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“A tempestade vai passar”



“A tempestade vai passar”

Luciano Ramos da Natividade foi ordenado padre há 15 anos, e hoje cuida da Paroquia São José em Meridiano e das comunidades São Bom Jesus em Pedranópolis e de Santa Izabel do Marinheiro. É também psicólogo. Em tempos de pandemia do coronavírus que anda gerando pânico pelo mundo, a palavra do padre e do psicólogo tem uma única direção. Não é possível alimentar o pânico, é preciso ter calma e muita fé. “A tempestade vai passar”, diz.
Como padre, Luciano conta a experiência inédita de todos os padres do mundo que estão celebrando a Semana Santa longe dos fiéis, em eventos transmitidos pela internet levando a palavra de fé para todos em suas casas. Ele vê o lado positivo da situação: “É uma oportunidade para o resgate de algo que se perdeu de alguma forma, que é a igreja doméstica, dentro dos lares, em família”. Para os fiéis uma mensagem de fé:. “Deus é quem tem o poder de acalmar a tempestade. Tudo vai passar”, afirma.
Como psicólogo, afirma que a ansiedade é inerente a todo ser humano, mas que não se pode inflar essa ansiedade a ponto de gerar pânico. “E pra isso não acontecer é que devemos ter o cuidado de não nos alimentarmos com aquilo que vai nos deixar desestruturado. Se você ficar só se alimentando de más notícias sobre doenças, tragédias, mortes, isso vai fazer com que a ansiedade comece a inflar. E vai gerar um grande mal em seu organismo”. Veja a entrevista: 

Como está sendo participar da celebração da Semana Santa longe do s fiéis, pela internet?
Padres do mundo inteiro tiveram que se adaptar à essa nova realidade levando em conta, em primeiro lugar a saúde da população. Está sendo um desafio para nós todos neste período que culmina com a Páscoa no domingo que é o ápice da nossa fé cristã. Mas, Graças a Deus, temos hoje os recursos tecnológicos que tem nos ajudado muito na celebração da Semana Santa levando essa palavra de fé a todos, mesmo em casa, mas em sintonia com a igreja. É um resgate de algo que se perdeu de alguma forma que é a igreja doméstica, dentro dos lares, em família. 

Como o senhor entende esse momento de pandemia do coronavírus que se espalha pelo mundo?
Antes de mais nada, o que tenho colocado às pessoas que me procuram e mesmo durante as celebrações que tenho transmitido, é motivar a população a ter calma. Não precisamos nos deixar levar pelo pânico, precisamos ser pessoas, mais do que nunca, de fé. Podemos trocar a palavra fé, para aqueles que não são religiosos, por pensamento positivo. Temos que estar voltados para a esperança. As tempestades sempre existiram e assolaram a história da humanidade, mas toda tempestade tem um fim, passa e depois vem a bonança. A própria sagrada escritura deixa isso bastante claro. A única coisa permanente, ao longo da vida é Deus. As demais coisas, todas passam. É importante entender que Deus é amor, é misericórdia. Nunca devemos olhar para esse momento que estamos vivendo como um castigo de Deus. Se Deus é amor, então o mal não pode provir dele. Deus vai ser aquele que diante da situação que estamos vivendo é quem vai nos dar a ajuda necessária para superarmos esse momento. Então, não podemos perder esse foco, de termos fé e esperança.

“Não precisamos nos deixar levar pelo pânico. Mais do que nunca, precisamos ter fé e esperança”

Esse momento é uma oportunidade de reintegração das famílias?
Estava lendo um artigo de uma psicóloga que ressaltava bastante isso, já que estamos vivendo esse período de afastamento social, ficando dentro de nossas casas, é uma oportunidade para nós resgatarmos os nossos laços familiares, cultivar mais intimidade dentro de casa, um com o outro, marido, esposa e filhos, um bom momento para resgatarmos algo, que por incrível que pareça, se perdeu que é saber dialogar. É uma oportunidade única que estamos tendo. Aproveite esse momento para trabalhar isso dentro da sua casa. Diante da correria que todos vivemos nesta sociedade frenética, muitos, infelizmente, perderam esses valores familiares. Se não cultivarmos, cada vez mais esses valores, vamos nos tornar estranhos dentro da própria casa.

