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“Deus me deu uma nova oportunidade de vida”



“Deus me deu uma  nova oportunidade  de vida”

Segunda-feira, 8 de fevereiro, o médico Avenor Bim voltou ao seu consultório médico, após quase 90 dias de tratamento da Covid. A foto, de jaleco e com o estetoscópio, era o marco de uma volta à vida.

“Retorno hoje, meu primeiro dia de trabalho pela manhã. Obrigado Deus pela vida e aos amigos pelas orações e a corrente do bem. Sintam todos abraçados por mim”, escreveu.
O médico aceitou relatar nesta entrevista ao CIDADÃO os 90 dias em que ele, e a esposa Ana Bim, lutaram contra um inimigo comum: o Coronavírus. Desses 90 dias, 21 ele passou intubado, “desligado do mundo”.
Avenor e a esposa Ana Bim testaram positivo para a Covid-19, logo depois das eleições de 15 de novembro. O médico foi candidato a vice-prefeito na chapa de Henri Dias. A partir dali o casal e a família enfrentaram dias difíceis. Da internação de ambos, a intubação, a transferência para São Paulo e a cura, se passaram cerca três meses. De volta ao trabalho o médico relatou: “Deus me deu uma nova oportunidade de vida, que considero verdadeiro milagre”. 
Diz ainda que o amor da família, as orações dos fernandopolenses e atenção dos profissionais da linha de frente nesta guerra contra a Covid, foram o melhor remédio. Leia a entrevista:
Após 90 dias de tratamento da Covid, o senhor retornou ao trabalho no seu consultório. Qual foi a sensação?
Deus me deu uma nova oportunidade de vida, que considero um verdadeiro milagre, pois acredito que Ele tem algum propósito para mim, que eu poderia chamar de “missão”. Existia muitos trabalhos pendentes e me sentindo melhor, tive a sensação de poder começar a cumpri-los.
O senhor e a esposa Ana Bim testaram positivo para Covid-19 após a campanha eleitoral. Primeiros os sintomas, depois a internação. Como foram esses momentos?
Apesar de todos os cuidados durante a campanha e com os atendimentos clínico como médico, profissional de saúde que sempre atuei, em novembro, comecei sentir febre, certa falta de ar e mal-estar, porém preocupado com a Covid, fizemos o teste do cotonete (PCR). Ao sair o resultado, fizemos a tomografia, que no meu caso deu mais ou menos 50% do comprometimento pulmonar e o da Ana, em torno de 25%, porém pouco sintomáticos, resolvemos fazer o tratamento domiciliar. Posteriormente com piora do quadro e saturação de oxigênio baixa (por volta de 84%), foi necessário a internação, pois como médico sabia que o período crítico ainda estava por vir. Como a Ana ainda estava melhor, não internou nesse momento.   
Como médico, o senhor imaginava passar pela fase mais grave e aguda da doença? 
Não, o quadro foi piorando, mesmo com oxigênio e a ventilação pulmonar não invasiva (VNI), quatro dias após, fiz nova tomografia e o pulmão já tinha um comprometimento de mais de 90%, portanto, quase todo tomado pela infecção viral e pelo processo inflamatório decorrente da doença, só restava a intubação para poder manter vivo.

"A vida não tem preço, se Deus nos permitiu viver é porque temos ainda muito o que fazer"

Durante a intubação o senhor manteve a consciência? Tinha informações do exterior, do que estava ocorrendo também com sua esposa Ana Bim?
Não, eles sedam e a partir desse momento “desligamos do mundo”, ou seja, não temos mais consciência de nada, fiquei 21 dias intubado, perdendo a força muscular e com algumas intercorrências no caminho. Porém, por milagre não foi preciso fazer a traqueostomia. Em relação a minha esposa, fiquei sabendo antes de ser intubado que ela tinha piorado e internado, apenas isso.
Quando deixou a UTI em São Paulo, qual foi a primeira coisa que desejou fazer?
Agradecer a Deus pela vida e por ter uma nova chance de estar com minha família, poder realizar alguns sonhos e continuar servindo a população como sempre fiz, com amor e carinho. 

