Vicentina há quase 40 anos, Dulce Brejão já está no segundo mandato na presidência do Parque Residencial São Vicente de Paulo, o nosso "asilo". Aliás, foi a primeira mulher a assumir a presidência da entidade e diz que ainda sente uma certa dificuldade por ser mulher na liderança. “Mas, continuamos trabalhando e vamos até o final, trabalhando dignamente por essa entidade. Deus me abençoou com a cura do câncer e vou passar o cargo dignamente”, diz;Como toda entidade, o Parque Residencial São Vicente de Paulo também sobrevive graças a solidariedade da população. A entidade já está organizando o Chá Beneficente para o final do mês (dia 27 de agosto no Recanto do Tamburi) e prepara o seu maior evento, o Leilão de Gado e Almoço, para setembro. “É o nosso principal evento, para garantir o fechamento das contas no final de ano, principalmente pagamento dos 13º salários dos funcionários. Entidade é como uma empresa, com deveres e obrigações, que cuida de seres humanos”, enfatiza. Leia a entrevista:
A senhora está no segundo mandato na presidência do Parque Residencial São Vicente de Paulo. Como está trabalho pelo nosso Asilo?
Está muito bom, estamos empenhando, para fazer o melhor, mas a gente sente dificuldade de ser mulher na liderança. Eu sinto que uma mulher na liderança tem menos apoio. Tenho notado isso, fazemos de tudo e contamos com uma boa turma trabalhando com a gente, mas em certas circunstâncias eu ainda percebo um certo machismo. Estamos trabalhando, correndo atrás de resolver os problemas, mas percebemos que, em determinados momentos, colocam uma interrogação do tipo será que vai dar conta? Mas, continuamos trabalhando e vamos até o final, trabalhando dignamente por essa entidade. Deus me abençoou e vou passar o cargo dignamente.
Foi um período crítico em meio a pandemia?
Sim, foi um período crítico, a gente não podia realizar eventos e a nossa preocupação foi proteger os nossos idosos. Foi um período incerto, mas superamos os percalços.
"Eu sinto que uma mulher na liderança tem menos apoio. Ainda percebo um certo machismo"
O Parque se prepara para realizar o seu tradicional chá beneficente no dia 27 de agosto em busca de recursos...
Sim, será no último domingo de agosto (dia 27) no Recanto do Tamburi, que é o nosso recanto. É um evento aberto para a família, tanto a mulher, quanto o homem. Pretendemos realizar uma tarde gostosa, com os quitutes que nossas vicentinas vão preparar. Elas não medem sacrifícios, elas estão em todos os eventos da entidade. Na praça elas ficam 10 dias na cozinha preparando a famosa kenga e com os quitutes para o chá não será diferente. Além dos quitutes, chá verde e suco de laranja, e teremos o bingo que é tradicional e todos gostam. Será uma tarde de descontração e de encontros. E ao mesmo tempo contribui com nosso Parque, por que a gente precisa de muita ajuda.
"Muitos falam que o vicentino pede demais, mas não é que a gente pede demais, é que a gente precisa demais"
Além do chá e do bingo também teremos o desfile de moda?
É uma parte que todos gostam, com a participação de nossos idosos. Eles gostam de participar. Estamos ensaiando para que eles participem e sintam-se valorizados. Teremos também no evento, demonstração de artesanato.
Como está o caixa da entidade?
Procuramos viver um dia após o outro. A gente recebe, paga e vamos tocando. Os bailes no Tamburi estão começando a melhorar com o pessoal voltando a participar. Mas, é uma situação difícil. É um serviço que custa caro, com profissionais qualificados e isso 24 horas por dia, todos os dias do ano. A entidade precisa dispor de todos os profissionais que formam a equipe multidisciplinar. Por isso temos muito a agradecer a população de Fernandópolis e região, que sempre nos apoia em todas as promoções que lançamos.
"A vitória (contra o câncer) Deus me deu no momento da cirurgia para poder terminar o meu trabalho"
O mês que vem tem o grande evento da entidade que é o leilão e almoço?
Esse é o maior evento que a entidade realiza para reforçar o caixa no final do ano para cumprir as despesas que todas as empresas têm, como o 13º salário dos funcionários. Eu sempre falo que o Parque é uma empresa para cuidar de seres humanos, com os deveres e obrigações. O nosso trabalho, de todos os vicentinos, é voluntário, mas feito com amor, porque ali temos seres humanos que dependem da entidade. Hoje temos lá 50 idosos em regime de internato, são 26 homens e 24 mulheres. Muitos falam que o vicentino pede demais, mas não é que a gente pede demais, é que a gente precisa demais. Então a gente precisa correr atrás. Um idoso abrigado não fica por menos de 2,5 mil. Temos toda uma equipe multidisciplinar para atendimento aos nossos idosos e isso custa caro. São profissionais qualificados. O que recebemos de repasse dos governos (municipal, estadual e União) não cobre as despesas.
Você tem uma história como vicentina. E sempre foi uma história de luta?
São quase 40 anos. Acompanho o Parque desde quando era na Rua Rio de Janeiro no Parque Vila Nova. Meu sogro Luis Brejão foi vicentino nato, ele e minha sogra. Eu e meu marido (Reinaldo Brejão) acabamos nos envolvendo, mas, jamais imaginei um dia chegar à presidência da entidade. Eu me apaixonei pela Sociedade São Vicente de Paulo e creio que, para ser vicentino precisa ser apaixonado pela causa. Sempre foi uma história de luta. Lembro que a minha sogra dava banho nas idosas, porque naquela época eram as voluntárias que cuidavam, não tinha profissional para fazer este serviço como é hoje. Por isso, digo, que sem amor, a pessoa não fica.
Você passou pela entidade em diferentes épocas. Agora na presidência, como enxerga o futuro da entidade?
Eu até brincava com a Nena Caberlin, que estamos preparando para ser a próxima presidente. Até agora foram os homens que comandaram a entidade. Eu fui a primeira mulher eleita presidente do Parque e precisamos continuar esse trabalho. A mulher tem uma visão diferente, olhamos detalhes. As vezes são coisinhas que não precisa de dinheiro, mas apenas uma observação, um detalhe você muda sem gastar. Eu estou dando o melhor de mim. A população pode ter certeza que estou fazendo o meu melhor.
Além da pandemia você também enfrentou um problema de saúde sem deixar a presidência do Parque?
Passei por um câncer, fiz uma cirurgia, fiz o tratamento, mas nunca deixei de acompanhar o que estava acontecendo. A vitória Deus me deu no momento da cirurgia para poder terminar o meu trabalho. Isso me fortalece. As críticas acontecem, procuramos fazer as correções e seguimos na caminhada. Vou até o final e buscando sempre alcançar o objetivo. Não me apego a cargos, apenas estou disponível para o trabalho.