Um fenômeno bastante acentuado na paisagem urbana da Fernandópolis do século XXI é a proliferação das casas de estudantes, as chamadas repúblicas fenômeno bastante comum, há três ou quatro décadas, em cidades dotadas de muitas faculdades, como São Carlos e Ribeirão Preto.
Essas repúblicas fernandopolenses têm nomes curiosos, dados pelos próprios moradores. Um exemplo é a República Domínio & Cana, onde hoje vivem 4 estudantes - Camila, de Votuporanga, Wanessa, de São Paulo, Janete, de Ouroeste, e o recém-dominado Caio, de Chapadão do Sul/MS.
O nome anterior era República Tcheca. Enquanto morávamos somente em três meninas era República Tcheca, mas com a chegada do Caio, nós resolvemos mudar o nome de nossa república. Com um homem morando com a gente não dava mais para continuar com o nome antigo né?, disse Wanessa, ao lado de Janete e Caio.
A outra moradora, Camila, estava em Votuporanga. Os três estudantes contabilizavam e dividiam as despesas mensais da Domínio & Cana no momento da entrevista.
Esta é a hora mais difícil, a mais desgastante quando se mora em uma república, a divisão dos gastos, mas nós sempre chegamos a um acordo, garante a paulistana. Janete, por sua vez, diz que discussões e reclamações de vizinhos são realmente comuns quando se trata da agitada vida universitária das repúblicas, mas que, para ela, a amizade com um sobrinho de uma vizinha, a salvou de uma noite ao relento.
Voltei de uma festa onde todas nós nos desencontramos, e eu perdi minhas chaves. Por sorte, minha vizinha deixou que eu dormisse em sua casa, lembra a universitária.
Na República K-Zona, onde vivem 6 estudantes (Tripa, Zóio e Hernando, de Costa Rica/MS; Gaúcho, de Ijuí/RS, Rato, de Pereira Barreto/SP e Diego, de Cassilândia/MS), segundo diz a história republicana de Fernandópolis, já reuniu em uma festa, cerca de 600 pessoas, honrando o nome K-Zona.
Naquele dia realmente valeu o ditado de que sempre cabe mais um, nós realizamos uma grande festa. Hoje moramos em seis companheiros, e continuamos realizando nossas festas, curtindo a vida e, claro, estudando sempre, afirmou Gaúcho.
Festas, saudade e uma pitada de sal
Na Total Flex, dividida por 4 estudantes - Du, de Votuporanga, Renato, de Jales, Dário, de Três Lagoas/MS e Rodrigo São Paulino, de Fernandópolis, o mais comum são as histórias de homéricas bebedeiras.
Aqui nós gostamos de fazer festa, claro que fora das épocas de prova, porque aí não dá, a ressaca no dia seguinte é forte. Várias vezes nossos amigos e convidados dormem aqui mesmo, não dá pra ir embora depois de uma festa na Total Flex, diz Du.
Dário, natural de Três Lagoas, diz que o telefone e o MSN são muito utilizados para diminuir a saudade de casa. Enquanto ajudava seu companheiro republicano Du, colocando a mão na massa durante o preparo do almoço, ele confessou que a saudade de casa e da família às vezes bate forte.
Temos que aproveitar os feriados prolongados e ir pra casa, aproveitar muito o tempo que temos para matar a saudade, disse Dário.
Ele não é muito chegado em cozinhar não, encostar a barriga no fogão não é muito a praia dele, garantiu Du, pouco antes de alertar o amigo. Não desliga o fogo não, ainda não coloquei o molho de tomate na carne, e você também se esqueceu do sal.
Pingos nos is
Seis rapazes de uma república hoje sem nome, tiveram que se curvar à ira de uma das namoradas dos universitários, e viver no anonimato.
Nossa república se chamava Pípi Nelas, mas aí não rolou mais esse nome depois que a namorada de um dos moradores tomou conhecimento. Tínhamos até mandado fazer uma faixa, mas tivemos que tirá-la, disse um dos moradores.
Dormir em dias de jogos de futebol nessa república é uma tarefa praticamente impossível.
Quando o meu time ganha, eu faço festa e não deixo ninguém dormir. No jogo seguinte pode acontecer o contrário, mas o barulho é o mesmo. Invasão dos quartos de madrugada e som alto faz parte das nossas comemorações, e o mais importante é não deixar ninguém dormir, garante outro dos anônimos.
Em uma das mais antigas repúblicas da cidade, a Mansão Casarão, moravam 10 universitários. Na casa, que hoje é uma pensão para estudantes, há piscina, mesa de bilhar e sauna. Muitos podem achar que a vida em uma república sai caro, pesando no bolso dos pais dos estudantes. Porém, se as contas forem colocadas na ponta do lápis, após a divisão dos gastos cada morador fica com uma parcela mais leve do que se imagina para pagar no fim do mês.
A identidade das Repúblicas
Algumas Repúblicas explicitam nomes engraçados, intuitivos e sugestivos, outras recorrem à linguagem cifrada, e que lidas através de um espelho, redundam em sonoros palavrões: Kinder (cada dia uma surpresa); Entrometeu; H-Romeu; Aqui o pé não dói; Mansão Casarão; Subaco de Cobra; Kafofo; Pai Trocínio; Toddynho; Pípi Nelas; Atecubanos;