Passaram-se quatro meses desde que Caio Gustavo Rodrigues, 12 anos, foi atropelado próximo a um supermercado na Cohab Antônio Brandini. O garoto, que é deficiente visual, foi atingido por um carro na rua, já que não pôde utilizar a calçada do estabelecimento para fazer seu caminho de volta para casa depois das compras.
No acidente, Caio fraturou o fêmur e passou por uma cirurgia delicada onde foram implantados uma placa de platina e seis pinos em sua perna. Desde então o menino, que passou o Natal no hospital, está preso a uma cadeira de rodas até se recuperar totalmente e voltar a firmar o pé no chão.
Na época, o supermercado recebeu ordens para impedir o estacionamento dos carros dos clientes sobre a calçada paralela ao local. Um morador do bairro, que pediu para não ser identificado, contou que em menos de uma semana os responsáveis pelo supermercado permitiram que os clientes voltassem a estacionar na calçada.
Ficaram apenas um dia sem permitir o estacionamento ilegal. Depois não fizeram mais nada. O caso passou na televisão, mas mesmo assim, nem o supermercado nem os clientes respeitam, disse D.S.G.
A assistente social e presidente da Associação de Deficientes Visuais de Fernandópolis (ADVF), Célia Mafra, que defende o aumento de espaço mínimo para pedestres nas calçadas, diz que esse fato marca a falta de respeito dos comerciantes com os deficientes e outros pedestres.
A calçada continua a ser usada como estacionamento. Exatamente como estava antes da denúncia da TV Tem. O que adianta a gente tomar providências em nome dos deficientes, reclamar com as autoridades, se os comerciantes pensam que estão acima das leis?, disse.
Célia acrescentou que a responsabilidade de fiscalização é da prefeitura e que cabe aos fiscais municipais prestarem atenção nas irregularidades que ocorrem na cidade.
O supermercado não é o único estabelecimento que não respeita a lei de 0,90 centímetros livres para pedestres. Passei em frente a um bar da Avenida Expedicionários esta semana e foi impossível caminhar ali. Se agora não respeitam a lei, imagina quando o espaço for aumentado para 1,2 m livre.
A mãe de Caio, Silmara Rodrigues, também está indignada com o fato de o supermercado ainda permitir que carros estacionem no local.
Existe um movimento forte na cidade para aumentar o espaço livre para pedestres. De qualquer jeito o supermercado deveria respeitar a lei de 0,90 cm. É revoltante que depois do que aconteceu com meu filho a situação ainda continue a mesma, desabafou.
Além de declarar que acha a situação desrespeitosa, Silmara faz coro à reclamação de Célia em relação à falta de fiscalização da prefeitura. Ela acredita que, se os comerciantes desrespeitam, a lei é porque a fiscalização não tem sido eficaz.
Não entendo como isso ocorre. Se existe a fiscalização, por que cadeiras e carros continuam invadindo lugares destinados a pedestres? É muita falta de respeito.
A projeto que pede o aumento de espaço livre nas calçadas de 0.90 cm para 1,2 m para pedestre criado pelo promotor Denis Henrique e a assistente social Célia Mafra tem o nome de Caio Gustavo em homenagem ao garoto. Ele é muito esperto e tem um Q.I. alto. Ser deficiente visual não atrapalha o desenvolvimento dele, elogiou Célia.
Segundo a assessora de imprensa da prefeitura, Suelen Souza, a responsabilidade da fiscalização não é diretamente ligado à prefeitura e sim ao Comutran - Conselho Municipal de Transportes.
Não foi ninguém da prefeitura pedir a retirada dos carros, acredito que tenha sido a Justiça, disse. A assessora contou também que os donos entraram com um pedido de regularização, mas ainda nada foi concedido. O pedido ainda está sendo analisado.
A equipe de Jornalismo do CIDADÃO tentou localizar os responsáveis pelo supermercado pelo telefone, no entanto não foi possível localizar ninguém.