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“Setembro Amarelo” quebra o silêncio sobre o suicídio



“Setembro Amarelo” quebra o silêncio sobre o suicídio

A médica psiquiatra Alinne Matias Terra Verdi é uma daquelas pessoas apaixonadas pelo que faz. Aliás, mais do que isso, ela transformou sua profissão em uma missão de vida: trabalhar no alívio do sofrimento das pessoas. Neste mês, em que se desenvolve a campanha “Setembro Amarelo”, de prevenção ao suicídio, Alinne fala sobre a necessidade de acolhimentos e tratamentos para que milhares de vidas sejam preservadas. Para ela a massificação promovida pela campanha “Setembro Amarelo” quebrou o silêncio e o tabu sobre o tema. “O suicídio ainda é um assunto evitado por muitos, considerado um tabu pra nossa sociedade, mas diante da grande divulgação e engajamento voltados à prevenção através da campanha Setembro Amarelo, temos visto uma melhora, dando oportunidade de diálogo e facilitando a diminuição de estigmas relacionados a psiquiatria e oferta de tratamentos”, diz ela nesta entrevista ao CIDADÃO. Alinne alerta as famílias que fiquem atentas aos sinais. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, nove em cada 10 casos de suicídio poderiam ser evitados. Veja a entrevista:


A experiência do Setembro Amarelo é recente: começou em 2014. Já dá para saber se a iniciativa está tendo algum impacto?
Sim. Embora seja uma campanha de início recente, o setembro amarelo abriu portas para se falar sobre a necessidade de acolhimentos e tratamentos para que milhares de vidas sejam preservadas! O objetivo maior desta liberdade de expressão é diminuir o estigma e alertar que esses pacientes precisam de ajuda! O suicídio é uma triste realidade que atinge diversas faixas etárias e geralmente é o desfecho de pessoas que necessitavam de um tratamento psiquiátrico regular e infelizmente não tiveram esta oportunidade. Existe um dado alarmante que fala que 50 a 60% dos casos de suicídio jamais tiveram atendimento de um profissional voltado a saúde mental.
E o público em geral, está falando com mais naturalidade sobre a prevenção ao suicídio?
A população em geral está bem engajada com a campanha do setembro amarelo! Notamos através de ações na comunidade, redes sociais, palestras de profissionais ligados à saúde mental o quanto o tema está sendo falado e isto é muito importante para que o paciente, os familiares não se sintam sozinhos! Saber que podem contar com uma rede de apoio, é muito importante! A maioria das pessoas que consumou um suicídio deu indício de que não estava bem! Apresentavam um discurso de desmotivação, de desesperança diante da vida, muitas vezes com uma autoestima baixa, conteúdo de menos valia! Precisamos ficar atentos a algumas frases como: “estou pensando em desistir”, “minha vida já não tem sentido”, “gostaria de dormir e não mais acordar”, “minha vida não é importante pro ninguém”, “não sentiriam minha falta”. Essas frases podem alertar pessoas próximas de que existe a necessidade de procurar um profissional para uma avaliação criteriosa.
Tradicionalmente, evitava-se falar de suicídio, com receio de que servisse de incentivo para o ato. Com o Setembro Amarelo, a visão mudou. A ideia anterior estava errada?
O suicídio ainda é um assunto evitado por muitos, considerado um tabu pra nossa sociedade, mas diante da grande divulgação e engajamento voltados à prevenção através do setembro amarelo, temos visto uma melhora, dando oportunidade de diálogo e facilitando a diminuição de estimas relacionados a psiquiatria e oferta de tratamentos.
O que houve para que se mudasse essa concepção? Foi o próprio aumento dos suicídios que mostrou que a estratégia anterior não estava dando resultado?
O crescente aumento no número de casos de suicídio trata-se de uma triste realidade mundial. Todos os anos perdemos cerca de 1 milhão de vidas no mundo e 12 mil suicídios são registrados no Brasil. Sabemos que esse número pode ser ainda maior devido os casos não notificados. Em 2014, o Conselho Federal de Medicina e a Associação Brasileira de Psiquiatria iniciaram a campanha de prevenção ao suicídio que tem sido muito bem acolhida por todos. Nunca sabemos quando vamos precisar de ajuda e essa campanha com o objetivo de divulgar informações pode alertar toda a população sobre como pedir e oferecer ajuda. 
Como as pessoas que convivem com um familiar ou amigo deprimido, que parece em risco, devem abordar o tema?
Ao menor sinal de risco, o profissional da área de saúde mental deve ser procurado e o apoio de familiares e amigos é de fundamental importância para o tratamento. 
No caso do jovem, como identificar quando ele está precisando de ajuda? 
Sabemos que as mudanças fisiológicas da adolescência, assim como fatores psicossociais e as próprias vivências podem ser fatores que levam ao desencadeamento de doença psiquiátrica, um gatilho para a pessoa que tem predisposição genética para desenvolver doença mental. Por isso devemos ficar atentos a alguns sinais. Em primeiro lugar, é necessária a observação. Os pais precisam perceber as mudanças de comportamento dos filhos, os sinais que crianças e adolescentes emitem quando estão passando por algum problema. Alguns destes comportamentos são isolamento, impulsividade, tristeza constante, distorção de imagem corporal, dificuldade de relacionamento com pessoas da mesma idade, insegurança, queda no desempenho escolar, crises de raiva, baixa autoestima, atração por comportamentos de risco, dentre outros.