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“Cuidar do meio ambiente é preparar a cidade para eventos climáticos extremos”



“Cuidar do meio ambiente é preparar a cidade para eventos climáticos extremos”

Hoje, 5 de junho, é o Dia Mundial do Meio Ambiente. A data é celebrada em meio à pior seca dos últimos anos que já acende a luz de alerta, diz o secretário do Meio Ambiente Luis Sérgio Vanzela que está na pasta desde 2017. Nesse tempo vem trabalhando em projetos de curto, médio e longo prazo e fala do empenho para deixar Fernandópolis um pouco mais resistente a essa questão das mudanças climáticas. É o que ele chama de resiliência climática para enfrentar eventos extremos, seja de chuvas de grande intensidade ou de secas intensas e temperaturas elevadas como agora.

Nesta entrevista ao jornal CIDADÃO e Rádio Difusora, Vanzela fala de outros projetos como a implantação de sistema de monitoramento para vigiar 42 km de perímetro urbano para combater o descarte irregular de resíduos sólidos, do plano de arborização da cidade, da recomposição da mata atlântica, da criação da primeira reserva natural e do desassoreamento da represa que deve estar concluído até o final de julho. E alerta: “Cuidar do meio ambiente é cuidar da saúde.
O coronavírus é resultado do desequilíbrio ambiental”, diz. Leia a entrevista:

Como estamos cuidando do nosso território na questão do meio ambiente?
Desde que iniciamos o nosso trabalho na Secretaria do Meio Ambiente em 2017, estamos desenvolvendo trabalhos de curto, médio e longo prazo com a finalidade de tentar solucionar todos os problemas e pendências que tínhamos na área ambiental. Já conseguimos equacionar alguns problemas, como dos resíduos sólidos que quando assumimos estava bem descontrolado, principalmente resíduos da construção civil, volumosos, eletrônicos e podas. Conseguimos organizar o setor e dar destinação correta a estes resíduos. Hoje a população tem local para destinar todos os tipos de resíduos. Então não temos nenhum tipo de resíduos que não temos condição de dar o destino correto.

Apesar disso, ainda se assiste descarte ilegais?
E esse é um ponto importante que estamos cuidando dos detalhes para implantar em breve um sistema de monitoramento para flagrar os abusos. Hoje com a fiscalização, com a ajuda da população e com as câmeras de monitoramento de segurança conseguimos flagrar quem faz o descarte irregular e estão sendo punidos. Além da multa pelo crime ambiental, estão recebendo a conta da limpeza realizada pela prefeitura. Mas, o principal é a educação ambiental principalmente pelo momento que estamos passando mundialmente. Essa pandemia do coronavírus é fruto do desequilíbrio ambiental a partir de uma interação, seja por alimentação ou qualquer outra forma, que não deveria ocorrer, mas que ocorreu e por esse motivo gerou a mutação de um vírus que passou a acometer o homem gerando essa pandemia mundial. Então temos que pensar no seguinte sentido: Se você quer um ar de qualidade para respirar, uma água de qualidade para beber e alimentos de qualidade, precisamos cuidar e preservar o meio ambiente. E se quiser saúde, principalmente, também é preciso cuidar do meio ambiente para evitar que esse problema (a pandemia) volte a se repetir no futuro.

"Em breve teremos um sistema de monitoramento para flagrar descarte ilegal de resíduos sólidos. É a educação ambiental pelo bolso"

Como será este sistema de monitoramento?
Vamos começar em um ponto para acertar as tecnologias necessárias para que essa câmera monitore 24 horas. A ideia é implantar câmeras em 9 locais dos 42 km do perímetro urbano do município. Hoje chegamos a gastar R$ 60 mil por mês com mão de obra e hora/máquina para limpar esses 42 km. Esse sistema de monitoramento vai custar menos de um terço disso, ou seja, tem a viabilidade econômica. O sistema também terá o caráter educativo a partir do bolso de quem cometer a infração. Acreditamos que o uso do sistema durante dois anos conseguiremos promover a educação necessária para evitar esse descarte irregular. Temos o programa de educação ambiental com as crianças nas escolas da rede municipal para tentar formar um cidadão mais consciente, mas o resultado é de médio e longo prazo e precisamos solucionar esse problema a curto prazo pensando na qualidade de vida da população.

A coleta seletiva de lixo tem produzido bons resultados?
Hoje Fernandópolis consegue coletar cerca de 10 a 20% do reciclável que é gerado. Isso mostra que a população ainda não tem o hábito de separar o material reciclável do lixo comum. Não é ficar separando vidro, plástico, metal, papelão, basicamente é separar o reciclável do lixo comum e colocar na rua para ser recolhido pelo caminhão que passa duas vezes por semana. Essa é uma ação tão importante não apenas para o meio ambiente, mas tem o lado social, o reciclável gera muitos empregos e renda para o município. Só nesta ação, isso já seria extremamente importante no aspecto ambiental e socioeconômico para Fernandópolis.

