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Coro se abre para novas vozes



Coro se abre para novas vozes

Superado o grande drama que paralisou o Coro Municipal em 2020, o maestro Sandro Muniz, 35 anos, está se preparando para iniciar mais uma temporada. O Coro Municipal de Fernandópolis, mantido pela Prefeitura através da Secretaria da Cultura e Turismo, já está completando cinco anos e se colocando em um patamar que orgulha o maestro que chegou em Fernandópolis em 2016 para assumir o cargo após ser aprovado em concurso municipal. Começou o trabalho do zero, avançou, mas como toda a atividade cultural, também precisou parar por conta da pandemia. Neste ano está garimpando novas vozes para o coro e as inscrições ainda estarão sendo recebidas nesta primeira quinzena de fevereiro. Os ensaios retomam nos próximos dias. Nesta entrevista ele fala do Coro Municipal que reúne vozes dos 16 aos 70 anos. Leia:

Nova fase de garimpagem de vozes para o Coro Municipal de Fernandópolis. Qual a expectativa?
Semestralmente a gente abre inscrições para novos cantores. A expectativa sempre são as melhores, ter novo pessoal ingressando. É uma oportunidade para quem deseja cantar, participar do coro, desenvolver sua voz, venha cantar com a gente, será a honra recebe-los no grupo.

Você trabalha com várias faixas etárias?
É um coro adulto misto, tenho cantores de 16 a 70 anos. A gente tinha e, pretendemos ressuscitar, o coro infantil. Tinha, porque com a pandemia não foi possível manter o trabalho desde março de 2020 que era o período de reingresso do pós-férias do coro infantil. Ali tivemos que interromper as atividades e não conseguimos mais retomar, porque o coro infantil depende demais de ano letivo escolar, abertura das escolas, ficou difícil manter o trabalho. Eu trabalho com aglomeração, preciso de pais confiantes para desenvolver o trabalho. Com os pais temerosos, a gente acabou optando por fazer uma retomada no momento mais seguro. Por isso decidimos só retomar o coro adulto. 

"O nosso coro é adulto misto, com cantores com idades de 16 a 70 anos"

No coro infantil você trabalhava com qual faixa etária?
A partir dos 7 ou 8 anos, geralmente eles gostam e querem permanecer e depois seguem para o coro adulto. O bacana seria ter um coro intermediário, que a gente chama de infanto-juvenil, que é a turma dos adolescentes. A grande questão é a muda vocal dos meninos. É uma fase de transição da voz (de menino para adulto) e é mais delicado e exige atenção especial, porque é uma fase que uma extensão vocal está sendo construída e outra descontruída. Isso não é saudável. Nessa faixa etária é melhor trabalhar aula de canto do que trabalhar coro, onde trabalhamos com generalidades. Na aula de canto trabalhamos com particularidades.

Muita gente gosta de cantar, mas se inibe diante das pessoas. O coro ajuda?
Não digo que essa inibição vai acabar. Eu sou tímido e sempre tive esse acanhamento. Mas, o coro, de todas as práticas é a mais salutar, porque se trabalha em grupo e a energia do grupo produz o que se chama de comportamento de manada, no sentido de que o coletivo te energiza, te impulsiona e te dá a coragem que você não teria sozinho. 

O Coro de Fernandópolis trabalha só com voz ou tem acompanhamento de instrumentos?
O bom coro é aquele que canta capela. Não estou dizendo que o coro acompanhado por piano, órgão ou orquestra seja um coro ruim. A condição ideal é o coro a capela aquele que se basta por si só, ou seja, consegue extrair tudo que é necessário de si próprio. Outros instrumentos podem acrescentar, mas é muito comum em coro amador a gente se apoiar no instrumento para ocultar nossas imperfeições. O instrumento tem que vir para somar e não para maquiar. 

"O coro é um grupo muito integrado, de uma seletividade de valores que me faltam palavras para descrever"

Quanto tempo já está desenvolvendo esse trabalho com o Coro em Fernandópolis?
O coro municipal está completando cinco anos. Eu cheguei em 2016 e se a gente subtrair o ano morto de 2020, porque precisamos interromper o coro adulto, dá quatro anos e pouco.

Nesse período descobriu algumas pedras preciosas?
Descobrimos várias, aliás todas as vozes. O valor humano é o que mais tenho apreciado, ganhei amigos, o coro é um grupo muito integrado de uma seletividade de valores que me faltam palavras para descrever. Cantei no coro paulistano do Teatro Municipal de São Paulo, coro da Unesp, no coro de Câmara da Unesp, no coro de Itapevi e posso dizer que sou muito feliz com coro municipal. 

