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Aos 80 anos, Dr. Aer mantém rotina no consultório e plantões na Santa Casa



Aos 80 anos, Dr. Aer mantém rotina no consultório e plantões na Santa Casa

O médico Aer José Trindade chegou em Fernandópolis em fevereiro de 1970.  Acaba de completar 80 anos (20 de fevereiro) e ainda está clinicando, embora tenha reduzido muito a rotina, mas segue atendendo em seu consultório junto com a filha Maria Tereza e faz plantões na Santa Casa, onde atende desde que chegou por aqui. Casado com dona Carmen que conheceu logo nos primeiros anos de atuação na cidade, tem três filhos: Maria Tereza, Aer e Marcelo.Foi um dos primeiros médicos urologistas a atender na região, depois de Rio Preto. Hoje, divide com o Dr. Hélio Franciscon a primazia de ser um dos médicos mais antigos em atuação. Apaixonado por futebol, é palmeirense fanático e torceu muito pelo Fefecê, onde trabalhou como médico e chegou a ser presidente, o médico que recebeu da Câmara a homenagem com o título de Cidadão Fernandopolense agora faz planos para “pendurar as chuteiras”, ou melhor, o estetoscópio, até o final do ano.Dois dias após completar 80 anos ele foi entrevistado pela Rádio Difusora FM e falou de sua jornada como médico. Leia:

O senhor está completando 80 anos idade e 52 de exercício da medicina em Fernandópolis. Conta um pouco dessa história?
Eu cheguei em Fernandópolis no dia 2 de fevereiro de 1970. Fui o primeiro urologista da região de Rio Preto e ainda estou em atividade. Estou aposentado, vivo muito bem em Fernandópolis, agradeço a população por ter me recebido há mais de 50 anos. Sempre trabalhei na Santa Casa de Fernandópolis, trabalhei cinco anos em Votuporanga, outros cinco em Jales, cidades que ainda não tinham urologista. Fiquei aqui em Fernandópolis atendendo a população pelo SUS, IAMSPE. Hoje só atendo particular e paciente pelo plano de Saúde da Unimed. Fui diretor do Posto (antigo Postão do Estado) por 10, 12 anos. Atendia lá como clínico geral. 

O senhor diz que chegou aqui em 1970. Veio de onde?
Eu me formei em Medicina em 1967 na Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto. Fui para São Paulo fazer residência no Hospital do Servidor do Estado, onde fiquei pouco mais de dois anos. Acabou residência voltei para a região, já que a minha família era aqui de Sebastianópolis do Sul. Comecei a procurar um lugar onde pudesse exercer a medicina. Passei em Votuporanga, fui em Araçatuba, a Jales, mas o lugar que mais me atraiu foi aqui em Fernandópolis. Decidi ficar e estou aqui até hoje.

"Eu cheguei em Fernandópolis no dia 2 de fevereiro de 1970. Fui o primeiro urologista da região de Rio Preto"

O senhor nasceu em Sebastianópolis do Sul?
Nasci no sitio chamado Córrego do Retiro. Em 1954 fui para o internato Dom Bosco em Monte Aprazível, porque também não tinha muitas escolas pelo estado. Em 1958 fui para Ribeirão Preto fazer o cursinho para o vestibular de Medicina e fazia o Científico. Consegui entrar na Faculdade, não repeti nem um ano e formei em 1967 e até hoje não parei de exercer a medicina. Não fiquei rico, nunca soube cobrar de ninguém. Sempre vi a medicina como meio de ajudar às pessoas e de prestar um serviço. Tenho orgulho de ajudar às pessoas. 

O senhor e o Dr. Hélio Franciscon, médico ortopedista, são os mais antigos em atividade na cidade?
O Hélio é o mais antigo, chegou aqui em 1969. O Dr. Faleiros também chegou primeiro que eu. Dessa turma fui o terceiro a chegar.

Aos 80 anos, pensa em pendurar o estetoscópio?
Espero, aposentar não, parar de trabalhar esse ano. Hoje sou aposentado pelo Estado e pelo INSS. Tenho uma fazenda em Mato Grosso do Sul, em Paranaíba. Tenho uma reservinha e acho que, com as aposentadorias minha e da mulher, dá para tocar a vida e parar de pagar tanto imposto que a gente paga. Atendo bem pouco aqui no consultório. Meu plano é parar de vez no final do ano. 

"O lugar que mais me atraiu para exercer a medicina foi Fernandópolis. Escolhi ficar e estou aqui até hoje"

Imaginava na sua vida, como médico, vivenciar uma pandemia como essa do Coronavírus?
Eu me lembro de 1957 da chamada gripe asiática, mas não foi tão violenta como essa de agora. Tinha uns 15 anos de idade. 

O senhor chegou a ser contaminado pela Covid?
Não. Até atendo pessoal com Covid nos dois plantões que dou na Santa Casa (domingo e segunda-feira). Diminuiu muito o número de atendimentos na Santa Casa por causa da covid. Até hoje não fui contaminado pelo vírus. Espero que essa pandemia maldita termine logo, agora com a vacina.

O senhor tem duas paixões: o Palmeiras e o Fefecê. Foi inclusive médico do time e presidente em 74...
Sempre gostei de futebol. Na época quando cheguei aqui o time ainda estava meio sem direção. Juntamos uma turma, eu, o Claudio Rodante, o Décio Lípari e montamos o time de futebol. Era o médico, o Décio era o presidente e o Claudio era diretor. Continuei até 1994 e depois abandonei, nem no campo tenho ido mais. E palmeirense sou fanático. Meu filho é outro fanático. Tanto que foi assistir à final da Libertadores no Uruguai contra o Flamengo. 

"O que falta em Fernandópolis? Falta indústria. A cidade cresceu muito, mas sem gerar empregos"

O senhor nunca se interessou na política?
Nunca gostei de política. No começo, na época do Percy Semeghini, Antenor Ferrari, Newton Camargo, andei ajudando eles na eleição. Depois só votei.

Qual a visão que o senhor tem de Fernandópolis?
Quando cheguei aqui em 1970, Fernandópolis era até maior que Votuporanga. Acho que está faltando direção, faltando prefeito. Veja que Votuporanga subiu e Fernandópolis não subiu nada. O que falta em Fernandópolis? Falta indústria. A cidade cresceu muito, mas sem gerar empregos. Não buscamos indústrias e ainda perdemos as que tinham aqui. 

Um fato que lhe honra bastante foi ter recebido o título de Cidadão Fernandopolense?
Recebi o título por indicação do Antenor Ferrari, na época como vereador. Me honrou demais receber essa homenagem. Não só eu fiquei honrado, mas minha família toda.

O tem consciência de cumpriu sua missão na medicina?
Sim, cumpri a minha missão. Da minha turma de 67, são poucos que estão em atividade atualmente. A gente tem contato com eles, através do WatsApp, muitos já morreram e outros pararam de clinicar. Eu era um dos mais novos da turma. Quando fiz o curso no Estado de São Paulo tinha apenas quatro escolas de Medicina, tinha a USP de Ribeirão Preto, a USP São Paulo, tinha Pinheiros e Sorocaba. Hoje só na nossa região tem cinco ou seis escolas. Então hoje é muito fácil entrar para a Medicina.

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