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A vez do explante



A vez do explante

A prótese de silicone nos seios conquistou fama entre as brasileiras já algum tempo. Entretanto, outra modalidade que começa a ganhar destaque na rotina dos cirurgiões plásticos é a retirada dos implantes, chamado de explante. Segundo os dados do último censo da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBPC), o implante de silicone é o procedimento estético cirúrgico mais procurado no Brasil. A Sociedade ainda não tem dados sobre a cirurgia de explante no País, mas de acordo com os dados da Sociedade Americana de Cirurgia houve um crescimento de 15% nesse procedimento nos Estados Unidos, de 2018 a 2019.

Alguns pacientes com implantes mamários têm se queixado de sintomas como dores articulares e musculares, confusão, fadiga crônica e doenças autoimunes. Esses sintomas podem estar relacionados  a ASIA (síndrome autoimune-inflamatória induzida por adjuvante), que consiste no desenvolvimento de doenças autoimunes como resultado de exposição a adjuvantes, como vacinas, implantes de silicone e outros fatores. Mas também podem ser sintomas de Breast Impant Illnes (BII), conhecida com a doença do silicone, que ainda não possui exames para o diagnóstico.

A coluna conversou essa semana com a cirurgiã plástica Camila Sommer, que possui consultório em  Rio Preto, Olimpia e Fernandópolis,  e recebeu nossa equipe, online, por conta da pandemia, para uma conversa sobre o tema:

Estudos relatam que durante a pandemia, a procura pela cirurgia plástica estética aumentou consideravelmente. Em sua opinião, é hora de retocar o corpo?

A pandemia e isolamento social tem aumentado a incidência de alguns distúrbios psiquiátricos, como a depressão e ansiedade. Acredito que a Cirurgia Plástica Estética, no âmbito de restaurar a autoestima, melhorando aspectos psíquicos, pode ajudar no tratamento destes distúrbios. Quando se sentem mais bonitas, as pessoas ficam mais motivadas a cuidar de si e têm menor chance de sofrer de depressão. Nesses casos considero sim, sua indicação válida, desde que seguindo as medidas de segurança.

Além disso, com a pandemia, as pessoas passam mais tempo na frente do espelho ou reparando mais em si mesmas, e de certa forma estão se tornando mais críticas com seus corpos. Assim sendo, querer melhorar sua aparência tornou-se algo importante para muitas delas.

Quando falo sobre Cirurgia Plástica Reparadora em época de Covid, considero como algo necessário de ser realizado, pois podem implicar em restauração de funcionalidade e tratamento de sequelas, algo imprescindível independente do momento atual, mas sempre tomando todos os cuidados merecidos nessa época.

E o mais importante: conversar sempre com o paciente, explicar cada cenário, considerar riscos e benefícios, para só então decidir conjuntamente o melhor momento para realizar a cirurgia.

O que devemos atribuir essa procura?

Acredito que o principal motivo se deva a possibilidade de se recuperar de procedimentos durante isolamentos social, dessa forma muitas pessoas aproveitaram o período da pandemia para realizar cirurgias estéticas justamente por conta da facilidade maior em manter o repouso necessário no período de recuperação pós-operatória, e muitas delas ainda continuar trabalhando normalmente nos casos de home office.

Com o isolamento as pessoas passam mais tempo em casa, o que possibilitou muitas reflexões e trouxe à tona os desejos há muito tempo deixados de lado, já que existe a sensação de que a vida passa rápido demais para que não façamos o que temos vontade ou não realizemos nossos sonhos, e para muitas pessoas a cirurgia plástica consta nessa lista de desejos.

Essa procura não apenas indicam uma tendência de comportamento, como também abre espaço para uma discussão sobre autoimagem, é notável o aumento de pessoas que vêm procurando a cirurgia plástica nesse momento para realizar um sonho antigo e solucionar uma questão de autoestima que ficou mais evidente durante o isolamento social.

Recentemente, o explante de silicone ganhou os holofotes da mídia. O que é a doença do silicone, que tem feito muitas mulheres retirar os implantes e voltar aos seios de antes?

Doença do silicone ou Breast Implant Illness, é um conjunto de sintomas inespecíficos auto reportados por diversas pacientes, que incluem: manifestações oculares, articulares, dermatológicas, cansaço, fraqueza, queda de cabelo, perda de memória, entre outras. Acredita-se que esses sintomas estejam relacionados a toxicidade que o silicone pode causar em algumas pessoas, porém nada ainda comprovado. Embora não se tenha ainda evidências científicas que demonstrem que os implantes mamários causam esses sintomas, há evidência de que esses sintomas sistêmicos podem desaparecer após a remoção dos implantes mamários.

