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Cuidado com o sol



Cuidado com o sol

Em meio a mais uma onda de calor, vem o alerta: cuidado com o sol. Tradicionalmente lançada no mês de abertura do verão, a campanha Dezembro Laranja, vem nos alertar sobre os cuidados na prevenção do câncer de pele, onde o sol é causa de maioria dos casos. Tanto que a Sociedade Brasileira de Dermatologia lançou a campanha intitulada “Seu sol, sua pele, sua proteção. Cada um com a sua prevenção” com o objetivo de conscientizar as pessoas sobre a importância de se prevenir da incidência dos raios solares de forma responsável, independentemente do tipo de pele. O médico Dr. Humberto Faleiros, que é cirurgião plástico e atende no ambulatório de prevenção ao câncer de pele, no Instituto de Prevenção do Hospital do Amor em Fernandópolis alertou para os cuidados com a exposição ao sol. Ele concedeu entrevista esta semana à Rádio Difusora FM e jornal CIDADÃO. O câncer de pele é o mais incidente no país, com cerca de 185 mil novos casos por ano, segundo o Instituto Nacional do Câncer. “Graças a Deus, cerca de 90 a 95% dos cânceres de pele não são tumores agressivos e o diagnóstico precoce ajuda no tratamento”, diz o médico que conseguiu acelerar o processo de atendimento dos pacientes no Hospital de Amor em Fernandópolis através do projeto de foto dermatologia para o rastreio de casos. A entrevista dá dicas de proteção na exposição ao sol. Leia a entrevista:

Quais os tipos de câncer que acometem tantas pessoas?

O câncer de pele é o mais prevalente no mundo. Aqui no Brasil, o órgão responsável pela notificação é Inca – Instituto Nacional do Câncer. Em termos gerais, a gente notifica aqui no Brasil em torno de 600 mil casos de câncer por ano e pelo menos um terço do total é de pele. Isso é um dado relevante e, muitas vezes, as pessoas negligenciam pelo fato da maioria dos tumores cutâneos não serem letais. Graças a Deus, cerca de 90 a 95% dos cânceres de pele não são tumores agressivos e que se espalham para outros órgãos. Tem um tipo, o melanoma, esse sim, é muito agressivo, grave. É aquela mancha preta e temos que ficar de olho para fazer o diagnóstico bem precoce. Os carcinomas basocelular e espinocelular são a grande maioria dos casos. O basocelular representa 75% dos casos e é estritamente pela exposição crônica ao sol sem proteção. É um câncer, ou seja, um tumor maligno, mas é bem menos agressivo, raramente dá metástase, mas ele vai invadindo localmente os tecidos subjacentes. Ele causa principalmente sequelas locais, estéticas, funcionais. Se crescer muito, por exemplo, na ponta do nariz, chega uma hora que precisa tirar o nariz. Ele não se espalha pelo corpo, mas localmente ele causa bastante dano e sequela.

"O perfil dos casos de câncer de pele é de pessoas mais idosas, acima de 60 anos, que tiveram exposição crônica ao sol"

Qual o perfil da pessoa com diagnóstico de câncer de pele?

Os tumores não melanomas, principalmente os basocelular e o espinocelular, geralmente tem como perfil, pessoas de pele clara, com exposição crônica ao sol por muitos anos, sem nenhuma proteção. Por isso mesmo, o perfil é de pessoas mais idosas, acima de 60 anos. Em criança e adolescente, por essa questão da exposição ao sol, a gente não vê esse tipo de câncer. Em pessoas mais jovens aparece o melanoma, aquele tumor mais raro, mais agressivo, que é aquela mancha preta com as bordas irregulares, crescimento rápido, lesões assimétricas. Esse tipo tem relação com exposição solar mais aguda, mas o principal é a genética familiar. A história familiar é importante nos melanomas.

Tem um tipo de pele mais sensível ao sol e com maior risco?

Tem uma classificação da pele, da resistência da pele a exposição solar. Então aquela pessoa de pele muito clara que fica exposta ao sol e não bronzeia, fica apenas vermelha, essa pessoa precisa tomar cuidado. Aquela que toma sol e demora para bronzear, também já é mais suscetível. Aquela que toma sol e bronzeia rápido já se protege mais. O negro, por exemplo, não tem esse tipo de tumor não melanoma, por que ele tem muita melanina que é o pigmento que faz a gente bronzear, que é o nosso filtro solar natural.

