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A primeira mulher no comando do curso de medicina



A primeira mulher no comando do curso de medicina

O curso de medicina de Fernandópolis está completando 19 anos e, pela primeira vez, terá comando de uma mulher. A Dra. Lilian Maria de Godoy Soares assumiu a coordenação do curso nesta semana e concedeu a primeira entrevista para a Rádio Difusora FM e jornal CIDADÃO. "Fico orgulhosa de ter sido nomeada e, mais ainda, por ser a primeira mulher a ocupar este cargo. Agradeço a reitoria e toda a administração pela confiança depositada em mim. Amo minha profissão, amo meus alunos e tenho como crença que o ensino é fundamental na vida de quem também quer dias melhores para a humanidade", Médica endocrinologista, ela já atua na universidade desde 2010, como professora/mestre e na supervisão do internato de clínica médica e de ligas acadêmicas nas áreas de endocrinologia e geriatria. Agora assume o comando do curso de medicina. Leia a entrevista: 

Como recebeu a missão de coordenar o curso de Medicina?
Foi até uma surpresa, mas recebi isso com muito orgulho. Tenho muito a aprender na coordenação do curso de medicina. Assumo com muita dedicação essa missão. Estou na universidade praticamente há 14 anos, ministrando aulas para esses alunos queridos do terceiro e quarto anos e do internato 5º e 6º anos e atuando como supervisora do internato de clínica médica há mais de 12 anos. Tenho Ligas Acadêmicas, extracurriculares, que são as de endocrinologia e geriatria.

Missão é de responsabilidade?
Sem dúvida, grande responsabilidade, porque estamos cuidando de alunos que têm que se tornarem grandes médicos e pensarem que não estarão apenas tratando a doença e sim o doente. Eles precisarão ter uma boa formação acadêmica e todo nosso corpo docente é muito qualificado para conduzir esse processo, nos módulos e sub-módulos, para a formação integral desses alunos.

"A medicina é uma das poucas áreas em que não podemos errar"

Qual o maior desafio na formação dos novos médicos?
Acredito que a formação de um bom médico passa pelo desenvolvimento da paciência, muito estudo, tem que gostar de estudar, porque a medicina precisa disso, de pesquisas, de conhecimento, condutas, diagnósticos referenciais. A medicina é uma das poucas áreas em que não podemos errar, temos que estar sempre atentos a esse paciente. Esse é o grande desafio para esses alunos na busca da excelência na medicina.

Como está recebendo o curso?
Claro que temos muitas questões a resolver, arestas a serem aparadas, mas isso está fluindo. O curso vem de uma boa administração de uma pessoa excelente, espetacular (Dr. Armando Gabriel) e nós estamos procurando manter o ritmo. 

O curso está funcionando na plenitude?
Temos alunos do primeiro ao sexto anos. O sexto ano é inteiramente fora de Fernandópolis e o quinto ano é mesclado entre Fernandópolis e outras cidades. 

"O curso de medicina atrai alunos de todo o Brasil que movimentam a economia da cidade"

Na questão do internato, os estudantes estão precisando deixar a cidade. Como a universidade cuida desse processo?
Nós temos uma grande equipe que cuida desses alunos que precisam sair da cidade para o internato. Temos supervisores, não só dentro de Fernandópolis, como também fora, temos o pró-reitor, o reitor, formando uma grande rede de apoio para esses alunos. (Observação – a entrevista foi concedida antes da Universidade apresentar projeto para construção de hospital de complexidade com 100 leitos, 20 UTI’s – Unidade de Terapia Intensiva - e emergência, além de consultórios e laboratório de análises clínicas – leia a reportagem completa na Página 5-A). 

Na sua ótica, o que o curso de medicina representa hoje para Fernandópolis?
Ele é muito importante. É um curso com bastante alunos que vêm de fora e que movimentam a economia da cidade, no supermercado, no posto de combustíveis, no comércio em geral, na padaria, enfim, a cidade ganha muito com o curso. São alunos de todas as partes do Brasil e muitos chegam por transferência. Podemos dizer que o curso de medicina forma uma família, mas uma família enorme, num grande intercâmbio cultural e de ideias. 

