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“Cooperativa e produtor têm que crescer juntos”



“Cooperativa e produtor têm que crescer juntos”

3 de julho é o Dia Internacional do Cooperativismo. O cooperativismo é um preceito que indica a colaboração e a associação de pessoas ou grupos com os mesmos interesses, e com o objetivo de adquirir vantagens comuns para as suas atividades econômicas. Em Fernandópolis, surgiu em 2013 a Codafaf –  Cooperativa da Agricultura Familiar de Fernandópolis – que reúne atualmente 26 produtores da região. O presidente atual é o produtor rural Claudinei Ferrari, 53 anos. Ele tomou posse no dia 31 de dezembro de 2019 e meses depois chegou a pandemia. Mesmo assim ele diz que a cooperativa é o caminho para a sobrevivência do pequeno produtor. Ela tem sede própria, caminhão e máquinas para iniciar a produção de polpas de fruta e miniprocessados. “Só estamos esperando passar a pandemia para colocar as máquinas para funcionar”, diz. A sede da cooperativa está Avenida Professora Dasdores Maria do Carmo Del Grossi, próximo ao Distrito Empresarial I. Sobre o cooperativismo, Ferrari é otimista. “O futuro do produtor é cooperativismo. A cooperativa tem que crescer, mas o produtor tem que crescer junto. Não adianta a cooperativa crescer, ficar rica e o produtor pobre. Os dois, cooperativa e produtor, têm que crescer juntos”, diz. Leia a entrevista:

Como começou a história da Cooperativa?
Com a papelada toda acertada a cooperativa começou em 31 de dezembro de 2013. Ficamos dois anos trabalhando para a legalização da cooperativa. Fomos agrupando, tinha mais gente, alguns saíram, hoje estamos em 26 produtores. Através de projeto na Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, por meio da CATI - Coordenadoria de Assistência Técnica Integral - no programa Microbacias II a cooperativa conseguiu a construção da sua sede e a aquisição de um caminhão e máquinas para o processamento de produtos eliminando as perdas e aumentando a rentabilidade do produtor. A cooperativa já possui como clientes prefeituras que atendem à lei que os obrigam a utilizar 30% do repasse do PNAE - Programa Nacional da Alimentação Escolar -  em produtos da agricultura familiar o que tem ajudado muito os produtores e com isso conseguimos preços melhores, participando de chamada pública de prefeituras, como a de Fernandópolis, colocando nossa produção, como alface, almeirão couve, banana, mamão, abacaxi, laranja, tangerina poncan entre outros produtos, destinada a merenda escolar. Assim todos trabalham mais contente.

"O futuro do produtor é a cooperativa. Sozinho ele não dá conta de trabalhar e manter a propriedade"

Quem são os produtores que estão na cooperativa?
São produtores que estão espalhados pelo município e pela região. O nosso grupo é formado por produtores de Fernandópolis, Meridiano, Estrela d´Oeste, Jales, Macedônia. São pequenos produtores, da agricultura familiar, com propriedades em torno de 4 módulos (cerca de 30 a 40 alqueires). Não precisa ser proprietário, as vezes são arrendatários.

Antes da cooperativa era cada um por si?
Era cada um por si. Trabalhar sozinho você não consegue preço melhor para seu produto. Quando você agrupa como na cooperativa, consegue melhor rentabilidade o que é bem melhor para todos.

Além de agrupar os produtores o que mais a cooperativa oferece?
Através da cooperativa, o produtor consegue também implementos mais baratos e estamos acreditando muito no projeto da polpa de fruta e microprocessados que vai agregar valor para a nossa produção e melhorar o nosso ganho. Estamos otimistas que isso vai impulsionar mais o ganho para os produtores. Se não fosse a cooperativa, os produtores estariam acabando porque sozinho não consegue obter preço na hora de vender o produto.


"Estamos pequenos ainda, mas o nosso projeto é continuar crescendo com os produtos processados"

A cooperativa começou num barracão e hoje tem prédio próprio. Como conseguiram essa sede?
Temos prédio próprio, caminhão e maquinário para produção de polpa de fruta e mini processados. O prédio foi construído com recursos do projeto de microbacias do governo que entrou com 70% do valor.  Tivemos ajuda do pessoal da CATI. A prefeitura doou a parte do terreno e com o recurso construímos essa sede. Chegamos até discutir a possibilidade de ocupar o prédio da Ceagesp, mas não deu certo. Foi quando surgiu esse projeto e a coisa andou.

