Etivaldo Vadão Gomes é mestre de vários misteres. Político bem-sucedido, ele obteve cinco mandatos consecutivos à Câmara Federal. Empresário do ramo frigorífico, Vadão estendeu os tentáculos em outras direções. Tem transportadora, fábricas de embutidos, trade de comércio exterior, 32 entrepostos espalhados pelo país e até uma representação no Egito. É ainda produtor rural, homem providencial do Hospital do Câncer de Barretos e muito mais. Em meio a tudo isso, porém, há um personagem que é o seu favorito: o Vadão meio acaboclado, que gosta de contar histórias, trocar dois dedos de prosa com os amigos e lembrar dos tempos do Povoado do Sol, onde nasceu. Nesta entrevista, o leitor verá algumas pinceladas dos muitos Vadões que há em Etivaldo.
CIDADÃO: Qual é o balanço possível de se fazer do ano político de 2007?
VADÃO: Foi um ano muito positivo, porque tivemos um crescimento econômico favorável, a geração de empregos melhorou, embora não no nível necessário e esperado, a melhor distribuição de renda pôde ser sentida por todos nós, o poder de compra aumentou. Embora lentamente, acho que estamos num caminho favorável, principalmente para os mais pobres. Quando se vê no cenário internacional excesso de liquidez, de dinheiro, e que entre os países emergentes, onde se pretende fazer a aplicação desses recursos, o Brasil é o mais adequado a recebê-los, o quadro é de otimismo. Tenho certeza de que o crescimento da economia brasileira acontecerá em curto prazo, e teremos um milagre econômico em termos de oportunidades e geração de empregos.
CIDADÃO: Nesse contexto, o fim da CPMF é positivo?
VADÃO: É altamente positivo. O fim da CPMF, por si só, é um fato gerador de empregos, porque as empresas, sejam de que tamanho forem, poderão investir significativamente em melhorias, e conseqüentemente em criação de empregos. Os tributos são perversos, vêm em cascata, paga-se várias vezes o mesmo produto. O rico reclama que paga, mas não paga; e o pobre acha que não paga, mas paga! Acredito que o fato de não termos aprovado a prorrogação da CPMF fará com que o governo tenha objetividade, porque com a quantidade de tributos existente no país, temos uma ótima receita. O que é preciso é haver uma distribuição maior de responsabilidades, com mais gente pagando e quem ganha mais pagando mais, é claro mas com tributos mais justos e com arrecadação mais adequada, o que com certeza ajudará muito a superar as fases de excesso de tributos por que passamos. A burocracia também prejudica a atividade empresarial, e as confusões legislativas também. Sabe de uma coisa? Acho que o governo, na verdade, não queria prorrogar a CPMF. Passou tudo que ele queria no Congresso, no Senado. No fundo, acho que ele, governo, queria era provocar o Congresso a aceitar uma reforma tributária ampla, geral. Até os aliados deixaram de votar a favor.
CIDADÃO: Para o Vadão empresário, o que significou o fim da CPMF?
VADÃO: Eu pagava R$ 300 mil mensais de CPMF. Com o fim dessa sangria, acho que em dez anos será possível gerar pelo menos mais 5 mil novos empregos nas nossas empresas. O governo tem superávit de arrecadação, o crescimento de 6% mostra que os R$ 60 bilhões que se arrecadou a mais bastarão para superar a ausência da CPMF, sem dificuldades. Acho que o governo até vai tentar arrecadar mais. Porém, não será por necessidade de orçamento. O que temos que fazer é modernizar a arrecadação.
CIDADÃO: Uma enquete realizada recentemente em Fernandópolis mostrou que a migração dos votos do falecido José Fernandes Santa Rosa, pré-candidato a prefeito, acontecerá preferencialmente em favor de Paulinho Okuma, filiado ao seu partido, o PP. Como o sr. analisa esse resultado?
VADÃO: Sem dúvida nenhuma, é importante o resultado. Quando o Rui (Okuma) era candidato, eu dizia a ele: Sabe por que vamos ganhar a eleição? Porque no final, no meio de tantos nomes, as pessoas passarão a observar quem é que tem mais qualidade para administrar o seu patrimônio, que é a sua cidade. Quando os votos migram do Santa Rosa, que era uma pessoa com muita identidade com os humildes, entendo que são votos que vêm de um eleitor que vota fazendo uma análise mais fria da situação. E por quê? Porque as pessoas com posição ideológica mais definida têm paixão, seja pelo partido, seja por uma liderança. O mais pobre quer saber é do resultado, da capacidade do gestor em administrar bem sua cidade. Naquela eleição do Rui, nós começamos em terceiro lugar e terminamos em primeiro. Então, se os votos do Santa Rosa vão para o Paulinho Okuma, é porque ele tem o melhor perfil de gestão. Por isso, não tenho dúvida de que essa enquete está corretíssima.
CIDADÃO: Nessa perspectiva, o PP deve lançar candidato em Fernandópolis? Já houve alguma conversa nesse sentido?
