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A palavra do otorrinolaringologista



A palavra do otorrinolaringologista

O otorrinolaringologista é o médico especializado no diagnóstico e tratamento, clínico e cirúrgico, das doenças dos ouvidos, nariz, garganta, laringe e pescoço. O médico otorrinolaringologista fernandopolense Dr. Jurandy Pessuto foi entrevistado no programa “Crias da Casa” de sábado, 26, na Rádio Difusora FM e falou sobre os problemas comuns que afligem a população. Ele contou que a ideia de cursar medicina começou ainda no colégio, embora na família não tivesse nenhuma influência para a área. “Poderia ir para a área de saúde ou fazer direito, seguindo o meu pai. Mas, ainda na época do colégio, fazendo curso de aptidão fui ver que tendia para a área de saúde. Foi quando então optei pela medicina”, contou. Ele ingressou e se formou na Escola Paulista de Medicina, hoje a a Universidade Federal de São Paulo. Sobre a especialização disse que durante o curso percebeu que gostava de clínica e cirurgia e uma das áreas onde poderia ter essa conjunção foi a otorrinolaringologia. O médico lembrou do período da pandemia e disse que a sua área foi uma das mais afetadas. Momentos difíceis, especialmente porque perdeu o pai, o advogado Jurandy Pessuto e o tio José Pizzuto, para a Covid. Na entrevista, ele abordou diversos temas inerentes a sua atuação. Veja os principais trechos:

Tem diferença entre adultos e crianças na otorrinolaringologia?

A otorrino é muito abrangente. Teoricamente você vai atender desde o nascimento até o idoso. Mas, hoje está existindo uma segmentação. Tem pessoas que gostam mais de fazer otorrino-pediatria e já tem tendência para a otorrino-geriatria. E dentro dessas áreas tem as subdivisões, tem que gosta de ouvido que é o otologista, do nariz o rinologista, de laringe o laringologista, cabeça e pescoço e foniatria. Eu, por exemplo, com criança cuido mais da parte cirúrgica. A parte clinica deixo para os pediatras.

Qual a idade ideal para cirurgia?

Depende da indicação. Nós temos tecidos de defesa das vias aéreas respiratórias superiores, que são os tecidos linfoides. Se isso na infância está começando a infectar muito, ou seja, uma criança tem, por exemplo uns seis episódios de amigdalite ao ano, há indicação absoluta de cirurgia para extração da amigdalas. Quando tem a amigdala que fica atrás do nariz, a amigdala faríngea, mais conhecida como adenoide, se ela também tem fator de obstrução importante, há indicativo de tirar. O que a gente orienta os pais é que, se teve indicação, a partir dos três anos de vida é a melhor idade para se fazer o procedimento cirúrgico. Quanto mais precoce, você evita complicações futuras, de deformidades craniofaciais e o pós-operatório é melhor, com recuperação muito mais rápida. Há adultos que tem indicação de operar, mas a recuperação é mais complicada.

"Dos dois aos cinco anos, as amígdalas funcionam, mas se tirar tem prejuízo? Os estudos mostram que não"

É dito popular de que amigdala e apêndice não servem para nada e que tem que tirar?

Apêndice e amigdalas são tecidos linfoides, ou seja, tecidos de defesa do organismo. Na época dos nossos antepassados, eles tinham função mais importante. Com a evolução, os tecidos de defesa se especializaram e isso acabou ficando como órgão quase que vestigial. Ainda tem função, dos dois aos cinco anos, as amígdalas funcionam, mas se tirar tem prejuízo? Os estudos mostram que não.

Essas variações do tempo, com noites frias e dias quentes e secos, quais são as infecções mais comuns?

Normalmente são as gripes provocadas por influenza, mas o que a gente está vendo é que pós pandemia, nesse período que ficamos isolados, houve uma mudança muito grande e estamos tendo várias cepas de infecções, não apenas a influenza, a Covid, é bom lembrar, ainda está por aí. Na verdade, estamos tendo uma amplitude térmica muito grande. De manhã 12 graus e a tarde, 28, 30 graus, com clima seco.

"Nós não somos peixe para ficar o tempo inteiro com água dentro do nariz. O excesso nunca é recomendável"

O uso do umidificador ajuda?

Quando estava na faculdade em São Paulo, o pessoal dizia que lá (São Paulo) não era uma coisa para se usar, porque os ambientes são muito fechados. Mas, aqui na nossa região é fantástico, eu sempre oriento meus pacientes terem uma umidificação adequada.

É importante essa higienização nasal todos os dias?

Isso é muito controverso. Eu sou da seguinte opinião: nós não somos peixe para ficar o tempo inteiro com água dentro do nariz. O excesso nunca é recomendável. O que ando vendo é o pessoal que vê na internet umas lavagens bem agressivas e estamos tendo muita complicação em ouvido, porque faz muita pressão. Nós temos uma comunicação posterior entre ouvido e nariz e isso pode mandar secreção para o ouvido.

"O segredo é o volume. Pode usar fone, não tem problema. Agora, acima de 85 decibéis você terá lesão"

Os descongestionantes nasais são viciantes?