Em um momento como esse, como separar o padre do psicólogo?
São dois papeis bem distintos. Como padre, administrador de comunidades cristãs, tenho que me posicionar de uma forma. Como psicólogo, tenho que procurar trabalhar sempre a partir de embasamento científico. Mas, é claro que tanto a religião, assim como a psicologia, tem a mesma proposta que é voltar-se para ajudar o próximo, ajudar o outro a ficar bem. É possível, apesar de tudo, conciliar as duas coisas. A religião ajuda no sentido espiritual, enquanto a psicologia atua no sentido da saúde mental.

“Esse momento de ficar dentro de casa é uma oportunidade para resgatarmos os nossos laços familiares”

Agora como psicólogo. Como lidar com a ansiedade neste momento de pandemia para evitar que se transforme em pânico?
Antes de mais nada é preciso ter claro que ansiedade é algo que faz parte do ser humano. É inerente a cada um de nós. O problema é quando essa ansiedade vai se potencializar a ponto de ficar fora de controle. E pra isso não acontecer é que devemos ter o cuidado de não nos alimentarmos com aquilo que vai nos deixar desestruturado. Se você ficar só se alimentando de más notícias sobre doenças, tragédias, mortes, isso vai fazer com que a ansiedade comece a inflar. E isso vai gerar um grande mal em seu organismo. É importante estarmos informado para lidarmos melhor com a situação, mas sem passarmos do limite. Para quem está em casa, é um ótimo momento de ocupar a mente com uma boa leitura, um bom filme, uma boa música, atividades em família que gerem bem estar. Hoje a internet está aí com ótimas opções para alimentar a mente com coisas boas e tirar o foco da pandemia. Essa é uma boa forma de colaborar com sua saúde mental e espiritual de todos.

Como lidar com as redes sociais em momentos de isolamento?
No dia a dia, todos estamos conectados às redes sociais. Desde que tenhamos bom senso no seu uso, as redes sociais podem ajudar as pessoas a se distraírem um pouco, além de nos aproximar daqueles que estão longe, principalmente neste momento em que não estamos podendo fazer visitas. Mas, em relação as pessoas com as quais forma um lar, é um bom momento de saber dosar o tempo de uso da televisão, do celular, do computador, para que se aproveite esse momento dentro com a família para resgatar o diálogo. O tempo é mínimo e muitas vezes esse tempo mínimo a gente acaba sendo rude, bruto, não se interessa em ouvir o outro, saber como a pessoa está. É hora dos pais e filhos se aproximarem mais. 

“Devemos aprender com a natureza que devastada pela tempestade se reconstrói e a vida continua”

Que mensagem o senhor deixaria neste momento?
A grande mensagem é que devemos aprender com a natureza. Quantas vezes a gente vê formar aquele tempo que nos dá até medo, vem aquela tempestade que as vezes chega a devastar tudo por onde passa. Mas, ela passa, e como passa. E depois tudo se reconstrói e a vida continua. Acredite nisso. O que está acontecendo é apenas uma fase e ela vai passar. Portanto, se agarre à fé, tenha esperança e olhe para frente na certeza que nos aguarda um futuro melhor.  Deus está conosco, ele ama seus filhos e é esse Deus que tem o poder de acalmar a tempestade e, quando tudo passar, temos que ser pessoas melhores do que antes, mais amorosas, fraternas e solidárias. Tudo vem para nos dar uma lição. Que a gente aprenda essa linda e olhe para o reflexo positivo dessa situação que estamos vivendo e não apenas o lado negativo. 

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