Ana Bim e Avenor Bim no dia 8 de janeiro: o retrato do renascimento

Em algum momento, o senhor teve a sensação de risco de morte?
Em momento algum, que me lembro, pensei na morte, apesar de ser a única certeza. Porém sabendo que esse vírus é novo, pouco se sabe ainda dele e a maioria das perguntas ainda são obscuras, depende da resposta imunológica de cada um e da virulência. Confesso que sempre tive esperança de viver, e após extubação, (retirada do tubo), fiquei numa fase de otimismo e senti que estava caminhando para uma boa recuperação.
Hoje, olhando para os últimos 90 dias, tudo que o senhor e a esposa passaram, o que mudou no olhar para o mundo?
Em primeiro lugar a vida não tem preço, se Deus nos permitiu viver é porque temos ainda muito o que fazer. Numa reflexão de vida, devemos ver o nosso próximo com mais amor, solidariedade, companheirismo e empatia com o próximo, pois somos todos iguais perante o Pai e Ele sabe o que melhor pra nós.

"Em momento algum, que me lembro, pensei na morte, apesar de ser a única certeza"

Em uma postagem nas redes sociais, o senhor fala do medo, angustia, debilidades física e emocional durante a doença e da Superação. Qual a dimensão do significado dessa palavra, SUPERAÇÃO, hoje para o senhor? 
Como médico e paciente, sabia do comprometimento dos pulmões e sentia a gravidade do quadro, a debilidade física, com fraqueza muscular, dificuldade para andar, dieta restrita, dependência de oxigênio para respirar e dos outros para realizar qualquer atividade; isso me preocupava, a única maneira era manter a força, coragem e enfrentar o problema com determinação; por isso fiz a postagem nas redes sociais para levar a mensagem da superação as pessoas e que acreditem que tudo é possível. Aproveito para agradecer meu fisioterapeuta (Gabriel), que após a alta me atendeu e foi responsável na recuperação precoce que tive. 
Fé em Deus, o amor da família e as orações dos fernandopolenses, foram o melhor remédio?
Sem dúvida foram excelentes como remédio, pois está escrito: “pedi e receberás”. As orações são as melhores formas de pedir e, se merecemos, será atendido. Mas não posso aqui também deixar de agradecer em público a todos os profissionais de saúde da Santa Casa que me deram todo o suporte inicial e porque não dizer, a VIDA. Destaco alguns nomes da equipe: Drs. Márcio Caggini, Pablo, Mauricio, Fernando Bertuci, além dos médicos da UTI Covid, enfermeiros, técnicos, fisioterapeutas, colaboradores da limpeza; peço desculpa se deixei de mencionar alguém, mas fica a minha eterna gratidão a todos. O que mais desejo a eles é que Deus dê muita proteção e saúde, pois são verdadeiros heróis e foram muito bem elogiados pela equipe multidisciplinar do Hospital Albert Einstein.

"Peço à população que acredite na vacina, pois é a única esperança para o momento"

Qual a mensagem o senhor deixaria aos fernandopolenses e aos profissionais de saúde da linha de frente, neste momento que a vacina surge como esperança de vitória sobre o vírus?
Não existem outras palavras a não ser a prevenção, como já muito divulgado e vale relembrar: uso de máscara, distanciamento social, uso e álcool gel.  Precisamos acreditar que esse “fantasma” real, chamado CORONOVIRUS, não escolhe as pessoas. Quanto mais se expõe, maior é a chance de ser contaminado e levar para dentro de casa e qual será o resultado? Deus poupou eu e Ana Bim e somos eternamente gratos por vencermos essa luta. Peço à população que acredite na vacina, pois é a única esperança para o momento, porém até vacinar toda população, ainda vai demorar um pouco para retornarmos a “normalidade”. Quero deixar aqui mais uma vez registrado aos profissionais de saúde, verdadeiros heróis, que Deus lhes pague e derrame benções de saúde, equilíbrio emocional para saber suportar as perdas, assim como todas as famílias destroçadas pela perda dos entes queridos, pois somente Ele para confortar e fortalecê-los.

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