O secretário municipal de Saúde Ivan Veronesi, um mês após a posse, já precisou enfrentar a pandemia do coronavírus. Um ano depois, a batalha contra o vírus não cessou. Pelo contrário, nos últimos dois meses (março e abril) Fernandópolis e o Brasil viveram a face mais cruel da pandemia. Por isso, Ivan Veronesi diz que “a luz de alerta continua acesa”, tanto que a Secretaria de Saúde mantém a Escola Ângelo Finoto com estrutura montada para atendimentos clínicos não Covid, caso ocorra aumento dos casos. Esta semana, a UPA voltou a registrar internação de pacientes em leitos de UTI.
Nesta entrevista, o secretário da Saúde faz balanço da vacinação com Fernandópolis que já atingiu 26,8% da população e diz que a cidade está entre as mais vacinaram no Estado, fator que ajudou a reduzir o índice de contaminação registrado nos últimos dias. “Mas, não é hora de relaxar”, reforça Veronesi, preocupado com as reuniões familiares neste final de semana na comemoração do Dia das Mães. Leia a entrevista:
Fernandópolis está chegando perto de 30 mil doses de vacinas aplicadas, entre primeira e segunda doses. Qual a avaliação?
Apesar de não termos recebido a quantidade de doses esperada, Fernandópolis é uma das cidades que mais vacinou até agora. A nossa equipe de vacinação tem um comprometimento muito grande e tem agilizado a vacinação. Essa semana iniciamos a vacinação de pessoas de 60, 61 e 62 anos e aplicando a segunda dose em profissionais da educação. Temos notado que de 5 a 10% não voltaram para a segunda dose, e fazemos um apelo para que não deixem de completar a vacinação.
A cidade chegou a ter problemas com a segunda dose da Coronavac?
Não. A gente sabe que existe atraso na remessa do IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo) que vem da China e acaba interferindo na programação de distribuição das vacinas provocando a falta em alguns municípios. Em nosso município tivemos falta de um ou dois dias, mas isso não prejudicou o ritmo de imunização. Não estamos chegando no limite de 28 dias, estamos aplicando a segunda dose com 25 e 26 dias. A nossa responsabilidade, como município, é a aplicação da vacina e para isso dependemos do cronograma de envio por parte do governo Estadual e Ministério da Saúde.
A chegada de novas doses de Coronavac serão direcionadas para a segunda dose?
Sim. O governo montou uma estratégia por questão de segurança, já que tivemos registro de roubos e furtos de vacinas em outros municípios. Por isso tem programado enviar a vacina dois dias antes para evitar esse problema. As nossas vacinas ficam armazenadas em um local só guardadas por seguranças e Polícia Militar que tem dado apoio. O cronograma pode atrasar um ou dois dias, mas aqui em Fernandópolis isso não tem prejudicado a imunização. Surgiu nas redes sociais que estava faltando vacina para os professores, mas isso não aconteceu. O que houve aqui e em todo o estado, foi que alguns profissionais da educação não conseguiram o QR code emitido pela Secretaria Estadual, mas a vacina deles continua reservada na Vigilância em Saúde.
"A gente vinha pela quinta semana consecutiva de queda de casos e internações e já temos aumento de casos"
A combinação da vacinação e o lockdown em março e abril, foram os fatores que contribuíram para queda do contágio?
Acredito que tudo isso ajudou. Houve uma cooperação da população, dos empresários, mas a vacinação é o que vai nos dar tranquilidade. Enquanto a nossa população não estiver imunizada, a gente corre o risco de ter um aumento de casos. Por isso pedimos a população que não descuide, mantenha as medidas, principalmente evitando aglomerações e festas, que é onde está ocorrendo a transmissão do vírus. Nos preocupou muito os últimos dias, porque a gente vinha pela quinta semana consecutiva de queda de casos e internações, Graças a Deus, e de três dias pra cá começaram a aumentar os casos. Isso preocupa, não dá descuidar e um aumento de casos acaba prejudicando o comércio todo, afetando todo o setor produtivo da cidade.
Por causa desse aumento é que a UPA voltou a registrar internações?