Por enquanto essa doença é autodiagnostica, e ainda não é reconhecida oficialmente pela comunidade médica, porém em setembro de 2020, a Food and Drug Administration (FDA), órgão dos Estados Unidos equivalente à Anvisa, publicou uma recomendação que informa pacientes e profissionais da saúde sobre os riscos e as complicações que os implantes de silicone podem trazer.

Ao que tudo indica trata-se de uma doença rara, porém necessita de estudos científicos que comprovem sua incidência.

Outra patologia que muitas vezes é denominada como sinônimo de doença do silicone, é a  Síndrome ASIA (Autoimmune Syndrome Induced by Adjuvants), síndrome inflamatória autoimune induzida por adjuvantes. Porém são doenças diferentes, com sintomas semelhantes, que podem estar relacionadas a presença de implantes mamários. Essa síndrome caracteriza-se pelo desenvolvimento de doenças autoimunes em resposta a exposição a um adjuvante que pode ser prótese de silicone ou uma vacina, como descrito por Shoenfeld em 2011. É uma condição rara que pode afetar pessoas que optam pelo implante de silicone nas mamas. O problema afeta uma parcela mínima de pessoas que se submetem ao procedimento. Trata-se de uma reação autoimune engatilhada pela exposição a uma substância estranha ao organismo. Nesse caso, o silicone das próteses de mama. O acompanhamento junto ao cirurgião plástico e ao reumatologista auxilia na prevenção de complicações.

Quem precisa fazer o explante de silicone?

Em relação a melhora dos sintomas compatíveis com doença do silicone e remoção do implante, observou-se que algumas pacientes relatam melhora sim dos sintomas após o explante. Enquanto outras relatam melhora parcial e temporária e outras não observam melhora alguma após a cirurgia. Portanto a indicação do explante deve ser bem avaliada pelo Cirurgião Plástico em conjunto com a paciente, excluindo outros diagnósticos e estando cientes que se o implante não for o agente causador dos sintomas, estes podem não melhorar.

Como é essa cirurgia?

O explante mamário consiste na retirada dos implantes mamários juntamente com a sua cápsula de fibrose (capsulectomia). De maneira geral é uma cirurgia relativamente simples, que usa técnicas de cirurgia mamária consagradas. Podem ser um pouco mais complexas nas pacientes com implantes submusculares e deve ser individualizado o risco x benefício de uma capsulectomia nessas pacientes. Lembrando que não há garantia que os sintomas irão melhorar após o explante mamário. A literatura médica indica uma melhora dos sintomas em 75% das pacientes submetidas ao explante, porém é preciso notar que há 25% das pacientes que não apresentam melhora dos sintomas.

Como ficam os seios ao tirar as próteses?

O resultado da cirurgia de explante depende de cada caso, quanto de tecido mamário a paciente apresenta e o grau de flacidez de pele após a retirada dos implantes, podendo ser necessária a realização de mastopexia com cicatrizes maiores que as resultantes da colocação prévia dos implantes mamários.

De qual área médica é o profissional apto para fazer esse diagnóstico (da doença do silicone)?

Cirurgião Plástico e reumatologista.

Após o explante, é possível fazer outro implante de silicone? Depois de quanto tempo?

Se a causa do explante for a doença do silicone ou Síndrome ASIA e ocorrer a melhora dos sintomas após a retirada dos implantes, não é indicado nova colocação de próteses, com o risco de recidiva da doença. Ainda não há consenso nos casos em que a retirada não ocasionou melhora dos sintomas, porém acredita-se que se após 6 meses não houver regressão dos sintomas pode ser realizada a colocação de novo implante. Tecnicamente é possível e relativamente simples o procedimento para colocação de novos implantes. Lembrando que não existem ainda estudos científicos que embasem tal conduta.

Mesmo com o surgimento da “doença do silicone”, o implante de próteses continua sendo seguro?

O implante de silicone nas mamas está entre as cirurgias plásticas mais realizadas em todo o mundo. As próteses podem ser utilizadas tanto com finalidade estética, quanto reparadora, como no caso em que há necessidade de reconstrução após um tratamento oncológico, por exemplo. Elas são seguras e podem estar associadas à melhora da autoestima e da qualidade de vida.

Nos últimos 60 anos, os implantes de silicone têm sido utilizados literalmente em dezenas de milhões de pacientes no mundo todo e sim são seguros na grande maioria das pessoas. Entretanto, existe um pequeno percentual de pacientes que podem apresentar alguma reação adversa as próteses de silicone. Porém não há razão para preocupação excessiva, pois são reações raras e bom senso é fundamental.

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