São substâncias derivadas de pseudoefedrina. Está escrito lá no frasco nafazolina, oximetazolina, esses produtos são usados para problemas agudos, para uso de três no máximo cinco dias. Qual é o grande problema? Quando você pinga isso no nariz, ele vai fechar os vasinhos e o nosso nariz é cheio de vasos e tem uma estrutura dentro do nariz que chama concha ou corneto nasal. Quando você pinga, isso diminui de tamanho, faz um vaso contrição e dá aquela sensação boa de respirar, de ventilar melhor pelo nariz. O problema é que a partir do quinto dia de uso continuo, esses vasinhos começam a apresentar efeito rebote. Então você pinga, ele murcha e logo depois, ele enche mais ainda e cada vez mais aumentando a frequência. Esse próprio descongestionante começa a produzir uma rinite medicamentosa. Como o nariz é muito vascularizado, essa substância é absorvida e aí corre o risco de fazer obstrução de outras artérias, fechar vasos coronarianos, por exemplo, provocar arritmia, infarto, derrame. Isso gruda numa substância que a gente tem no cérebro e dá dependência química. Não é mito, é real. O melhor é soro fisiológico. Está percebendo o nariz ressecado, tem casca e você quer higienizar, você usa o soro fisiológico.

Sinusite, como superar?

O paciente chega no consultório e diz eu tenho sinusite. Na verdade, não tem. A sinusite aguda é um quadro infecioso que é precedido de uma gripe, que é um quadro viral, ou por um quadro alérgico importante que não se resolveu de forma adequada e aí a bactéria que está vivendo ali na via respiratória aproveita e entra dentro de buracos nos ossos da face e gera a infecção e o nome disso é sinusite. Todo mundo acha que o principal sintoma de sinusite é dor e não é. O principal sintoma é um gotejamento posterior, aquele catarro mais esverdeado e a sensação de uma gripe mal curada. Por isso que, quando o paciente chega ao consultório perguntamos se o catarro está esbranquiçado, amarelo ou verde. Quando está esverdeado é que tem bactéria junto.

Quando é caso de cirurgia?

A sinusite habitual que a gente vê é a aguda. Existe uma classificação temporal. Quando o quadro é bem recente é agudo, mais de três meses de infecção vira crônico. Mas, o quadro que a gente chama de fitopatológico é onde a bactéria conseguiu machucar a mucosa e altera a drenagem desses buracos quando são infectados. Quando ocorre o bloqueio, a secreção fica estagnada lá dentro e não saí mais com medicação existe a cirurgia. Cirurgia é indicada para sinusite crônica.

A famosa otite ou dor de ouvido?

É a otite sazonal. A do verão é a otite externa relacionada a entrada de água que vai machucar a pele do canal e dá aquela dor bem localizada. Quando o paciente tem esse tipo de otite de forma recorrente é indicado o uso do tampão ou, com orientação médica, alguns casos precisam fazer uma gota otológica antes de nadar. Já no inverno, por causa das infecções das vias aéreas superiores podemos ter a otite média aguda que aí é um problema dentro da orelha média e é preciso tratar com antibiótico via oral. Existe a complicação, que é grave porque a orelha média está perto das meninges, então a criança pode desenvolver uma meningite ou um abcesso intracraniano.

O uso do cotonete é prejudicial?

O conduto auditivo externo é um tubo e você não está vendo onde está manipulando. Se você introduzir a haste (o cotonete) ele vai agir como um pilão e socar isso para dentro. Oriento higienizar com toalha, sem fazer ponta, até onde chegar, porque o ouvido é, teoricamente, auto-limpante. O que está produzindo em excesso ele vai expelir. O que está externo, visível, não está legal, você limpa. A cera não é sujeira, ela é a defesa do ouvido.

Labirintite e zumbido no ouvido, o que fazer?

O que nos deixa equilibrado é o cérebro, a visão e uma estrutura que está dentro do ouvido que compõe o labirinto, chamado de aparelho vestibular. Ele está junto da cóclea, que é responsável pela audição, e o aparelho vestibular pelo equilíbrio. Se alguma coisa machucar essa estrutura, aí teremos sintomas, tontura rotatória, náusea, sudorese, que é o quadro que se consagrou chamar de labirintite o que não é o correto, porque o termo “ite” é para infecção. Existe a labirintite verdadeira, onde você tem uma infecção de ouvido. Já o zumbido é o que mais leva paciente a procurar médico porque é muito frequente e nós temos inúmeras causas desde perda auditiva, problemas infeciosos, estresse e distúrbios psiquiátricos. Tem o zumbido de origem central, quando tem tumor na cabeça. Mas, a grande maioria é benigna.

Fone de ouvido é problema?

Geralmente as mães questionam isso quando levam os filhos ao consultório. O segredo é o volume da fonte produtora. Pode usar fone, não tem problema. Agora, acima de 85 decibéis você terá lesão se ficar exposto por muito tempo, podendo ocorrer zumbido ou perda auditiva ou os dois.

 

 

 

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