"A seca acende o alerta. No ano passado os prejuízos passaram de R$ 20 milhões com queimadas. Foram 500 hectares de florestas destruídas"

A nossa região já enfrenta mudanças climáticas nos últimos anos e agora mesmo estamos vivenciando uma seca histórica. É resultado das agressões ambientais?
Não tenho dúvidas. Nós trabalhamos num plano para deixar Fernandópolis um pouco mais resistente a essa questão das mudanças climáticas e temos um estudo simples com dados dos últimos cinco anos. Comparando com o histórico de dados que temos, em Fernandópolis houve um aumento de 26% de chuvas com intensidades acima de 100 milímetros em três dias e de mais de 40% em frequência de 40 dias sem chuva. Em 2020, por exemplo, choveu 65% do que deveria ter chovido na média e este ano, até agora, choveu apenas 45% do que deveria ter chovido. Isso acende o alerta e uma preocupação grande, porque no ano passado tivemos mais de 2 mil hectares queimados com prejuízos que passaram de R$ 20 milhões, foram 500 hectares de florestas destruídas por incêndio e esse ano já começou muito ruim na questão da estiagem e se a população não tiver consciência de não descartar resíduos em locais inadequados, não brincar com fogo, esse número pode ser muito pior este ano, infelizmente. E nós ainda não estamos preparados para combater incêndios de grandes dimensões, porque nossa infraestrutura, dependendo de onde ocorrer o incêndio, há a demora para chegar e os caminhões de bombeiros que chegam a esses locais precisam ser abastecidos, porque tem capacidade de 5 a 20 mil litros, isso não é nada na hora de combater um incêndio.


"Para cada 1 real que se investe em resiliência climática, você vai economizar de 5 a 8 reais para repor o que foi destruído em incêndio, inundação"

Como andam os projetos de recuperação da mata atlântica e da arborização urbana?
O plano de arborização urbana tem uma meta audaciosa que é em 12 anos promover uma cobertura de 20% do município. Estou falando de área urbana, de área de copas de árvores, não estamos falando de praças e avenidas. Somando isso, poderemos atingir 50%. Para a gente atingir essa meta em 12 anos precisamos plantar uma média de 12 árvores por dia e estamos conseguindo manter essa média. Esperamos ao final desse período ter atingido o objetivo. Isso é importante para manter a resiliência climática. O que significa isso? Significa que o município estará mais resistente a esses eventos extremos mais frequentes de estiagem ou de chuvas intensas, temperaturas altas. Para cada um real que se investe em resiliência climática, você vai economizar de 5 a 8 reais para repor o que foi destruído em incêndio, inundação. O plano de mata atlântica também tem uma meta audaciosa que em 100 anos tenhamos 20% da área do município com vegetação. Parece pouco, mas 20% da área do município é algo em torno de mais de 10 mil hectares. Hoje nossa área de vegetação nativa não chega a 4 mil hectares. São mais de 6 mil hectares que precisamos restaurar São metas audaciosas, mas que tem viabilidade econômica.

E o projeto da primeira reserva natural?
Estamos trabalhando nesse processo para criação da primeira reserva natural do patrimônio de Fernandópolis, um fragmento de vegetação nativa de 150 hectares (na região do Ribeirão Jagora com acesso pela vicinal Carlos Gandolfi, a 10 km da cidade) e que vamos transformar em unidade de conservação, a única num raio de 300 km, que será licenciada para uso de ecoturismo onde a população poderá ter um contato mais próximo com a natureza, além de local para preservar fauna e flora.

O fernandopolense está ansioso pela recuperação da represa municipal. Como anda o desassoreamento?
Já atingimos de 55% a 60%. Esperamos finalizar, se tudo correr bem e não ocorrer nenhum percalço, até final de julho. Falo com muita tranquilidade que na história de Fernandópolis foi o maior projeto de recuperação ambiental que o município já teve pelas dimensões da represa.

Como está sendo o atendimento ao público nesta pandemia?
No momento não estamos fazendo o atendimento presencial. Doações de mudas, disk árvore e pedidos de cortes de árvores com motivação, estamos fazendo atendimento online. No site da prefeitura tem todos os formulários eletrônicos que podem ser preenchidos. Quando é doação de muda, o munícipe pode indicar o horário e o dia para retirada. É uma forma de manter o nosso trabalho seguindo as regras de biossegurança. Temos também nosso e-mail para pedidos, informações, reclamações, sugestões (smafernandopolis@gmail.com) e telefone do disk árvore 3463-9014.

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