As consequências da pandemia do novo coronavírus estão causando pressão psicológica e estresse em grande parte da população afetada. As incertezas provocadas pelo covid-19, os riscos de contaminação e a obrigação de isolamento social podem agravar ou gerar problemas mentais.
“Assim, pode ser desenvolvido um distúrbio, com sintomas físicos, psíquicos e emocionais, por conta dessa experiência traumática”, diz a médica Dra. Daniela Cruz.
Nesta entrevista ao CIDADÃO, a médica lembra que “a empatia é um remédio milagroso para a vida, e seu poder de ação pode se sobressair em momentos de situação traumática como a quarentena e o isolamento social”. Empatia significa a capacidade psicológica para sentir o que sentiria uma outra pessoa caso estivesse na mesma situação vivenciada por ela.
Veja a entrevista:
Uma das preocupações em meio a pandemia está relacionada à saúde mental das pessoas. Quais os riscos para a população?
Em tempos de situações extremas, como a que estamos vivenciando atualmente, há um desgaste psicológico muito grande devido às incertezas a curtos, médio e longo prazo, além do risco de contaminação, necessidade de isolamento social, o que pode agravar ou causar problemas mentais. Assim, pode ser desenvolvido um distúrbio, com sintomas físicos, psíquicos e emocionais, por conta dessa experiência traumática.
Quais os sinais de estresse causados pela pandemia e que já podem ser sinal de alerta?
Alguns sinais e sintomas que aparecem em situações como essa são: pensamentos recorrentes e intrusivos relacionados à pandemia, pesadelos, suor excessivo, coração acelerado, distúrbios do sono, irritabilidade, tonturas, sentimentos negativos em se proteger da situação de risco, perda de esperança, sensação de vazio, dentre outros.
Como lidar com a pressão psicológica causada pela necessidade de isolamento?
É uma pergunta muito complicada de se responder, porque cada indivíduo reage de uma forma e, consequentemente, tem problemas derivados que variam muito de pessoa para pessoa. Mas, de antemão, busque ajuda, seja de familiares e amigos, grupos de apoio ou profissionais capacitados para tal. Além disso, cuide da saúde física, alimente-se bem, procure momentos de relaxamento e prazer e, não menos importante, respeite-se: todos nós temos limites; reconheça-os e peça ajuda.
Quem precisa de atenção maior neste momento? Em que momento buscar ajuda profissional?
Como respondido anteriormente, atenção maior é relativo devido à individualidade de resposta às situações de estresse. Porém, como é de conhecimento geral, o COVID-19 é uma patologia que acomete principalmente idosos e pessoas com comorbidades (hipertensos, diabéticos, em tratamento de câncer, imunodeprimidos, doenças cardiovasculares e respiratórias...). Sendo assim, o foco principal são eles. Não há um momento exato para se buscar ajuda, pois sempre estamos precisando disso. Porém, quando a pessoa apresentar sintomas físicos decorrentes da situação, perceber que os sintomas em geral estão interferindo no cotidiano e nas relações sociais, desconforto, sofrimento ou tristeza na maior parte do tempo, além de desinteresse pelas coisas que gostava de fazer, pensamentos negativos constantes são alguns sinais relevantes para se procurar ajuda.
"Num momento como esse, é muito importante pensar de maneira coletiva, uma vez que é uma situação nova para todas as pessoas”
Nesse processo de quarentena, a ação visa o bem coletivo. A empatia pode ser um antidoto neste momento?
A empatia é um remédio milagroso para a vida, e seu poder de ação pode se sobressair em momentos de situação traumática como a quarentena e o isolamento social. A habilidade emocional de percepção e compreensão do modo de enxergar o mundo de outra pessoa é uma maneira de sair das próprias fronteiras e expandir sua forma de sentir, renunciando à necessidade de julgar as emoções alheias e gerar conexão profunda e verdadeira. Sendo assim, a empatia fortalece conexões, incentiva a colaboração e melhora resultados em geral. As pessoas infectadas não fizeram nada de errado e merecem nosso apoio, compaixão e gentileza.
O egoísmo é um fator que leva a pessoa a um processo de estresse mais acentuado?
O egoísmo é a atitude de uma pessoa colocar seus interesses, opiniões, desejos, necessidades em primeiro lugar, em detrimento (ou não) do ambiente e das demais pessoas com que se relaciona. Ou seja, num momento como esse, é muito importante que deixemos um pouco de lado essa característica e pensar de maneira coletiva, uma vez que é uma situação nova para todas as pessoas e que, se não tomado os devidos cuidados, podemos ter consequências irreparáveis ao longo do tempo. E sim, é uma das emoções inimigas do coração, literalmente, que acaba por gerar no organismo a secreção de vários hormônios ligados ao estresse, além de causar um prejuízo social maior do que o físico.
Idosos ou jovens devem sofrer mais neste período?
Acredito que não sofrerão mais, e sim terão prejuízos diferenciados devido ao fato de serem grupo de risco, no caso de idosos, e de estarem em plena vitalidade e necessidade de interação social (jovens). Por isso, deve-se tomar cuidado com o retraimento social que pode surgir decorrente dessa situação, e é preocupante a nível de desenvolvimento, não podendo ser negligenciado como foi durante muito tempo, pois está muito relacionado à depressão e a solidão.
“As pessoas infectadas não fizeram nada de errado e merecem nosso apoio, compaixão e gentileza”
Como as famílias podem agir para tornar esse processo menos estressante?
Com o risco eminente de distúrbios por conta do COVID-19, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou um guia com cuidados para a saúde mental durante a pandemia do COVID-19. Nessa cartilha, há inúmeras ações dirigidas aos diversos públicos; sendo assim, vou destacar algumas de maior relevância em geral. À população em geral, seja empático, reduza a leitura ou o contato com notícias que podem causar ansiedade ou estresse, buscando informações (uma ou duas vezes ao dia) apenas de fontes fidedignas e dê passos práticos. Proteja a si próprio e apoie os outros, ajudando-os em seus momentos de necessidade. Ofereça apoio emocional, partilhe histórias, aproxime-se dos que estão longe através de videochamadas. Utilize a tecnologia a seu favor.
O que recomenda aos fernandopolenses neste momento?
A maior recomendação é: fiquem em casa. Respeite as recomendações do governo nas diferentes esferas (Municipal, Estadual e Federal), além das diretrizes dos órgãos relacionados, como OMS, Ministério da Saúde, dentre outros. É um momento delicado, onde o coletivo precisa se sobressair, para que, quanto mais rápido nos adequarmos, mais rápido voltemos às nossas atividades diárias.
“É um momento delicado, onde o coletivo precisa se sobressair, para que o mais rápido voltemos às nossas atividades diárias”