Observatório

Desenganada por médicos, Precinott quase quebra tradição de 18 anos



Desenganada por médicos, Precinott quase quebra tradição de 18 anos
Há 18 anos, a autônoma Irene Precinott, 67, distribui brinquedos às crianças carentes, no primeiro dia de cada ano, na porta de sua casa, situada na região central de Fernandópolis. Só neste ano, foram distribuídos 1000 brinquedos, além de muitas balas e pirulitos.

Os brinquedos de Irene se tornaram uma tradição na cidade. A fila dos que esperam pelo presente é tão grande, que a rua de sua casa precisa ser interditada. Muitos dos que compunham este grupo já deixaram de ser crianças: uma vez ou outra, quando se deparam com Dona Irene, a reconhecendo indagam: “A senhora não é aquela que dá presentes?”.

Em 2009, Irene quase foi obrigada a quebrar a tradição, depois de ser, como diz, “desenganada” por médicos, devido a um problema de coração detectado em maio de 2008. Sua saúde nunca mais foi a mesma, segundo conta.

“Eu fui desenganada pelos médicos depois que uma veia do coração foi obstruída. Tive que fazer uma cirurgia às pressas e colocar um aparelho que custou, a princípio, R$ 14 mil, mas por não estar bem, fui internada novamente e gastei mais R$ 16 mil. Fiquei 14 dias respirando com auxílio de aparelhos. Todos achavam que eu não voltaria para casa. Antes da cirurgia meu coração trabalhava apenas 5%, segundo os médicos, agora trabalha 29%. Minha saúde nunca mais foi a mesma, achei que este ano não daria conta de fazer a festa”.

O dia mais feliz da vida de Irene é o dia de ano novo. Este ano, seu sonho pôde mais uma vez ser realizado. “Meu prazer é ver o sorriso das crianças, um pouco no colo das mães, outros no chão, correndo, brincando felizes. É o dia mais feliz na minha vida”, disse Precinott.

Às 5h, no dia de ano novo, Irene já estava acordada. A primeira providência foi preparar o café da manhã para os voluntários que a auxiliam durante a festa. Com a ajuda do “Papai Noel” e de vários “palhacinhos”, os primeiros presentes iam sendo entregues às crianças que, ansiosas, aguardavam pelas “boas festas de ano novo”.

O ato solidário de Irene Precinott não gera apenas alegria e satisfação nas crianças, mas aguça a curiosidade de seres tão pequenos que, sem se conter, por vezes disparam perguntas inusitadas, como: “Você é casada com o Papai Noel?”.

Cenas como essa têm feito com que Irene dê continuidade ao seu trabalho, ainda que com a saúde tão comprometida. A esperança que acalenta seu coração é saber que, enquanto ela agracia aos “pequeninos”, há um ser superior que toma conta de sua vida.
Observatório