Sim. Nós tivemos praticamente uma semana sem nenhuma pessoa na UPA, na Ala da Covid. Somente casos para avaliação, diagnóstico, aquilo que é rotina. Só que a partir de quarta-feira, 5, registramos três internações. O que nos preocupou mais é que teve um dia na UPA que só tinha gente de Macedônia. Por isso o cuidado deve ser de todos os municípios da nossa microrregião, porque tudo que ocorre nestas cidades acaba na UPA. Não queremos de volta aquele sufoco que passamos em março e abril. Hoje (sexta-feira) temos duas pessoas intubadas na UPA, ambas de Macedônia e duas em leitos de enfermaria.
"Só teremos tranquilidade quando a maior parte da nossa população estiver vacinada"
Qual o nível de preocupação em relação ao Dia das Mães neste final de semana e as reuniões familiares?
A Prefeitura inclusive está com uma campanha do abraço virtual, de evitar os encontros familiares neste momento. Compre o presente e leve para sua mãe, mas evite essas reuniões, porque é onde estamos verificando os casos de contaminação. Temos vistos várias pessoas da mesma família contaminadas, exatamente nestes encontros. A gente sabe que a população de mais idade está imunizada, muitos ainda apenas com a primeira dose, e não dá para abrir mão dos cuidados. Só teremos tranquilidade quando a maior parte da população estiver vacinada. Por isso temos que evitar aglomerações, usar máscara e álcool em gel.
A luz de alerta continua ligada?
Ainda está. Por isso estamos com a Escola do Lápis (Ângelo Finoto) pronta para iniciar atendimentos clínicos não covid se tivermos um aumento de casos da doença e a gente isolaria a UPA para ficar apenas com atendimento da Covid. Sabemos que a estrutura da Santa Casa está sobrecarregada, porque não está ocorrendo rotatividade de leitos, já que as internações estão mais longas.
Março e abril foram meses terríveis da pandemia. Qual foi o momento mais difícil desse período?
O momento mais difícil que enfrentei, foi quando uma médica me ligou às 5 horas da manhã dizendo que tinha apenas quatro cilindros na UPA e que poderia faltar oxigênio em uma hora e todos que estavam usando respirador poderiam ir a óbito. Foi um desespero que a gente não imaginava que iria acontecer. Felizmente conseguimos instalar uma Usina de Oxigênio na UPA e resolver o problema. Hoje a nossa UPA é uma das poucas no Brasil que conta com essa usina e isso foi alvo de reportagem internacional. Isso nos trouxe tranquilidade.
"Ainda não é momento abrir a guarda. A situação é preocupante porque não sabemos se tem uma nova cepa circulando"
Há risco de voltarmos a viver o drama de março e abril?
A preocupação é grande e temos que ter muita cautela. Estamos controlados neste momento, mas dependemos da população. Ainda não é momento abrir a guarda. A situação é preocupante porque não sabemos se tem uma nova cepa circulando. Tivemos casos de pessoas com sintomas de Covid, que fizeram quatro, cinco testes com resultados negativos e que depois positivaram. Estamos monitorando tudo e não é momento de relaxar. Essa doença ainda nos surpreende, porque temos casos de pessoas que chegaram bem na UPA, na Santa Casa, e em duas, três horas tiveram evolução da doença para uma situação muito grave. Além disso, ainda estamos com grande dificuldade de aquisição de medicamentos, falta no mercado e isso é também preocupante. Por isso, vamos ter cautela.
E em meio a pandemia, tem a preocupação com a dengue?
Isso nos preocupa também. A equipe é pequena, limitada, e nós tivemos a proibição para fumacê por questões ambientais. Estamos fazendo pulverização mais localizada, onde estão ocorrendo os focos. Mas, a cidade cresceu e não estamos conseguindo atender a todos. Por isso, o apelo à população para que mantenha a vigilância, porque o foco pode estar dentro da nossa casa. Não está chovendo e mesmo assim o mosquito está proliferando. Na maioria dos casos, nossa equipe tem encontrado larvas na casa da pessoa que fez a denúncia. Estamos criando o mosquito em nossas casas.