VADÃO: O PP deve lançar candidato, sim. Nós ganhamos a eleição (de 2004)! Tivemos dificuldades, como essa coisa do destino que foi a morte do Rui. Seria até uma covardia de nossa parte não lançar candidato. Houve a frustração da perda de um grande administrador como o Rui, que fez um trabalho maravilhoso de conserto da cidade no pouco tempo em que lá esteve.
CIDADÃO: Alguns dos seus amigos de Fernandópolis reclamam...
VADÃO: (interrompendo): ...da minha ausência (risos). Veja, eu nunca tirei férias. E não viajo para lugar nenhum. Fico aqui no meu dia-a-dia, eu trabalho. Sou um deputado que tem mais ocupação do que os outros, talvez eu seja o mais ocupado da história do Parlamento (risos). E há as obrigações continuadas, como o Hospital do Câncer, que é um trabalho sem volta e sem folga. Sou um parlamentar da instituição (o hospital), aquele que efetivamente cuida do hospital, sem usar politicamente isso, me absorve muito tempo. Além disso, tenho 5 mil funcionários para pagar por mês, não é? Então, minha presença física pode não ser constante, mas eu não iria mesmo fazer politicagem, coisa que nunca fiz. Essa reclamação dos amigos é carinhosa. Nos meus cinco mandatos, a reclamação é sempre a mesma. Mas estou mais presente do que qualquer outro deputado. Se você for marcar uma entrevista com qualquer outro parlamentar votado, vai achá-lo onde? Numa agenda marcada para a região, programada. Ao acaso, só o Vadão. Eu sou o amigo da hora que seca, da hora da dificuldade. Aí, sempre me acham. E isso faz a diferença. Tenho amigos que brincam: Se o Vadão tivesse tempo, não teria pra ninguém! Eles querem dizer que não seriam abertos espaços políticos para ninguém. Então, quando falo que eu abri espaço para o Julio Semeghini, contando com que ele fosse eleito para auxiliar o trabalho, isso é realidade. Não sei se ele cumpriu a missão dele ou não, acho que falta para ele morar aqui na região. Quem não mora não sente as dificuldades. Eu recebo as pessoas na minha casa, onde moro, aqui em Estrela DOeste. Não mudei de casa nem de família, nem de nada. Nem a maneira de ser. E consigo mandatos bem votados. Nessa última eleição, a diminuição da votação se deveu ao fato do (Paulo) Maluf ter saído candidato a deputado federal. O próprio Maluf calcula que levou uns 100 mil votos que eram meus. Eu não faço politicagem, não prometo o que não posso cumprir. Nunca vendi um quilo de carne para o governo, nunca transportei nada para o governo. Quando fui falar na Câmara que não uso 100% a verba de gabinete, até criei um mal-estar entre os colegas. Mas é do meu feitio, eu estou lá para servir, cumprir uma missão, e não para tirar vantagens. Acho a missão que Deus me deu é linda. Um cara que foi pouco à escola, e teve a oportunidade de fazer gestão empresarial bem-feita e gerar empregos, além de se sair bem na política afinal, são cinco mandatos consecutivos, morando na mesma cidade, uma cidade que não tem densidade eleitoral para me eleger. Eu tenho é amigos, que me acompanham e acreditam em meu trabalho. Eu não piso na bola.
CIDADÃO: O sr. foi procurado por políticos de Fernandópolis para discutir candidaturas, dobradinhas?
VADÃO: Fui procurado pelo Santa Rosa. Várias vezes. Ele me disse que só ganharia com o meu apoio. O Paulinho (Okuma) não precisa me procurar porque somos parceiros, ele me apoiou na eleição. Apenas temos que conversar no momento certo e ver o que fazer. Acredito que o momento certo não é agora, é muito cedo. A Ana (Bim) também é minha amiga, tem freqüentado o gabinete, depois da posse dela alguns recursos pedidos na época do Okuma saíram já em sua gestão. A Ana foi uma lembrança minha na época do Rui, para colocá-la de vice. Uma escolha pessoal minha. Mas com o Paulinho, vou conversar mais para frente, uns dois ou três meses, e ver o que é mais adequado para o nosso grupo e para Fernandópolis. Fui procurado também por algumas pessoas ligadas ao Luiz Vilar, agora lembrei, você deve saber disso até. Vieram aqui em casa falar sobre política, compromissos futuros e tal, mas também sugeri que fosse um pouco mais para frente.
CIDADÃO: Onde é que o pouso do seu avião é mais agradável? Em Brasília, São Paulo, Goiás ou em Estrela DOeste?
VADÃO: Aqui em Estrela (risos). O trabalho exige esses deslocamentos constantes, só nos últimos três dias voei 10 mil km. Infelizmente, os casos de câncer na região são muitos, fiz várias intervenções esses dias para alojar pacientes em Barretos e no Hospital Sarah Kubitscheck de Brasília. Voltar para casa é uma coisa gostosa, rapaz! Sempre digo que tive o privilégio de voltar para casa. Em 1979, fui morar em Americana, e tive o prazer de voltar para o meu terreiro, ficar com meus amigos. Isso prova que o dinheiro não é tudo. Família e amizade são os maiores patrimônios que o ser humano pode ter.