Como maestro, conduzindo um trabalho que começou do zero, qual o sentimento regendo o coro que tem encantado as pessoas nas apresentações?
São experiências muita gratificantes. Nossa primeira saída foi para Marilia no convite que recebemos para cantar na Unesp de lá e foi muito gratificante. Nós fizemos um encontro de coros aqui e recebemos o coro da Unesp de Marília, enquanto nós éramos um coro de principiantes, no nosso primeiro ano. A gente cantou e a diferença não era tão grande. Outra experiência muito gratificante foi em São Carlos, no encontro de coros, que reuniu dezenas de corais de todas as regiões. Eu acho saudável o encontro de coros porque você mede a sua qualidade vendo outros. Não é um ambiente de competição, mas de troca de experiência, e permite que a gente avalie a nossa real estatura. E o nosso coro estava entre os melhores que ali se apresentaram. Retornamos numa alegria só. 

"Minha formação é erudita. A experiência com a música clássica no seu ápice é arrebatadora"

Neste momento de inscrições para novos cantores, quem pode se inscrever?
Qualquer pessoa, os menores de idade a partir de 16 anos com a autorização dos pais. O coro ensaia toda terça-feira, 19h30 no Teatro Municipal. Hoje o nosso coro está com 28 vozes, com predominância das mulheres. O ideal é que a gente consiga equilibrar, mas os homens ainda são minoria. A prática de coro é assim, majoritariamente a presença de mulheres. 

Para quem chegar ao coro agora, qual o trabalho inicial?
Nesse primeiro momento, a pessoa faz a inscrição, posteriormente entraremos em contato para marcar uma audição que não tem caráter eliminatório, mas sim será oportunidade para avaliar o estágio da pessoa, o nível de afinação, projeção vocal e qual a tessitura vocal, se é tenor, soprano contralto ou baixo. Feito isso e a pessoa já se encontrando em condições de acompanhar o grupo da forma como está, ela passa a integrar o coro. Se apresentar alguma dificuldade, ou se existe algum campo de aprendizado que precisa galgar, ela vai ingressar no grupo que chamamos de coro preparatório. Ali será passado respiração, técnica vocal, projeção, afinação, fisiologia da voz, para que se identifique, se compreenda, se insira e pratique até chegar no ponto onde consiga acompanhar os demais.

A popular voz de “taquara rachada” tem salvação?
Sim, tem salvação. É tudo questão de técnica. O maior problema é afinação. Tem pessoa que é desafinada e pode envolver algumas questões psicológicas ou questões de deficiência de aprendizado. A afinação é um processo muito complexo. Enquanto a taquara rachada, a pessoa tem aquela voz meio ardida, ou a voz entubada, muito lá atrás, ou voz anasalada. Todas essas questões de projeção, onde ela coloca a voz, tudo isso é tratável e de forma tranquila, porque é possível. Ela terá que se permitir essa sonoridade nova, porque ela vai estranhar muito a própria voz nesse tipo de aula. Agora a afinação é um pouco mais difícil, porque pode ter questões motoras envolvidas. Afinação é um processo de tradução muito complexo. O som é uma onda mecânica, bate no ouvido, que transforma ou traduz essa onda mecânica em eletricidade, porque é isso que o nosso cérebro entende, manda esse impulso elétrico para a prega vocal que vai criar a forma correta para passando o ar, voltar a ser vibração de novo. Então é uma dupla tradução que envolve um monte de questões, até de problemas musculares. 

O coro trabalha com todo tipo musical ou algum específico?
A minha formação é erudita e seu puder vou direcionar o coro para a música erudita, não por ser melhor ou pior, mas é o que faço melhor e, ao meu ver, é aquilo que mais falta. É disso que se trata. E não falta porque é feio, chato ou desagradável ou porque a música clássica não é meu perfil. Não, música clássica é incrível, é que é difícil quem faça música clássica direito. A experiência com a música clássica no seu ápice é arrebatadora. Esse é novo alvo. Lógico que tem obra que gostaria de fazer, mas ainda não temos estatura para isso. Portanto, vamos fazer o que está ao nosso alcance. O repertório erudito que o coro faz é o que conseguimos fazer. A gente faz também música popular, mas a música popular toda polifonizada. Qual é o repertório mais interessante e que mais vai nos desafiar e que a gente vai conseguir? É esse o repertório que trabalhamos, tanto popular quanto o erudito.

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