Boa de Garfo

CONSCIÊNCIA NEGRA: as delícias da culinária afro-brasileira



CONSCIÊNCIA NEGRA: as delícias da culinária afro-brasileira
A feijoada ganhou acompanhamentos como couve, farofa e vinagrete

No dia da consciência negra, que é celebrado hoje, 20, no Brasil, decidi falar sobre a cultura gastronômica de origem africana que desembarcou no país por meio dos mercadores dos escravos e se enraizou por aqui. Nossa gastronomia atual tem muito da culinária africana. Tanto em seus temperos, quanto nos ingredientes. Foi então que nasceu a culinária afro-brasileira, que traduz um pouco da cultura e da tradição que foi resultado dessa miscigenação dos povos.

Um dos pratos que mais representam essa fusão é a feijoada. O brasileiro ‘garrou’ um amor nesse prato e combinou com a brasileiríssima caipirinha de limão. Hoje, a ‘feijuca’ ganhou status e está presente na casa de todo mundo, seja rico ou pobre. Mas, nem sempre foi assim. Ela surgiu nas senzalas, onde as pessoas escravizadas aproveitavam os pedaços de porco que os senhores jogavam fora, como pés, orelhas e rabo, e misturavam no feijão preto.

A feijoada ganhou mais sabor com novos ingredientes com o bacon, calabresa, paio e a carne seca. Além dos acompanhamentos como a vinagrete, a farofa, a couve refogada, o arroz branco, o torresmo e a laranja. Eita que já deu água na boca aqui! Confesso que amo cozinhar aquela panelada e reunir a família ou os amigos para saborear e bebericar uma caipirinha.

A canjica se tornou um dos doces das tradicionais festas juninas

A canjica ou mungunzá é outro prato de origem afro-brasileira muito popular, principalmente na época dos festejos juninos. Feito de milho branco ou amarelo cozido, leite e açúcar, o doce, assim como a feijoada, também ganhou um toque de brasilidade com a cremosidade e a doçura do leite condensado ou o açúcar em ponto de caramelo que confere uma cor marronzinha no caldo. Essa do açúcar queimado lembra minha saudosa avó, Zeferina, que usava essa técnica também no arroz doce. Lembro até do cheiro de quando ela preparava na cozinha. Simplesmente, maravilhoso. Ô saudade, viu!

A cocada foi a mistura dos cocos da costa brasileira com a cana de açúcar

Outro doce que também é considerado afro-brasileiro é a cocada. Com a fartura de coqueiros na costa brasileira e, as grandes fazendas de cana-de-açúcar, era comum ralar o coco e misturar com uma calda feita de açúcar, dando origem à cocada. Seca ou cremosa, a cocada também pode ser branquinha ou marrom, dependendo do ponto do açúcar. Só sei de uma coisa, independente da consistência ou da cor, a cocada é sempre deliciosa. A cocada lembra muito a Expo de Fernandópolis. Aquelas barracas repletas de doces lindos e com sabores diferentes como a de maracujá, que sempre foi a minha preferida. Não podia voltar da festa sem levar uma cocada para minha mãe.

Faltaria páginas no jornal para falar de cada um dos pratos que temos que possuem origem africana. Escolhi esses três, pois, além de serem meus preferidos, têm a ver com a minha história e me remete a lembranças afetivas muito boas. Portanto, proponho a você um desafio nesse dia da Consciência Negra, que tal se reconectar ao nosso passado, a nossa história e nossa cultura? Seja por meio da gastronomia, da arte, da leitura, da música ou do esporte. Explorar, conhecer e fazer parte, é um começo para que possamos compreender e respeitar a todos independente de sua raça ou religião.

E claro, vai ter receita sim senhor! A minha feijoada todinha para você!

Feijuca da Gi

Feijuca da Gi

Ingredientes

500g de feijão preto

250g de calabresa fatiada

250g de paio fatiado

200g de bacon picado

500g de carne seca dessalgada desfiada

250g de costelinha de porco defumada

1 cebola

2 dentes de alho

2 folhas de louro

Cheiro verde ao gosto

Modo de fazer

1 – Na véspera deixar o feijão de molho e a carne seca, trocando a água pelo menos duas vezes.

2 – Cozinhe o feijão com as folhas de louro e um fio de azeite.

3 – Na panela onde será feita a feijoada frite o bacon, retire e reserve. Na mesma panela repita o processo com a calabresa e o paio.

4 – Refogue a cebola, o alho, e junte com o bacon, paio, calabresa, carne seca e a costelinha. Adicione o feijão cozido e misture bem.

5 – Deixe ferver até engrossar e tá pronto!

Boa de Garfo - Giovanna Simioli