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Zequinha, o carteiro com memória de computador



Zequinha, o carteiro com memória de computador
José Carlos Pessoa, o “Zequinha”, não impressiona apenas pela simpatia e pelo sorriso constante. Esse fernandopolense de nascimento tem 45 anos, é casado com Cleusa, tem um filho de 5 (João Pedro) e 15 anos de serviço na ECT – Empresa de Correios e Telégrafos. Zequinha já trabalhou no comércio de medicamentos, mas depois que virou carteiro descobriu sua vocação – além de uma peculiaridade fantástica: ele sabe, de memória, os endereços de quase todos os moradores da cidade! Nesta entrevista a CIDADÃO, Zequinha fala do trabalho, da recente greve dos Correios, de política e – surpresa!, rock and roll, uma de suas paixões. No final, fizemos um teste com ele, citando alguns nomes aleatoriamente.

Zequinha disse seus endereços sem pestanejar, conferimos na lista telefônica e...absolutamente certo!!, como diria um antigo apresentador de TV.


CIDADÃO: De onde vem a sua fama de ter uma memória prodigiosa para nomes de ruas e endereços de moradores da cidade?
ZEQUINHA: Acho isso acontece principalmente por que eu gosto do que faço, sempre gostei. Desde quando eu trabalhava em farmácia, tinha facilidade para dizer os endereços das pessoas. Deve ser coisa de família, porque o meu pai também era assim. Eu também era bom para decorar bulas de remédios. Outra coisa que acontece comigo, não sei se com os outros isso ocorre, é guardar imagens muito nítidas da minha infância. Lembro de coisas do pré-primário como se tivessem acontecido ontem. Os detalhes da escola “Coronel”, onde estudei do pré até a 8ª série, estão muito claros na minha cabeça.

CIDADÃO: Qual é o seu nível de escolaridade?
ZEQUINHA: Tenho o segundo grau completo.

CIDADÃO: Você tem alguma técnica, algum truque para desenvolver a memória? O deputado Paulo Maluf, por exemplo, usa a memória mnemônica, que consiste em associação de idéias.
ZEQUINHA: Acho que é um pouco de intuição e muita capacidade de fixação. Mas também tem isso de associação, porque eu associo a fachada da casa à pessoa. E vou lhe dizer uma coisa: lembra quando a prefeitura mudou a numeração dos prédios em Fernandópolis, há uns 10 anos? Pois bem, a numeração antiga eu sei também.

CIDADÃO: A minha casa, por exemplo, hoje tem o número 1015. Você lembra o número antigo?
ZEQUINHA: 333 (risos). Mas, falando sério, esse fato de saber a numeração antiga ajuda muito porque, principalmente quando percebemos que se trata de uma correspondência importante, e que venha com o número antigo, fazemos força para localizar o destinatário e entregar.

CIDADÃO: Bem, você tem uma vantagem adicional que é conhecer “todo mundo”. Você é fernandopolense de origem, não é?
ZEQUINHA: Sim, e conhecer a população ajuda muito. Se eu fosse entregar cartas em Votuporanga, claro que não teria a mesma facilidade.

CIDADÃO: Quantos quilômetros você anda por dia?
ZEQUINHA: Depende do distrito. Tem alguns deles em que a gente anda 25, 30 quilômetros por dia. Quando tinha um número reduzido de carteiros, chegávamos a andar tudo isso. Hoje, acho que a média é de uns 15 quilômetros.

CIDADÃO: A coisa chega a complicar, nesta época do ano, de calor e baixíssima umidade relativa do ar?
ZEQUINHA: Sem dúvida. Em algumas cidades, os carteiros chegam a mudar os horários de trabalho, para pegar um clima mais ameno. Mas aqui, não fazemos isso. Só que não é fácil, não.

CIDADÃO: Qual a razão da recente greve do pessoal dos Correios?
ZEQUINHA: Na verdade, aqui nós não entramos em greve. Mas, o fato é que nós temos uma perda salarial de 47%. Em linhas gerais, essa é a maior razão. A perda vem desde o governo de Fernando Henrique Cardoso, a reivindicação é essa. No patamar das autarquias, nós somos quem menos ganha. E trabalhamos muito, num serviço que é essencial para movimentar a economia. Quais são os maiores clientes dos correios? As instituições financeiras, não é?

CIDADÃO: Você tem fama de ser um profissional muito querido pela população, principalmente pelo seu bom-humor. De onde vem essa característica?
ZEQUINHA: Isso vem de família e do convívio no comércio, pois eu nasci praticamente dentro do comércio. Aprendi a ser educado, a tratar bem as pessoas. É uma coisa que a gente acaba incorporando, e eu não quero deixar de ser assim, de jeito nenhum. Graças a Deus, nunca houve uma reclamação contra mim, de que eu fui mal-educado com alguém.

CIDADÃO: Fala-se que alguns partidos políticos já o teriam assediado, para que se lançasse candidato a vereador. Isso aconteceu mesmo?
ZEQUINHA: Aconteceu, e não sei não se eu não vou sair candidato. Tô pensando seriamente...(risos). Olha, a verdade é que eu sou filiado ao PSDB há muitos anos, e políticos de outros partidos andaram conversando comigo.

CIDADÃO: Como você vê a cidade atualmente? Qual é a maior carência?
ZEQUINHA: Falta o de sempre: união. Faz tempo que eu não vou às sessões da Câmara, mas escuto pelo rádio. Não aceito o comportamento que os vereadores de hoje em dia têm. Enquanto um vereador está na tribuna, os outros estão cochichando, rindo, batendo papo, têm alguns que até ficam entrando e saindo. Ora, se o colega está tratando de algum assunto de interesse da cidade, os vereadores têm que prestar atenção. É desrespeito, é desunião. Tem outros fatores, como o aumento do IPTU, na época do Vilar, que prejudicou a cidade, mas não pode falar só do prefeito, porque os vereadores aprovaram aquele aumento. Tem o fato do governo municipal do PSDB não ter aproveitado o fato de ter um governador e um presidente da República do PSDB. O (Armando) Farinazzo tava com a faca, o queijo, a mortadela e o requeijão na mão, e não soube aproveitar.

CIDADÃO: Você também tem fama de roqueiro. Quem são seus ídolos no rock’and roll?
ZEQUINHA: Sou fã do Mick Jagger dos Rollings Stones, e também do Led Zeppelin, do The Who, Pink Floyd. A banda Nazaré me marcou muito.

CIDADÃO: Queremos fazer um teste com você. Vamos dizer alguns nomes de pessoas e você vai falar seus endereços, está bem?
ZEQUINHA: OK, vamos lá.

CIDADÃO: Digamos...Dr. José Milton Martins?
ZEQUINHA: Rua Geraldo Fileti nº 172.

CIDADÃO: Já que você falou nele: Armando José Farinazzo?
ZEQUINHA: Avenida Vergniaud Mendes Caetano nº 798.

CIDADÃO: Maximus Cláudio Maraldi?
ZEQUINHA: Rua São Paulo nº 1542.

CIDADÃO: Elen Dias?
ZEQUINHA: Rua Bahia nº 1089. Fica em frente à casa do Paulão, que é nº 1074 (risos).

CIDADÃO: O lugar onde você gosta de tomar uma cervejinha: Bar Grade Ferro?
ZEQUINHA: Tem dois endereços, porque é de esquina: Avenida Duque de Caxias nº 202 e Rua Ricardina Batista nº 367.

CIDADÃO: Chega! (risos).