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A temida e silenciosa doença renal crônica



A temida e silenciosa doença renal crônica

O Dia Mundial do Rim, comemorado na quinta-feira, 10, foi marcado em Fernandópolis com alerta da médica nefrologista Liliany Repizo do Núcleo de Hemodiálise da Santa Casa de Fernandópolis durante entrevista à Rádio Difusora FM e jornal CIDADÃO: cada vez mais pessoas estão chegando ao hospital com doença renal crônica precisando da terapia substitutiva, ou seja, de utilizar a máquina de diálise para substituir as funções dos rins. O tema da campanha deste ano é “Saúde dos Rins para Todos: Educando sobre a Doença Renal”.
A médica lembrou às pessoas com doenças crônicas, principalmente hipertensão e diabetes, que elas precisam ter vigilância sobre como está a função dos rins, através de exames de baixo custo, como a creatinina no sangue e o exame de urina simples. “Pacientes com doenças crônicas vão perdendo a função dos rins sem sentir nada. Não vai ter dor. É uma doença silenciosa. A Unidade de Hemodiálise, que funciona na Santa Casa, é referência para as regiões de Jales, Santa Fé do Sul e Fernandópolis". A ordem é adotar estilo de vida saudável e fazer controle através de exames. A entrevista à seguir é um alerta:

O que precisamos estar atentos em relação à saúde dos rins?
O Dia Mundial do Rim é um dia de alerta. A preocupação é com a doença renal crônica, que vai levando a falência da função dos rins, até chegar em um estágio do paciente precisar de alguma terapia substitutiva, que seria a hemodiálise. É uma doença silenciosa. A nossa preocupação é, com os pacientes que não sentem nada, só vão procurar o nefrologista quando a doença estiver muito avançada tornando difícil a reversão do quadro. Os sintomas representam a fase mais tardia da doença. Cada vez mais pessoas estão precisando do tratamento por diálise. Hoje no Brasil tem 140 mil pacientes em tratamento dialítico. É um número expressivo. O objetivo é alertar para a busca ativa, através de exames laboratoriais, como da creatinina que vai definir a porcentagem desses rins e o exame de urina tipo 1 vai identificar alterações no sistema urinário e renal. São exames simples de fácil acesso a população em geral. O alerta é para saber como os nossos rins estão funcionando, através desses exames básicos.

Quem deve ficar mais atento a esse alerta?
O alerta vai para pacientes com alguma doença crônica. Hipertensos, diabéticos, pessoas com problemas cardíacos, obesidade, sedentárias ou tabagistas, pertencem ao grupo de risco com maior chance de ter algum grau da doença renal crônica. Esses pacientes precisam conhecer como está a saúde dos rins. O que a gente mais teme? A doença renal crônica não tem sintomas iniciais, as pessoas não sentem absolutamente nada. Se a gente for esperar ter algum sintoma, vamos perder tempo para evitar a progressão total para a falência. Esse é um caso que queremos fazer o diagnóstico bem no início. E isso a gente consegue através dos exames e com isso, através de tratamento, vamos impedir essa piora.

"Cada vez mais pessoas estão precisando do tratamento por diálise porque perdera a função renal"

A senhora falou em estilo de vida, o que pesa para comprometer os rins?
São questões básicas como menor ingestão de sal, não é só o sal branco que usamos na cozinha, hoje a gente tem uma gama de produtos ultra processados que facilita o nosso dia a dia e que são riquíssimos em sódio prejudicando as funções dos rins. A gente orienta evitar o consumo de alimentos processados como refrigerantes, suco de pozinho, ter uma boa ingestão de água, sucos naturais, ter uma atividade física regular, controlar a obesidade, controlar a hipertensão. A diabetes também, quem histórico familiar tem que fazer o controle. Temos que ter um estilo de vida saudável, investir em alimentos naturais, verduras, legumes e proteínas. A ordem é evitar os processados.

No Núcleo de Hemodiálise da Santa Casa é para onde vão as pessoas com necessidades de terapia dialítica. Como é a rotina de quem chega a esse estágio?
Os pacientes que estão em tratamento aqui na Santa Casa em tratamento de hemodiálise eles vêm no mínimo três vezes por semana e, cada vez que vem, permanecem quatro horas sentados na poltrona para a filtragem do sangue pela máquina que substitui parcialmente a função dos nossos rins para retirar todas as impurezas e o excesso de líquido, já que a maioria dos pacientes com doença renal crônica mais avançada não urinam. Toda água que bebem eles só conseguem retirar esse líquido do organismo quando forem para a máquina na hemodiálise. Então, eles não podem beber tanta água. Por isso vamos beber água agora. Os pacientes na hemodiálise precisam fazer restrição de líquidos e tudo que eles ingerirem só vai sair quando estiverem ligados à máquina. O alerta é para evitar chegar a esse ponto. O paciente com doença renal crônica tem uma mortalidade maior da parte da saúde vascular, ou seja, eles têm mais doença cardíaca associada, comprometendo rim e coração juntos.

"Se eles não tivessem a hemodiálise, não teriam a possibilidade de uma sobrevida. Temos paciente com 25 anos em tratamento"

Quem chega para a hemodiálise perde muito em qualidade de vida?
Sim, acaba impactando na qualidade de vida, porque tem restrições a certos tipos de alimentos, a ingestão de certa quantidade de água, não podem viajar, por conta desse atendimento três vezes por semana e, se forem, precisam ir para um local que tenha o serviço de hemodiálise. Mas, o que sempre falo para os pacientes é para olhar para a hemodiálise por outro ângulo. Ela substitui a função dos rins, ou seja, quando o rim perde a função, graças a Deus, a gente tem essa terapia. Diferente do fígado, que quando entra em falência o paciente que não vai para transplante, vai a óbito. A hemodiálise diminui essa qualidade de vida sim, mas a gente dá maior expectativa de vida para esses pacientes. Se eles não tivessem a hemodiálise, não teriam a possibilidade de uma sobrevida. Aqui na Unidade de Hemodiálise de Fernandópolis a gente tem paciente com 25 anos em tratamento, estão vivos graças a hemodiálise. A gente não quer que cheguem a essa fase, mas é um tratamento para aqueles que perdem a função dos rins de forma irreversível terem maior expectativa de vida.

Tem aumentado o número de pacientes renais crônicos?
É bem visível esse aumento. A cada semana chegam mais pacientes com falência renal e isso ocorre não apenas em Fernandópolis, mas é um aumento mundial. A expectativa é que em 2040 a doença renal crônica seja a quinta doença que mais mata. Infelizmente estamos numa curva de progressão. Com o aumento da expectativa de vida e com as doenças crônicas, aumenta o número de pacientes.

"A cada semana chegam mais pacientes com falência renal e isso ocorre não apenas em Fernandópolis"

Quem é mais atingido pela doença renal crônica, homem ou mulher?
Há uma pequena prevalência de mais homens, mas é quase meio a meio.

A pedra no rim indica alguma doença renal crônica?
Pacientes que têm cálculos renais de repetição, muita pedra associada a quadro de infecção, podem perder a função dos rins por esse motivo. Agora, a questão das pedras nos rins, na maioria das vezes está associada ao estilo de vida, ao aumento do consumo de sódio, baixa ingestão de água. Ter pedra nos rins pode levar a perder a função renal futuramente. É motivo de alerta...

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