Política

“Síndrome do vice” pode ter peso na balança em 2008



“Síndrome do vice” pode ter peso na balança em 2008
“Na próxima eleição, qualquer candidato a prefeito serve. Tem que prestar atenção é no vice...”. A piada mórbida circulou em Fernandópolis depois da morte, em 4 de fevereiro do ano passado, do prefeito Rui Okuma, o que ensejou a assunção da vice Ana Bim.
Okuma foi o segundo prefeito seguido a morrer no exercício do mandato. Antes dele, em março de 2002, o peemedebista Newton Camargo de Freitas faleceu depois de uma cirurgia em São Paulo e deu lugar a Adilson Campos, então no PT.
Tanto Adilson Campos quanto a atual prefeita, Ana Maria Matoso Bim, que é do PDT, foram duramente criticados por suas respectivas atuações à frente do Executivo. Muita gente os considera “os piores da história”.
Em favor de Ana Bim, registre-se que ela ainda vai completar um ano de mandato na próxima terça feira. Terá pela frente mais 23 meses para mudar a opinião pública. Já Adilson, que passou 33 meses no poder, não deixou saudade.
SINTONIA
As cobranças acabam sendo maiores porque, afinal de contas, o eleitor que escolheu Camargo ou Okuma “não votou” exatamente em Adilson ou Ana. Normalmente, o vice é escolhido através de costuras políticas, acordos e coligações. Assim, nem sempre seus pontos de vida coincidem com os do companheiro de chapa.
Segundo Alexandre Bento Damacena, professor de Direito Constitucional do Mackenzie e mestrando em Direito Político e Econômico, “as coligações normalmente ocorrem unicamente para fins eleitorais, nunca programáticos”.
Isso acaba produzindo situações esdrúxulas, como aconteceu na posse de Adilson Campos. Eleitores que jamais votariam no PT, mas que admiravam Camargo, viram o amigo de Lula assumir a prefeitura de Fernandópolis por força do voto dos próprios anti-petistas.
Com Ana Bim aconteceu algo parecido. Apesar da aparente sintonia com Okuma, demonstrada durante a campanha, o fato é que a pedetista foi alijada das esferas de decisão durante os treze meses da administração do colega de chapa. Com a inesperada morte do prefeito, teve início o processo de beija-mão, inclusive por parte de fornecedores e publicitários que antes esnobaram Ana Bim. Coisas da política.
HISTÓRIA
Nas últimas quatro décadas, os vices não tiveram participação de destaque no quadro político-administrativo de Fernandópolis. Em 1967, o prefeito Percy Waldir Semeghini, cujo mandato aconteceu entre 1963 e 1968, teve que se afastar durante alguns meses, por força de um processo judicial. Em seu lugar, assumiu o vice Jacob de Angelis Gaeti, o “Vigorelli”.
Nesse período, ocorreu o célebre episódio em que o juiz da Comarca expediu mandado de prisão contra todos os vereadores do município, por descumprimento de determinação judicial – não quiseram dar posse definitiva a Vigorelli.
Apenas dois vereadores não foram detidos, por estarem viajando. Um deles, porém – o inesquecível Zé Cearense – logo que chegou à cidade e soube do fato, foi se entregar à polícia, em solidariedade aos colegas. No final, um habeas-corpus permitiu que Percy retornasse à cidade – e ao cargo.
Já Arlindo Alves Garcia, o vice de Leonildo Alvizi (gestão 1969/1972) jamais chegou a assumir. O mesmo aconteceu com Antonio Gonçalves, conhecido como “Compadre”, vice de Antenor Ferrari entre 1973 e 1976. Diz a lenda que Gonçalves implorava a Ferrari: “Pelo amor de Deus, compadre, não morra!”. Deve ter funcionado, porque “Pavão” está vivo até hoje.
Durante sua primeira gestão, entre 1977 e 1982, Milton Edgard Leão deu vez a seu vice, João José de Paula. O titular não abria mão de tirar um período de férias no verão. Num desses afastamentos, João de Paula comprou um belo automóvel Gálaxie para o uso do chefe do Executivo.
As más línguas diziam que fora Leão quem determinara a compra a João, “para não se queimar politicamente”. Na última quarta-feira, Leão, sorridente, se recordou do episódio. Entretanto, negou que tenha sido o autor intelectual da aquisição do carro: “Ele agiu por conta própria, influenciado por vereadores, que queriam fazer viagens confortáveis a São Paulo”.
O advogado Rubens Dalton Garcia Stropa, o “Binho”, foi o “super-vice” de Newton Camargo entre 1983 e 1988. O superlativo se deve ao fato de que, naquele tempo, havia sublegendas partidárias, e o PMDB lançou três candidatos: Camargo, Fernando Sisto e Manoel Verdi. O vice, contudo, era sempre Stropa. Venceu Camargo, que nunca cedeu a cadeira preta ao jovem bacharel.
Entre 1989 e 1992, voltou à prefeitura Milton Leão, desta vez tendo como vice Orlando Manoel Garcia. Leão manteve seu critério de tirar férias. Só que Orlando preferia administrar discretamente, sem mudar o curso estabelecido pelo titular.
Já Luiz Vilar de Siqueira (1993/1996) nunca deu vez a seu vice Livio Vono. Vilar administrou com mão de ferro e jamais tirou férias. Os funcionários municipais diziam, em tom de brincadeira, que ele até cobria a famosa cadeira preta com uma capa, durante os finais de semana.
A cadeira mudou de cor - passou a ser vermelha - quando Armando Farinazzo, do PSDB, ganhou as eleições de 1996 e administrou entre 1997 e 2000. Seu vice era Alcides do Faria, suplente de deputado. Ele foi chamado a assumir na Assembléia Legislativa e teve que renunciar. A cidade acabou ficando sem vice-prefeito durante aquele quadriênio.
Com os episódios dos falecimentos de Camargo e Okuma, o eleitor de Fernandópolis já decidiu: nas próximas eleições, além de analisar com cuidado as virtudes e os defeitos do candidato, vai observar criteriosamente o nome do vice – que, ficou claro mais do que nunca, não é uma figura decorativa.