"Com o rastreamento de casos por fotos conseguimos acelerar o diagnóstico e diminuir o tempo de tratamento"

Sabendo que o sol é o maior causador do câncer de pele, o que fazer para se proteger?

Devemos lembrar que o sol também é importante, principalmente para produção da vitamina D. Mas, tomar 15 minutos de sol por dia, especialmente no período da manhã, é suficiente para produção da vitamina D. Para quem vai ficar exposto ao sol no trabalho ou lazer por longo período a recomendação é o uso do protetor solar.

Estamos vivendo seguidas ondas de calor o que aumenta risco de exposição solar. Como deve ser o uso correto de protetor solar?

A gente sempre orienta usar um protetor solar com filtro numeração acima de 30. Tem vários trabalhos que mostram que o fator 30 já bloqueia o raio ultravioleta em mais de 95%. Ele é bem eficaz e com um preço bom. O fator 100 bloqueia 97%, mas o preço triplica. Há um tempo atrás foi proibido colocar fator de proteção acima de 30 no rótulo. Era para ser apenas 30+. Mas, isso caiu. O importante é que o fator 30 já atende a necessidade de proteção. Importante frisar que, seja qual for o fator, após quatro horas o ele perde a eficácia. O ideal é reaplicar, pelo menos de quatro em quatro horas, principalmente em áreas mais expostas, rosto, orelhas, dorso.

"O melanoma, aquela mancha preta que aumenta, é o tipo de câncer de pele mais agressivo que atinge jovens"

Existe algum outro fator de risco para o câncer de pele?

Existe. O carcinoma espinocelular que é um tumor não melanoma, não só o sol provoca o surgimento dele, tanto é que ele aparece também em mucosas que são os tumores de boca, de lábio. Isso pode ser causado pela exposição ao álcool e tabaco e também por vírus, como o papiloma vírus e zoster, e doenças genéticas.

Qual a estrutura que a unidade de prevenção do Hospital de Amor oferece para diagnóstico do câncer de pele?

Em 2014, quando chegamos no Hospital de Amor percebemos que o atendimento era porta aberta sem nenhum tipo de triagem. Em 80% dos casos as lesões eram benignas, ou seja, não eram câncer. O paciente que tinha o câncer demorava para ser diagnosticado. Para resolver esse problema a gente implementou um projeto de foto dermatologia. Hoje, todo mundo que chega ao Instituto de Prevenção tem que tirar uma foto. Com esta foto, a gente consegue identificar se é uma lesão benigna ou maligna. Se ficar em dúvida, convocamos a pessoa para consulta. No caso da lesão maligna, a gente convoca o paciente para a consulta e início do tratamento. Com isso, conseguimos acelerar o diagnóstico e diminuir o tempo de tratamento. Hoje, entre três e seis meses, as pessoas são operadas e tratadas. Antes demorava um ano, um ano e meio. Através de uma ação parceira, o Rotary Club doou para o Hospital de Amor em Fernandópolis um aparelho, o Foto Finder, que faz fotos digitais do corpo todo e localiza lesões potencialmente malignas, principalmente as lesões melanocíticas e aponta no acompanhamento se a lesão aumentou ou não. Então se você tem aquela mancha preta que começou a aumentar, coçar, que está mudando de tamanho, ou mesmo quem tem várias lesões pigmentadas e quer um acompanhamento é só agendar para fazer o exame. Isso é bom porque se consegue pegar o melanoma precocemente onde o índice de cura é praticamente 100% de um tumor altamente maligno e que em estágio avançado o risco de morte é grande.

Quais as formas de tratamento?

Os tumores não melanomas, o basocelular e ou espinocelular, o padrão ouro é a cirurgia mesmo. Pode fazer radioterapia local em pacientes que não tem condições cirúrgicas ou lesões muito grandes que possam causar uma sequela de grandes proporções. Já o melanoma, é remoção cirúrgica também, mas existem outros tratamentos como imunoterapia que é mais especializado e realizado em Barretos.

 

 

 

 

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