a gente voltar sete anos no tempo, iriamos verificar a situação dos pacientes que não contavam com esse atendimento. Muitos estariam em suas casas, isolados, sem poder voltar para suas atividades de trabalho, não estariam de volta à sociedade. Temos que pensar para frente, o que vamos fazer, e a intenção é que nosso serviço esteja cada mais avançado, em busca de novas tecnologias, novos conhecimentos. É isso que a gente pensa. O passado, antes do Lucy Montoro, era tenebroso para pacientes com deficiência física. Hoje existe uma esperança, uma luz. O Estado de São Paulo e a cidade de Fernandópolis são privilegiados por contar com esse serviço. E temos que agradecer e fazer isso valer a pena. 
Muitos dos pacientes que chegam aqui, são vítimas de acidentes automobilísticos, ou seja, se deparam com uma nova realidade com a ruptura da vida que vinham tendo. Como é o atendimento nesses casos?
Infelizmente, na nossa região temos um grande número de amputados, vítimas de acidentes automobilísticos, principalmente motos, pacientes com lesão medular. Quando chegam aqui, são histórias destruídas, desesperança, a família abalada. Para se ter uma ideia, para cada paciente com lesão medular, uma deficiência física, praticamente três a quatro pessoas acabam envolvidas. Nós trabalhamos com uma equipe multriprofissional que inclui psicólogo, terapeuta ocupacional, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, educador físico, enfermeira. Então, aqui ele é amparado, assessorado, recebe um tratamento humanizado e se sente acolhido. A nossa visão é que através desse acolhimento ele e sua família tenham esperança para iniciar todo o tratamento visando recuperar funções. A ajuda psicológica para o sucesso desse atendimento é fundamental.