Nesse período de 14 anos que está no curso de medicina, qual a mudança mais marcante?
A estrutura da faculdade está excepcional. Ela está cada vez mais moderna e buscando aprimorar a cada dia para oferecer o melhor e buscando ser referência de formação de novos médicos no Brasil. Hoje, temos um intercâmbio maior, seja através da presença constante do nosso reitor (Felipe Sigollo) no campus, ou em reuniões online. A tecnologia veio para nos ajudar. A pandemia nos prejudicou em muitas coisas, como na realização de congressos, pesquisas, aulas presenciais, mas teve um lado positivo que foi esse de possibilitar os encontros online. 
Estamos vendo muitos alunos chegando de transferência do Paraguai e da Bolívia. Como é o procedimento de inclusão desses alunos no curso?
Assim como temos toda uma equipe para cuidar do internato, temos uma equipe maravilhosa que faz a análise de currículo de todos os alunos. Quando eles chegam e entram em determinado módulo, já estão aptos para seguir numa sequência correta do aprendizado.

"Será a era da mulher no curso de medicina com mais um tabu quebrado em Fernandópolis"

Muitos jovens buscam a medicina olhando para o aspecto financeiro de uma profissão que dará um status diferenciado. Esses jovens, no decorrer do curso, conseguem absorver o outro lado da profissão que é a visão humanitária, empatia no atendimento?
Não dá para generalizar, mas acredito que a maioria absorve isso. Acredito que aqueles que chegam ao final do curso, aprenderam que o dinheiro, que é importante sim porque vivemos num mundo capitalista, será consequência do seu trabalho e não a causa. Para os médicos, é muito importante a relação com os pacientes que precisam ser escutados. Sou especialista em endocrinologia e vou falar em especial do diabético. Tem diabético que a glicemia é pior à tarde, outro pela manhã. E por que isso? Tudo vai depender do que está acontecendo com o paciente, dos medicamentos que está tomando, se é paciente que tem problemas emocionais, depressão. Então temos que olhar o doente no todo. E é isso que a medicina, no decorrer dos anos, vai ensinando a ser médicos e não apenas aprender a medicina. 

O curso de medicina recebe alunos de todas as partes do Brasil. Como é feito o apoio psicológico desses alunos que estão longe de suas casas?
É natural que, quando se sai de casa, deparar-se com uma outra realidade. Eu mesma, na minha época, entrei na faculdade com 18 anos em Marilia e tive que morar em república. Meus pais eram de Santo André. Era uma época que não existia celular e para falar com os pais tinha que enfrentar fila no orelhão. São dificuldades, mas consegue-se sobreviver desde que esteja fazendo aquilo que gosta e contando com o apoio dos professores e todo o grupo da faculdade. 

Já pensou em sua marca de gestão no curso de medicina?
Não deu tempo ainda de pensar. Estou tendo agora que entender o todo da coordenação do curso. O internato é simples para mim, porque como já atuo como supervisora há 12 anos, consigo enxergar rapidamente os problemas que começam a surgir. Mas, ainda tenho que aprender a enxergar o todo do curso. Esse, por enquanto, é o maior desafio. Mas, contamos com uma equipe competente que nos apoia.

Como concilia a rotina de médica, professora e agora coordenadora do curso de medicina?
Acordo e procuro viver um dia de cada vez, procurar resolver os problemas daquele dia. Realmente é mais uma responsabilidade, mas no início é comum sermos mais exigidos, mas com o passar do tempo, a coisa fluirá melhor com reflexo para a rotina. Mulher tem mais jeito para lidar com isso. Aliás, sou a primeira mulher a assumir a coordenadoria do curso de medicina da Universidade Brasil e isso me orgulha muito. Estou recebendo um grande apoio. Será a era da mulher no curso de medicina com mais um tabu quebrado em Fernandópolis. 

Como médica endocrinologista, como avalia o efeito da pandemia, principalmente em pacientes diabéticos?
Foi muito difícil. Eles oscilaram mais no diabetes e a própria Covid altera todo o metabolismo que vai descompensar o diabetes. São pacientes que muitas vezes tem que ter um acompanhamento mais de perto porque ainda, por uns seis meses a um ano, vai descompensar bastante. Não só diabetes, a obesidade cresceu muito na pandemia, alterações na tireoide, nódulos na tireoide começaram a surgir muito no pós covid.

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