A cooperativa tem abertura para receber outros produtores?
Por enquanto, estamos num grupo fechado, mas conversei com o pessoal para a gente abrir para receber mais produtor. Com mais produtor na cooperativa, a gente se fortalece para atender a merenda escolar. Hoje tem a associação e acaba repartindo entre eles e a cooperativa. Se tivermos mais produtor, a gente aumenta a nossa participação. Queremos pelo menos atender 50% da merenda em Fernandópolis. A cooperativa é uma empresa, nós seguimos uma legislação própria do cooperativismo.

Qual foi o impacto da pandemia para os pequenos produtores da região?
Atingiu bastante. Diminuiu bem as vendas. Graças a prefeitura de Fernandópolis ela tem adquirido mais produtos, além dos 30% de lei e isso tem ajudado muito os produtores. Nós montamos os kits de produtos para entrega aos estudantes. Ajudou muito.

Qual a perspectiva para o pós pandemia?
É iniciar a produção de polpas de frutas e miniprocessados. Já estamos pensando mais para a frente também começar a produzir o suco de laranja. Com isso vamos conseguir melhorar a nossa margem de faturamento. Olhamos para a merenda escolar que é onde estamos conseguindo colocar a nossa produção. No mercado temos que concorrer com grandes produtores e perdemos na margem de preço. Estamos pequenos ainda, mas o nosso projeto é continuar crescendo. É por isso que estamos querendo também ampliar o número de produtores e aumentar a oferta de alimentos.


"Não adianta a cooperativa crescer, ficar rica e o produtor pobre. Os dois, cooperativa e produtor, têm que crescer juntos"

O futuro para os pequenos produtores é o cooperativismo?
O futuro do produtor é esse. Sozinho ele não dá conta de trabalhar e manter a propriedade. Na cooperativa, com mais gente, com incentivos do governo a gente consegue ter uma renda e manter a família na propriedade rural. Sem a cooperativa, o produtor para.

Além da pandemia, o produtor também sofre com a seca?
É uma situação difícil também. Não chove e a gente já vê muitas represas e até córregos secando. Tem produtor que perfurou poço semi artersiano e está vendo a água secar também. Com a falta de chuva é outro problema que estamos enfrentando, principalmente as áreas com menos água. Afeta produção. O produtor que trabalha sozinho, enfrenta uma situação mais difícil ainda.

Para o produtor, olhar esse cenário da seca, qual o sentimento?
É de muita tristeza. Eu nasci no sítio e vivo disso. Me lembro que chegava agosto, setembro, a gente já plantava naquela época porque sabia que chovia. Hoje você não sabe mais se chove em novembro, dezembro, tem vez que nem chove. Antes tinha a época das chuvas. Hoje a gente nem sabe mais quando chove. Faz muitos anos que não enfrentamos uma estiagem como essa. A nossa região está sofrendo muito. Agora deu essa esfriada e a situação deve ficar ainda mais complicada, judia mais das plantas. Precisamos de chuva e aí temos que esperar a mão de Deus.

Com a cooperativa vocês têm conseguido tirar o atravessador do caminho?
A vida no campo sempre foi muito difícil e agora está mais. O que produzimos sempre tem o preço lá embaixo e quando chega para o consumidor, o preço está lá em cima. Quem ganha sempre é o atravessador. Com a cooperativa a gente está lutando para escapar do atravessador para ver conseguimos ter melhor renda com nossa produção. Já melhorou na parte de chamada pública para o agricultor familiar.

Na presidência da cooperativa, qual o seu sonho?
Espero que melhore mais para nós pequenos produtores. Tenho muita fé na polpa da fruta que dará maior rentabilidade para a nossa produção. Temos que investir mais e quando acabar a pandemia entrar firme para agregar com o processamento dos nossos produtos, reduzindo as perdas. Eu sempre digo que entrar na cooperativa foi um bom negócio. O cooperativismo é uma das melhores formas do produtor aumentar sua renda. Veja no sul do Brasil o sucesso do cooperativismo. Funciona lá e está funcionando para nós também. Ainda tem produtor que fica com pé atrás, mas posso dizer que a nossa cooperativa sempre deu certo, trabalhou dentro da lei, com honestidade. A cooperativa tem que crescer, mas o produtor tem que crescer junto. Não adianta a cooperativa crescer, ficar rica e o produtor pobre. Os dois, cooperativa e produtor, têm que crescer juntos.

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